O GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas) promove a cada 2 anos o congresso GIFE, evento que discute o Investimento Social Privado (ISP) e reúne investidores sociais, consultores, gestores de organizações da sociedade civil, acadêmicos, representantes de governos e diversos outros profissionais do Brasil e de fora do país para ouvirem e dialogarem sobre temas de relevância do setor.
Investimento Social Privado é o repasse voluntário de recursos privados de forma planejada,monitorada e sistemática para projetos sociais, ambientais, culturais e científicos de interesse público.
Em sua 10° edição que rolou no comecinho de abril, o congresso teve 3 dias de programação e contou com quase mil participantes para pensar quais as contribuições do ISP para a formação de novas agendas e convergências no país. O tema que permeou todos os debates do evento foi: “Brasil, democracia e desenvolvimento sustentável”.
Foram quase 200 palestrantes, 48 mesas, 80 horas de palestras e debates e muito conhecimento compartilhado. A Nossa Causa estava presente para reunir todos esses insights e aprendizados para dividir com você!
Mas qual é o meu papel diante dessa temática?
Talvez você tenha se feito essa pergunta. Afinal, de que forma eu posso contribuir com o desenvolvimento desejado para o Brasil? Como podemos coletivamente pensar e desenvolver soluções para uma nova agenda pública comum? Esta não é uma tarefa de nenhum ator ou setor em particular, mas de toda a sociedade brasileira. Todos devemos refletir de que forma podemos contribuir com essa construção: somando recursos e práticas de atuação, ajudando a fortalecer nosso tecido social e canais de ação coletiva, mobilizando energias e competências para a produção de soluções novas na nossa pauta social, política, econômica e ambiental.
Estamos todos em busca de uma sociedade mais justa e democrática. As organizações e o investimento social têm um papel fundamental nesse processo, mas seja você um voluntário, gestor, investidor ou um agente de transformação social saiba que todos temos uma função importante dentro desse ecossistema.
Por isso, se você não pôde comparecer no congresso GIFE não se preocupe, a gente anotou todos os aprendizados das palestras que assistimos para compartilhar com você:
1. Quando o Investimento Social Privado (ISP) é alinhado ao negócio, seu poder de transformação social pode ser muito maior
Quando uma empresa investe em uma organização com uma causa alinhada ao negócio, os benefícios desse alinhamento geram valor compartilhado e equilíbrio entre a missão do negócio e o impacto social.
Nessa mesa foram apresentados alguns indicadores de geração de valor compartilhado (tanto para empresa quanto para a sociedade).
Geração de valor para a sociedade:
- Construção do público – fortalecer o exercício pleno da cidadania
- Capital social – capacidade de pessoas e organizações sociais de acessar parcerias, conhecimentos e recursos para acessar os objetivos pessoais e institucionais
- Capital humano – empoderamento dos atores para sua participação com iniciativa e poder nas dinâmicas do desenvolvimento local, regional e nacional
- Capital institucional – consolidação de conquistas
Geração de valor para a empresa:
- Cultura organizacional – o investimento social e a forma como ele é efetivado contribuem para o alinhamento às atitudes da empresa
- Funções organizacionais – desenvolvimento pessoal e profissional dos empregados, acesso a bons profissionais, relacionamento com o público externo e comunicação e relações com a comunidade
- Percepção de geração de valor
- Licença social para operar – legitimidade, confiança interpessoal, confiança institucional e co propriedade
A reflexão final deixada aos investidores foi: “o que a sua empresa precisa fazer para gerar mais benefícios para a sociedade?”
2. Qual é o propósito da sua instituição? Qual é o impacto que ela gera?
Giuliana Ortega (Diretora Executiva do Instituto C&A) trouxe como exemplo o propósito do Instituto C&A: “Fazer da moda uma força para o bem”, apresentando as estratégias de seus projetos para gerar mais impacto através de um estudo do cenário da moda.
Ela ressaltou a importância das organizações realizarem um diagnóstico das necessidades da comunidade atingida pelos seus projetos para alinhar isso aos objetivos de geração de impacto da organização da sociedade civil (OSC).
3. De que forma o jovem pode ter uma atuação mais protagonista no processo de transformação social? Quais as soluções para os problemas que atingem o jovem em situação de vulnerabilidade?
A educação foi um dos principais pilares do debate, já que é através dela que construímos jovens melhores para o futuro e cidadãos mais preparados para fazer parte da transformação.
Foram levantados muitos problemas enfrentados atualmente como: índice de suicídio por hora, adolescentes que engravidam e permanência na escola gerando discussões no público sobre de que forma podemos dar condições sociais, emocionais e políticas para que o jovem tenha a capacidade de fazer escolhas e obter oportunidades em sua trajetória de vida para estar em contrapartida com esses problemas alarmantes.
Como resposta a esses dados foi citado o Relatório da Unesco sobre Educação para o século XXI, que aborda assuntos como: os 4 pilares da educação, a educação ao longo da vida, crescimento econômico, desenvolvimento humano, dentre outros.
