Nestes últimos dias, o país tem vivido uma das maiores crises políticas desta década. Temos presenciado jogatinas, acordos escusos, negociatas, ofensas, calúnias, escândalos, crimes, infâmia e muitas mentiras. Tudo isso em exposição todos os dias em todos os canais abertos da televisão, imprensa falada e escrita, mídias alternativas e mídias internacionais.
Nossos dias tem sido conturbados com esse bombardeio de informações do qual não podemos nos esquivar, porque dizem respeito a todos nós enquanto cidadãos brasileiros.
Em meio a esta turbulência algumas preocupações tem me deixado inquieta. Como tudo isso tem afetado nossas crianças e nossos adolescentes? O quanto elas tem compreendido deste momento histórico? Como resguardá-las dessa esfera de hostilidade destilada em discursos de ódio, em doses homeopáticas pelos canais de comunicação?
Nas redes sociais, visualizei uma quantidade significativa de posts, usando imagens de crianças, fazendo menção a atual crise política, de forma ofensiva e pejorativa.
Cheguei a ver um post onde uma criança de aproximadamente quatro anos, usando fraldas, estava falando no telefone com a presidenta da república e deferindo hostilidades. Esse mesmo post recebeu inúmeras curtidas, aplausos e risos. Não é da presidenta que se trata aqui, mas do quanto tem se perdido a noção da proteção integral às crianças e adolescentes.
Fiquei me perguntando: porque a pessoa que fez o post não usou sua própria foto como imagem?
Sabemos que nossas crianças são o futuro da nação. Esta frase que deveria representar uma esperança de um futuro diferente, tem me apavorado, considerando que a principal influência para uma criança aprender determinado comportamento é através de um modelo.
O que podemos fazer para evitar que nossa futura geração não receba este legado de práticas imorais, preconceituosas e corruptas que estão marcando esta década em nosso país?
Exemplos para as futuras gerações
Não tenho a intenção de citar uma espécie de “receita de bolo”, porque não é isso o que pode ajudar no momento. Considerando que tratamos aqui de crianças com diferentes influências culturais, diferentes contextos sociais e inseridas em diferentes grupos familiares.
Mas acredito que ajude e muito, lembrarmos aqui, no que cada pessoa representa para uma criança: um modelo.
Então se não queremos que ela olhe em determinada direção, devemos convencê-la a dirigir seu olhar para o outro lado, e nesse caso, um outro modelo. O modelo mais positivo, aquele que produz melhores resultados para o bom desenvolvimento de uma sociedade.
Onde estão os bons modelos? Nas histórias? Na mídia? Nos livros? Na família? Na Escola? Na vizinhança? Dentro de casa? No mesmo universo onde estão os maus modelos!
É preciso ter algum tipo de controle sobre o acesso de nossas crianças e adolescentes à informação, para que possamos orientá-los quanto ao que é bom e ao que é ruim, o que gera a vida e o que impossibilita nossa existência e permanência na sociedade.
Eles necessitam e saem em busca de heróis, ídolos, líderes, amigos. Mas nem sempre conseguem sozinhos identificar os aspectos positivos e negativos daqueles nos quais estão se espelhando como modelo.
Eles irão encontrar os bons modelos, mas talvez não consigam percebê-los ao ponto de referenciarem-se. Precisamos ajudá-los. Lembrando no entanto, que os modelos mais influentes para nossas crianças e adolescentes são as pessoas que cuidam delas, direta e indiretamente.
Quando estão bem referenciados, isso facilita o processo de construção de identidade, aumentando as chances de evitarmos os comportamentos antisociais tão frequentes, principalmente na adolescência.
Não devemos permitir que nossas crianças e adolescentes sejam manipulados ou jogados covardemente, nesta arena produzida pela crise política, tão pouco devemos criar ou repassar posts onde a imagem da criança é usada para veicular discursos preconceituosos e ofensivos.
Precisamos evitar que eles tomem partido, nossa obrigação se restringe a explicá-los sobre o que está acontecendo, quando perguntado a respeito, e orientá-los sempre. Não podemos simplesmente deixá-los que reproduzam os modelos negativos de comportamentos reprováveis, exibidos por diferentes mandatários e empresários do país, em todas as mídias.
É possível contrapor ao que está colocado para elas, confrontando modelos positivos e incentivando-as a reproduzirem boas práticas, para que possam reverter futuramente o caos instalado rumo à ordem e o progresso.
Mas para que isso aconteça, dependerá do quanto estamos dispostos a nos dedicar a acompanhá-las em sua trajetória de desenvolvimento. Crianças e adolescentes precisam de orientação o tempo todo, bem como de atenção, amor, cuidado e proteção.
Não proteger integralmente nossas crianças e adolescentes se configura um crime, de acordo com Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei Federal 8.069/1990, Art.4).
Uma perspectiva positiva de transformação social está concentrada na geração futura, a geração herdeira. Que possamos garantir o direito de que eles façam a diferença e influenciá-los da melhor maneira possível, considerando este desafio como nossa causa!