Tem um homem te olhando. Aperte o passo. Ele está atrás de você. Vire a esquina. Ele continua te seguindo. Ande mais rápido. Mais rápido. Mais rápido. Corra. Shhhhiu, fique quieta. Tem um homem te olhando. Aperte o passo, vire a esquina, corra, mais rápido, mais rápido. Shhhhiu, tem um homem te olhando. Fique quieta. Sempre tem um homem te olhando.
Morreu na contramão atrapalhando o sábado. Notícia nem gerou. Mais uma pra estatística. Números de desespero, medo e tristeza. Mais uma em cinzas. E ainda continuam calando, reprimindo e culpando. Sim, até a morta eles culpam.
“Que saia é essa que você tá usando? E esse decote? Vai tirar esse batom vermelho. Olha pra você, é pedir pra isso acontecer”.
Essas frases, momentaneamente, suavizam a situação do estuprador. Elas tiram a culpa do homem e refletem ela nas mulheres. Essas palavras são gritadas por covardes, que se sentem livres para andarem na rua, para pegar um ônibus sem sofrer assédio moral ou sexual, para ir numa balada sem escutar “oi, princesa”.
Tenho medo. Medo de ser sequestrada, medo de uma mão estranha no meu corpo, medo de não acreditarem no que digo, medo de ser tudo “uma besteira sem cabimento algum”. Afinal, é o que eles dizem. Mas não é por isso que vou me silenciar. Quero mostrar pro mundo minha força. Eles vão saber do que eu sou capaz. Eles vão temer meu empoderamento. E isso os deixa violentos. Eu sou mulher, sou forte, independente e feminista. Eu sou Joana D’arc, sou Frida Kahlo, sou Marielle Franco. E se a minha força ferir a sua masculinidade, quem precisa se calar é você. A violência do machismo jamais será mais forte do que a união das mulheres.
Dados que matam
536. É o número de mulheres que são vítimas de violência no Brasil. É por hora, não por ano. 536 mulheres sofrem agressões físicas e verbais a cada 60 minutos pelo simples fato de serem mulheres. Quem são essas pessoas que maltratam o próprio ventre que lhe pariu? O pedreiro, o de terno, o amor da sua vida, o famoso, aquele que duvida da palavra da vítima ou o que diz que mulher deve ser dona de casa. Todos eles – e muitos outros (e por que não dizer outras) – contribuem à morte de centenas de mulheres todos os dias.
E isso vai além das palavras. A violência contra a mulher já se tornou – inclusive – estatísticas. São números que assustam e assombram a realidade de todas as mulheres. Números que machucam, batem, assediam, oprimem e matam. São números que precisam ser expostos para serem revertidos.
Mas você não precisa acreditar em mim. Olhe você mesmo para os números. Olhe você mesmo e pense sobre o que eles significam para a vida, e morte, de milhares de mulheres todos os dias. Olhe agora:
Violência contra a mulher
No Brasil:
- Uma mulher é vítima de estupro a cada 9 MINUTOS
- Três mulheres são vítimas de feminicídio a CADA DIA
- Uma mulher registra agressão sob a Lei Maria da Penha a cada 2 MINUTOS
- Mais de 1,6 milhões de casos de espancamento de mulheres foram registrados no último ano. Desses, em 76,4% dos casos, as vítimas conheciam o agressor.
- Vitimização também é maior entre mulheres pretas (55,9%) do que entre as brancas (24,7%)
E se você olhou e não se importou: é porque não entendeu nada. Volte ao início do texto e tente mais uma vez.
Os dados para esse texto foram retirados das seguintes fontes:
- Violência contra a mulher: novos dados mostram que ‘não há lugar seguro no Brasil’ – BBC Brasil
- Violência contra as mulheres em dados – Agência Patrícia Galvão
- Dados de violência contra a mulher são a evidência da desigualdade de gênero no Brasil – G1