Além disso, a organização Engajamundo levantou o questionamento: “Porque estamos discutindo sobre o jovem sem que ele esteja inserido nesse debate?” Precisamos incentivar e empoderar o jovem a dar voz às suas causas.
4. Que país nos cabe construir adiante, e quais os nossos maiores potenciais e obstáculos para chegar a ele?
Luiza Helena Trajano, Djamila Ribeiro, Eduardo Gianneti, Paula Miraglia, Joaquim Falcão e André Baniwa foram os convidados desse debate para apresentar seus diversos pontos de vista sobre quais são as prioridades e visões de futuro para o nosso país.
Paula Miraglia, jornalista que mediou o debate, deu início levantando a reflexão de que: ”vivemos em um tempo onde ganhar um debate é mais importante do que a discussão”. Apontando a necessidade de conhecimento daquilo que defendemos e falamos.
Em seguida o economista Eduardo Giannetti apresentou alguns problemas que enfrentamos na relação com o poder público: saúde, alfabetização, relação do estado com a sociedade… apontando o dado de que “40% da renda total brasileira está com o poder público” e enfatizando a importância de buscarmos mais atuação na área da política e da economia.
Luiza Helena Trajano, empresária da Magazine Luiza e uma das poucas CEOs mulheres da América Latina citou: “Eu só acredito que o Brasil vai dar certo quando a gente parar de dividir: esquerda, direita, branco, preto…” E fechou sua fala convidando toda a sociedade civil a fazer um planejamento estratégico para os próximos 10 anos, de maneira mais unificada, trabalhando junto pelo desenvolvimento, apenas das diferentes causas.
André Baniwa, representando a Organização Indígena da Bacia do Içana, falou sobre a defesa dos direitos dos povos indígenas e o valor cultural, social e medicinal do seu povo. Enfatizou a importância da valorização dos índios e a riqueza cultural que eles trazem para o país.
Djamila Ribeiro, mestre em filosofia política e uma das principais referências no movimento feminista negro, falou sobre a atuação dos negros na sociedade: “A nossa luta é para que as diferenças não signifiquem desigualdades.” E fechou sua palestra dizendo que o racismo é um problema de todos nós. O machismo é um problema que deve ser enfrentado por homens e mulheres e que as questões de gênero e raciais devem ser transversais a toda e qualquer questão social.
Para encerrar esse debate que veio carregado de conhecimento e reflexões, Joaquim Falcão, ex conselheiro do Conselho Nacional de Justiça, falou sobre recuperarmos o sentimento de justiça que nos une e permite conviver, reiterando: “O Brasil está se apropriando do conceito e da aplicação da justiça”.
5. Buscar novas soluções que garantam a todos os brasileiros não só os direitos assegurados em nossa Constituição, mas também avanços na qualidade de vida, bem-estar e redução das desigualdades é certamente um dos compromissos do investimento social privado
Nessa mesa foi falado muito sobre incorporar um mindset de inovação em busca de novas maneiras de lidar com problemas complexos.
Produzir um ISP mais inovador demanda não apenas a incorporação de um novo olhar, mas também de novos usos de dados e informações, da articulação com diferentes stakeholders, novas maneiras de lidar com o risco e de se relacionar com o público alvo ou com a temática do projeto.
Saulo Barretto, co-fundador do Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação (IPTI), explicou que complexo não é complicado. A falha é parte fundamental do acerto. E perspectiva de longo prazo requer aceitação de riscos. Além disso ele indicou duas referências para se aprofundar no que foi dito em sua palestra: Dan Palotta – A maneira como pensamos em caridade está totalmente errada e o livro “Socialismo para milionários” de Bernard Shaw.
Lucia Dellagnelo, Fundadora do ICOM – Instituto Comunitário Grande Florianópolis e co-fundadora do Social Good Brasil, trouxe as “4 estratégias para grandes sistemas de mudanças”, de Steve Waddel, apresentando a matriz:
Para explorar e entender mais sobre a matriz, clique aqui.
Pra fechar, Lucia citou os pilares de um cidadão inovador:
- Conhecimento específico
- Pensamento crítico
- Capacidade de colaboração
- Conexão com outras ideias
Ela também deixou uma referência: o livro “De onde vem as boas ideias?”, de Steven Johnson.
Anna Penido, diretora do Inspirare, instituto familiar cuja missão é inspirar inovações para melhorar a educação brasileira, trouxe uma incrível colaboração dos 10 mandamentos da inovação no investimento social desenvolvida de acordo com sua própria experiência na área. Clique aqui e confira!
Para fechar o debate, o mediador Américo Mattar, presidente da Fundação Telefônica, acrescentou: “O maior inimigo da inovação social é a vergonha: falta perguntar antes de executar o projeto”.
Continue nos acompanhando aqui para ter acesso a parte 2 de aprendizados do X Congresso GIFE.