Como de costume, vamos criar mais uma polêmica. Hoje vi mais um evento em busca de captar recursos para uma instituição anunciado, que, tenho muitas dúvidas se terá resultados satisfatórios devido ao formato utilizado. Era uma feijoada que será realizada no espaço da Instituição Comunitária, pelo valor de R$28,00.
Então eu, o chato, começo a fazer perguntas:
– Por que só R$ 28,00?
– Conseguimos todos os ingredientes de graça e tudo será feito por voluntários.
– Quanto tempo levou para organizar a feijoada?
– Levamos 3 meses, mas tudo foi feito por voluntários.
– Quanto vocês esperam arrecadar com o evento?
– Se tudo der muito certo uns R$ 3.000,00.
– Qual o gasto mensal da Instituição?
– R$ 10.000,00.
– Se não vai pagar nem orçamento mensal porque cobrar só R$ 28,00 e fazer na comunidade?
– Porque se for longe a comunidade não vai e se cobrar mais caro a comunidade não pode pagar.
Vamos refletir juntos, qual o sentido de fazer um evento de captação de recursos, junto à pessoas que não tem recursos e em um local em que as pessoas que tem recursos não vão? Isto sem falar no tempo investido pelos voluntários para no final resultar em uma arrecadação pífia.
Fazer uma feijoada por R$28,00 você está beneficiando quem irá comer a feijoada e não a instituição, pois ousaria dizer que é muito difícil encontrar quem venda feijoada a esse preço.
Quer fazer um evento para a comunidade, faça. Acho muito importante envolver a comunidade no trabalho da instituição, mas não o faça com o objetivo de captar recursos. Neste caso a feijoada deveria ser
com um valor simbólico, já que os princípios do desenvolvimento comunitários nos dizem que nada deve ser gratuito, a não ser em situação de emergência, pois a gratuidade rouba a dignidade humana.
Antes de mais nada vamos ao dicionário:
EVENTO: substantivo masculino
1. acontecimento ger. observável; fenômeno.
2. acontecimento (festa, espetáculo, comemoração, solenidade etc.) organizado por
especialistas, com objetivos institucionais, comunitários ou promocionais.
Por favor, assim como não é qualquer um que pode trabalhar na atividade fim da sua instituição, não é qualquer um que pode organizar um evento como definido no dicionário.
Um evento de captação de recursos deve ter como foco o apoio a instituição e não o que o evento irá realizar. Na verdade, o que o evento proporcionará ao participante é apenas um
reconhecimento da instituição pelo seu apoio, pela sua colaboração.
Depois precisamos escolher um local onde os potenciais doadores costumam frequentar, ou que se deslocariam para lá sem preocupação, se é que existe, hoje em dia, tal lugar.
A seguir precisamos selecionar a quem convidaríamos.
Requisito 1 – Ter recursos – razões obvias;
Requisito 2 – Parceiros Atuais – não se fideliza parceiros desprezando os parceiros antigos;
Requisito 3 – Potenciais parceiros com afinidade com a causa – não atire para todos os lados.
Procure investir no parceiro certo que é aquele que também tem a ganhar com a parceria. Parceria que é boa só para uma parte não dura.
Procure neste evento reconhecer o apoio dos parceiros, pois todos nós gostamos de ser reconhecidos pelo que fazemos. Procure sensibilizar o apoiador atual sem esquecer de sensibilizar futuros apoiadores que saberão que um dia serão igualmente reconhecidos.
Conteúdo é importantíssimo e lhe dá longevidade, mas o que traz mais recursos é a fama. Por isso quanto mais “fenomenal” for seu evento melhor. É fundamental que o evento apareça em todas as mídias possíveis. Assim a instituição será vista não só pelo seu trabalho, mas também por ser grata e dar reconhecimento a quem a apoia.
Muito comum ouvir que isto não faz parte da nossa cultura, o que não é verdade, atualmente já existem vários eventos seguindo este modelo com enorme sucesso. O que não devemos é ficar mantendo a cultura de vender miséria. Quem vende miséria recebe trocado.
Como falo há mais de 20 anos, e consta no meu livro, só se capta recursos investindo recursos. O que precisa ser feito é planejar estrategicamente como investir os recursos disponíveis para captar mais recursos. Por que captar recursos não é vender projetos, mas conquistar parceiros.
E o que conquista parceiros alcança o sucesso!