O momento agitado da cidadania brasileira só reforça a minha convicção de que não podemos deixar nossos valores e uma vida coletiva de lado! Construir uma democracia melhor sempre será dever (e direito, olha que legal!) de todos os cidadãos. Nos últimos anos trabalhei, participei e observei grupos cívicos, formados para defender uma causa comum. Acompanhei nascimentos, amadurecimentos e dissolvimentos de grupos diversos.
No intuito de estimular mais pessoas a agirem pelas suas causas (e deixarem de ser leitores de títulos, pessoas que se irritam, formam uma opinião e xingam muito nas redes sociais com base em apenas uma versão reduzida da história sem gerar nenhum impacto positivo na sociedade), deixo aqui alguns aprendizados que tive com esses grupos, a partir de quatro barreiras comuns para quem quer se mobilizar por uma causa (duas hoje e duas na próxima coluna).
1. Estar desinformado sobre a sua causa
Se você tem uma causa, deve se lembrar que sempre correrá o risco de ter um olhar enviesado sobre ela. Afinal de contas, é a SUA causa e você não quer vê-la ruir. Porém, para que te respeitem e você consiga avanços em seu trabalho, é fundamental conhecer o que se passa naquela área pra além dos seus gostos e desejos: hoje e bem antes de você pensar em se mobilizar por isso, provavelmente alguém (ou muitas pessoas) já fez algo nesse sentido.
Isso é importante para você defender de fato uma causa, e não uma crença pessoal, e também para poder dialogar com pessoas que já estão nesse caminho, criar parcerias, e etc. Por isso, duvide de todos os seus pressupostos, converse com pessoas da área (inclusive as que pensam diferente de você) e pesquise, pesquise e pesquise.
- Por exemplo, quer trabalhar para melhorar a educação? Não deixe de pesquisar sobre os nossos grandes pedagogos e educadores (Paulo Freire, por exemplo, é essencial, e também Tião Rocha e Mário Sérgio Cortella), sobre a evolução de nossas políticas públicas (busque sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais, Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação) e conheça um pouco dos indicadores (IDEB, que você pode consultar no site do INEP/MEC e escolaridade, que você também pode acompanhar no site do IBGE, no SIDRA) e, claro da evolução histórica desses indicadores.
2. Perder o foco da visão comum
Descobrir uma causa, em amplo espectro, nem sempre é algo difícil. Por exemplo, quantas pessoas você conhece que são a favor de uma cidade poluída? Na prática, porém, é muito comum vermos pessoas que vivem grandes conflitos em prol de uma mesma causa. Isso porque da mesma forma que cada um tem uma versão diferente sobre uma mesma história, na hora em que grupos se reúnem para desenhar e executar projetos visando fortalecer uma causa, é comum que as diferenças internas comecem a aparecer.
E aí, mesmo que você e seu grupo sejam a favor de uma cidade limpa, podem acabar pondo o grupo todo a perder pela divergência sobre como se obter essa cidade limpa. As discussões sempre são válidas e enriquecedoras, mas é nessa hora que muitos grupos falham: se apegam às divergências que os separam e não às afinidades que os uniram, criando um conflito difícil de ultrapassar.
- Atenção: algumas divergências são mesmo inconciliáveis por violarem os valores de parte do grupo e nesse caso é melhor que o grupo se divida para recomeçar. Muitas outras são apenas questão de aquietar o ego e não querer ter razão em detrimento de favorecer a coletividade.
As outras 2 barreiras você verá na próxima semana, na continuação desse post. Fique ligado!