Um vídeo promovido pela maior comunidade LGBT da Espanha mostra dois turistas gays americanos procurando um hotel em Madri. Eles têm nas mãos uma carta escrita por um dono de hotel, assumidamente homofóbico que indica outros hotéis que não o dele. Os turistas não falam espanhol e, portanto, não entendem o conteúdo da carta, muito menos seu teor preconceituoso. No entanto o acolhimento dos madrilenhos é impressionante, tentando ajudar os turistas e sugerindo até uma denúncia contra a atitude do sujeito.
Apesar das barbaridades que presenciamos ainda hoje, é correto afirmar que a sociedade vive um momento de transição intensa, onde o preconceito em muitas partes do mundo passa a ser identificado como mazela social. Ainda há injustiças relacionadas a cor da pele, etnias, sexo e orientação sexual, mas a sociedade evolui mais a cada dia, ainda que lentamente, e já questiona esse comportamento mais do que já questionou em qualquer outro momento de sua história.
Pense que se há vinte anos uma cena dessas ocorresse, uma parcela muito pequena das pessoas iria atender os turistas com a mesma hospitalidade.
Sim, já houveram momentos na história da humanidade em que era sinônimo de refinamento e bons costumes ostentar antipatia por determinadas classes ou pessoas. Ser racista, machista, homofóbico já foi uma espécie de convicção que inspirava certo respeito em boa parte da sociedade. Mas os preconceitos cada vez mais estão sendo isolados em pequenos grupos ou pessoas que preferem ficar nas sombras, exercendo discretamente suas crenças depreciativas.
Não é difícil perceber que hoje vivemos um momento de intensa transição, onde a coragem de grupos discriminados ainda enfrenta o choque dos conservadores e seus ideais centenários, provindos de limitações de cunho psicológico ou tradicional. É certo que a próxima geração encontrará um cenário muito diferente do que vemos hoje em termos de preconceito e mais diferente ainda do que víamos há vinte anos.
Temos também que encarar a realidade de que o preconceito é uma espécie de subjugamento e, portanto, subjugar é uma necessidade quase fisiológica na sociedade. Em todos os momentos de sua história a sociedade sentiu a necessidade de subjugar outros povos, raças, naturezas e opiniões. É como se fosse uma necessidade de se sentir superior a alguma coisa.
Sentir-se acima de alguém é não admitir que nunca estamos acima de nada e, para muitas pessoas, essa ideia de ser igual a todo mundo provoca frustração ou um sentimento de fracasso com a própria vida. Um sentimento absurdo para quem é livre da sorrateira doença do preconceito que, muitas vezes toma algumas pessoas sem que nem elas mesmas percebam, pensando, inclusive que são éticas ou exemplares em defender suas convicções.
Felizmente uma parte considerável da sociedade hoje está disposta a identificar e isolar preconceitos. Espero, portanto, que não seja mero otimismo acreditar que um dia ainda os preconceitos serão erradicados, dando lugar aos reais problemas que assolam o mundo hoje.