Há algum tempo atrás eu não imaginava que um dia teria animal de estimação, pois acreditava que eles só me trariam trabalho e sujeira, não tinha muita paciência e acreditava também, que eu não teria tempo pra cuidar.
Mas um dia resolvi que daria para minha filha mais velha, Manuela, um cachorrinho de presente de aniversário. Este cachorro morava no sítio de meus pais, andava dando trabalho por lá por causa de seu hobby: matar filhotes de carneiros. Matava e não comia. Resolvi então que o traria pra casa, pois ajudaria no problema dos carneirinhos como também proporcionaria alegria para Manuela, pois ela ama animais.
Assim, trouxe Pitoco pra morar com a gente aqui na cidade, e em pouco tempo ele se adaptou à sua nova morada e com seus novos donos, eu e minhas duas filhas.
Depois de dois anos Pitoco ganhou uma irmãzinha, a gata Morgana, ela encontrava-se perdida no quintal do Stúdio de Pilates onde eu trabalhava. Tinha a intenção de arrumar alguém que a adotasse, mas acabei não tendo coragem de doá-la pra ninguém, adotei eu mesma.
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Nos primeiros dias o exclusivo dono do quintal, Pitoco, não gostou muito da nova integrante da família, a gata Morgana, mas aos poucos foi se familiarizando, e hoje os dois brincam e já se adaptaram à realidade da casa. Pitoco e Morgana hoje são meus companheiros, e posso dizer que aprendi a amá-los, aprendi a expandir a minha capacidade de amar. Minhas filhas os adoram, Isabella é a escolhida por Morgana, a gata ama deitar na sua cama, quando ela some pode saber que está repousando na cama da Isabella.
Adoção de animais hoje é uma realidade muito presente nas cidades, são comuns as feiras de adoção de filhotes de cachorros ou gatos ou alguém doando filhotes que nasceram. Há também vendas de animais de raça. Assim, animais de estimação é uma realidade que veio para beneficiar e auxiliar tanto os donos quanto os animais adotados ou comprados.
Adoção de animais
Procurando sobre adoção de animais descobri um texto de Zulmira Furbino (2014), em que Zulmira cita o professor de antropologia Jean Segata, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Diz Jean que, desde a década de 90, o elo entre bichos de estimação e seus donos deixou de ser discussão exclusiva dos veterinários e está cada vez mais forte.
Hoje já se discute as transformações sociais, culturais e biológicas que a interação entre pessoas e seus bichos de estimação podem causar, mas o professor também diz que a ciência tem analisado tanto os excessos com que os bichinhos são tratados quando se tenta humanizá-los, quanto os incontestáveis benefícios que essa interação pode proporcionar para o ser humano, como, por exemplo, no auxílio à recuperação e tratamento de muitas doenças.
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No mesmo texto de Zulmira encontra-se a opinião de Claúdia Prates, psicoterapeuta de família. Ela diz que o amor de um animal tem uma grande vantagem: ele não desaponta as pessoas.
Depois que um animal escolhe seu dono ele é absolutamente leal e estável, características impossíveis de ser encontradas nas relações humanas. O animal nos acompanha sem cobranças […] O risco de abandono é zero. – Prates
Tenho uma cunhada, Thais, que teve uma cachorrinha de nome Cindi, da raça Chiuaua. Foi-lhe companheira fiel. Minha cunhada sempre dizia que a Cindi a entendia melhor do que os humanos. Morreu de velhice, a Cindi, mas os benefícios que trouxe foram imprescindíveis para Thais, pois a cachorrinha trouxe-lhe amor incondicional, um elo entre animal e humano que permanecerá como só há de permanecer o que verdadeiro.
Na novela da Rede Globo, Além do Tempo, tem um personagem que todos conhecem como Mestre, interpretado por Othon Bastos. Em uma das cenas, ele ensina para seu pupilo Ariel (Michel Melamed) sobre esse sentimento que transcende o tempo:
O amor com todas as suas formas possíveis é o que importa, nada mais.
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O amor entre o ser humano e animais de estimação
Amor extremo: porque amamos tanto os animais, é um texto da Revista Época do ano de 2013, nele tem uma citação de uma pesquisa realizada por Rebecca Johnson, do Centro de Interação Homem-Animal da Universidade de Missouri. Rebecca analisou em uma de suas pesquisas o aumento dos níveis de serotonina quando existe interação entre o ser humano e seu bicho de estimação. Sabe-se que a falta da serotonina (substância que auxilia na transmissão de informações entre os neurônios cerebrais) é uma das possíveis causas de depressão.
Outro dia, assisti uma reportagem no Jornal Regional de minha cidade noticiando sobre um cachorro, de nome Negão, fazendo vigília na porta de um hospital em Itatiba-SP. Neste hospital estava Olívio Yamamoto, dono do cão, internado com princípio de infarto. O cão não arredou pé de lá enquanto seu dono não teve alta.
O médico responsável pelo tratamento de Olívio, Wagner Tegon Filho, disse que a presença do animal de estimação na porta do hospital era muito importante para a sua recuperação. “O cachorro estando mais próximo do paciente deixa ele mais otimista e responsivo ao tratamento para se recuperar e sair dessa”, disse o médico.
Conheço pessoas que não concebem suas vidas sem animais de estimação. São pessoas carinhosas, que melhor entendem o outro, que têm uma visão de mundo mais humana.
Animais são capazes de tornar os humanos melhores, e os humanos são capazes de tornar a vida destes bichinhos muito mais digna.
Henry David Thoreau (1817-1862), filósofo, poeta e naturalista americano, escolheu viver no campo mais perto da natureza e dos animais. Thoreau chegou à conclusão que pode bem resumir a relação entre Homo sapiens e seus animais domésticos:
Com frequência, um homem é mais próximo de um gato ou de um cachorro do que qualquer outro ser humano.
E mais próximo ficou Rafael Mantesso, artista brasileiro, de seu cachorro da raça Bull Terrier chamado Jimmy Choo, quando sua esposa o abandonou. Rafael conta que no dia em que a ex-esposa saiu do apartamento levou tudo, só deixou seu cachorro Jimmy. O artista, vendo o apartamento completamente vazio e as paredes nuas, teve uma inspiração: fotografar a felicidade de Jimmy diante do vazio.
Rafael pegou uma caneta e desenhou um mundo novo ao redor do cachorro sobre as paredes brancas, e ao fazer isso percebeu uma fonte nova de prazer, um desejo latente de desenhar. Surgiu então uma série de fotografias com variados temas. Confira:
Mais fotos podem ser vistas no seu Instagram, no livro que ele lançou de nome Um cão chamado Jimmy. Os desenhos são incríveis e muito criativos e o livro é uma excelente dica para presentear quem ama esses peludos.
Prefere bicho do que gente?
Acredito que o amor que um animal demonstra por seu companheiro, seja ele humano ou animal como ele, é um exemplo a ser seguido: doação, pureza, carinho, atenção, companheirismo e dedicação. E uma demonstração fiel das infinitas formas possíveis de amar, e isso é o que importa, nada mais.
E para finalizar compartilho um poema de autoria de Raimundo Grossi. Este poema resume bem sobre o tema aqui abordado:
Prefere bicho do que gente?
Bicho é gente
Só não é gente
Na cabeça daquele que não sente
Que o amor deve estar presente
Sempre…em todo o coração ardente
Ó chente!
Todos fomos criados
Por um ser fenomenal
Que por bondade e capacidade magistral
Plantou o amor incondicional
O chenteeee bicho e gente são gente