Continuando a coluna da semana passada, compartilho aqui mais duas barreiras que podem prejudicar o desenvolvimento da mobilização da coletividade.
1. “Somos muito poucos”: não acreditar no valor de sua causa
Já ouvi isso em vários grupos no estágio inicial de mobilização por sua causa: reclama-se pela falta de apoio institucional (de políticos ou empresas, por exemplo) e até pela falta de integrantes em um grupo. Em alguns casos, isso desmotiva inclusive os grupos iniciais de continuarem seus caminhos.
O maior caso de sucesso nesse sentido que conheci foi da dona Valdete, fundadora do Grupo Cultural Meninas de Sinhá e líder comunitária no Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte. Dona Valdete sempre trabalhou pela melhoria da vida comunitária do Alto Vera Cruz e para iniciar as Meninas de Sinhá levou um ano de convites diários às mulheres que ela via paradas na porta do posto de saúde apenas para conseguir reunir 50 mulheres em uma reunião. Ou seja, mais de 250 convites até conseguir um quórum que achou aceitável. Dona Valdete nunca teve dúvidas da importância de sua causa. Ver a dificuldade em atrair mais pessoas para se unirem a ela não minimizou a sua causa – apenas reforçou a importância de se engajar por ela – já que seu próprio público-alvo andava desacreditado de si mesmo.
Lembre-se que poucos grupos vão pra frente se não há algumas pessoas perseverantes nessa causa. Tem pessoas que passam anos batalhando praticamente sozinhas até verem suas causas serem alardeadas pelo mundo todo. E, se você desistir de sua causa simplesmente por falta de quórum, pode ficar com aquela sensação de “sempre concordei com isso! Porque não trabalhei pra isso quando senti que isso podia ser diferente, há cinco anos atrás?”
2. Achar que o caminho é curto
Por mais que sua causa seja super popular e tenha vários adeptos e seu grupo super organizado, afinado e com recursos (cenário perfeito!) o caminho é longo! Afinal de contas, estamos falando, na maioria das vezes, em mudanças culturais – as mais difíceis do mundo. Para promover mudanças culturais é necessário dedicação constante, escuta atenta, abertura para dialogar com pessoas diferentes, flexibilidade para mudar a própria postura (e inclusive a própria opinião) e perseverança sempre.
Não acredite quando te disserem que o mundo está perdido ou que se uma situação está crítica até hoje (considerando toda a história da humanidade) ela será assim para sempre. Se a causa é genuína, trabalhe por ela como conseguir. Tente de novo. Reformule. Seja paciente. Até porque, a alternativa para isso é se frustrar por não ver resultados rápidos, desistir e se frustrar novamente lá na frente por não ter ido adiante com os seus valores. Escute os seus valores e o que faz sentido para você quando pensa em uma sociedade melhor. Nada nasce pronto e tudo tem seu tempo concepção, gestação, amadurecimento e florescimento. Não se esqueça disso!