No mês de setembro de 2019, os incêndios que destruíram parte da Floresta Amazônica brasileira atraíram olhares de todo o mundo para a situação que vitimou pessoas, vegetação e fauna local. Para você ter noção da gravidade deste episódio para o ecossistema nacional, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apenas em agosto foram detectados cerca de 30.901 incêndios na região – dado que equivale a três vezes mais queimadas em relação ao mesmo período em 2018 -, e indica a relevância de permanecermos prestando atenção para a situação da Amazônia.
Porém, de lá para cá, desde que o fogo foi esquecido, muitos olhos voltaram a se fechar para a realidade e consequências do fogo criminoso que devastou parte da maior floresta subtropical do planeta Terra. A situação da Amazônia permanece sendo uma ferida aberta no peito do Brasil e, por essa razão, precisamos compreender seus impactos e efetivamente abraçar esta causa para defender um dos maiores patrimônios naturais da humanidade.
Por exemplo, mesmo que não haja mais fogo, os problemas causados pelos incêndios são mais graves do que muitos de nós imaginamos. Segundo estudo realizado pela revista Philosophical Transactions of the Royal Society B, o risco de morte das árvores que sobreviveram às queimadas acontecer precocemente nos próximos anos é altíssimo. Isso sem falar que as vidas animais e vegetais que foram perdidas para o fogo já comprometem fortemente a capacidade da Floresta Amazônica de armazenar carbono – capacidade esta que só será 100% recuperada em alguns milhares de anos.
“As árvores grandes que sobrevivem a um incêndio na Amazônia morrem quase oito vezes mais do que aquelas que estão em locais não incendiados, e a maioria morre num período de oito anos após o incêndio.”
Philosophical Transactions of the Royal Society B
A alta taxa de fatalidade ocorre porque espécies comuns na Amazônia, como o mogno brasileiro, não evoluíram em um ambiente propenso ao fogo, por isso não têm cascas grossas ou outros mecanismos de resistência. E como a intensidade e periodicidade do fogo na Amazônia é uma ameaça relativamente nova, resultado de pessoas queimando e derrubando partes da floresta para obter terras para agricultura ou exploração madeireira, o ecossistema local não está preparado para arcar com as consequências drásticas destas ocorrências. Em entrevista divulgada pela Revista Exame, a bióloga Erika Berenguer – pesquisadora da Universidade de Oxford, explicou a situação:
“A Amazônia não é um ecossistema acostumado com fogo periódico. É úmida, não queima de modo natural com frequência, então, não evoluiu com incêndios, como ocorreu com o Cerrado. A floresta não tem um mecanismo de recuperação rápida, tanto em termos de biodiversidade quanto em estoque de carbono.”
Erika Berenguer
Por que a situação da Amazônia merece nossa atenção?
Antes de pontuarmos quais ações podem ser adotadas por todos nós em benefício da situação da Amazônia e biodiversidade e ecossistema local, é importantíssimo que todas as pessoas compreendam como a Floresta Amazônica contribui positivamente com o nosso planeta.
Afinal, a Amazônia influencia o equilíbrio ambiental de todo o planeta e tem papel fundamental na economia do Brasil. Entenda por quê:
Regime de chuvas
A Floresta Amazônica é responsável pela produção de uma enorme quantidade de água que é transportada para o restante do Brasil. Conhecidos como “rios voadores”, eles são formados por grandes massas de ar repletas de vapor de água, criados a partir da evapotranspiração na Amazônia – responsável por carregar a umidade da Bacia Amazônica para outras regiões, como o Centro-Oeste, Sudeste e até mesmo o Sul brasileiro.
E esses benefícios vão para além do Brasil, inclusive. Os rios voadores beneficiam também as chuvas na Bolívia, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile. Isso tudo sem falar que a umidade produzida na Amazônia, assim como os rios da região, impacta positivamente em regiões responsáveis por 70% do PIB da América do Sul.
Segundo estudos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, uma árvore com copa de 10 metros de diâmetro pode bombear para a atmosfera mais de 300 litros de água em forma de vapor por dia – mais que o dobro da água usada diariamente por um brasileiro. Uma árvore maior, com copa de 20 metros de diâmetro, pode evapotranspirar mais de 1.000 litros por dia, bombeando água e levando chuva para irrigar lavouras, encher rios e represas que alimentam hidrelétricas no resto do país.
Em outras palavras, até mesmo o agronegócio – principal responsável pela devastação da Amazônia – depende diretamente da conservação da floresta para que possa permanecer existindo. E na atual conjuntura, o resultado do desmatamento que ameaça até 65% da Amazônia apresenta o risco de que a maior floresta subtropical do planeta possa se tornar uma savana ao longo dos próximos 50 anos.
Equilíbrio ambiental
Por ser a maior floresta subtropical do planeta, a Amazônia também é responsável por abrigar a maior diversidade da Terra, com uma em cada dez espécies conhecidas pela humanidade. Isso sem considerar as inúmeras espécies que ainda não foram catalogadas pela ciência, principalmente nos espaços mais remotos da extensão amazônica. Mas por que é essencial assegurar e respeitar a existência dessa biodiversidade? É simples: ela mantém o equilíbrio e garante que a sustentabilidade natural para todas as formas de vida e ecossistemas possam permanecer coexistindo e se recuperando melhor após desastres – a exemplo das queimadas que aconteceram no último mês.
Conservar o ecossistema amazônico é contribuir para a estabilidade de todas as vidas em outros ecossistemas na região. Por exemplo, quando falamos no recife dos corais da Amazônia, que é um corredor de biodiversidade entre a foz do Amazonas e o Caribe, estamos pensando em um refúgio natural para que corais ameaçados pelo aquecimento global permaneçam existindo e subsidiando as formas de vida que dependem deles para não entrarem em extinção. Inclusive, esse recife é um aliado poderoso para repovoar áreas degradadas dos oceanos, principalmente em regiões afetadas pela exploração do petróleo.
E no que se refere ao equilíbrio ecológico, também é importante pontuar que a biodiversidade tem sua função na agricultura: áreas agrícolas com florestas preservadas em seu entorno têm maior riqueza de polinizadores, dos quais depende a produção de alimentos, como café, milho e soja.
Mudanças climáticas
Prestar atenção na situação da Amazônia também tem a ver com a luta para defender um clima mais estável em nosso planeta. Isso acontece porque a região amazônica, junto com em outras florestas tropicais e subtropicais da Terra, armazena entre 90 bilhões a 140 bilhões de toneladas métricas de carbono, contribuindo diretamente para a estabilidade do clima em todo o mundo. A Amazônia, inclusive, representa 10% de toda a biomassa do planeta.
Já as florestas que foram degradadas ou desmatadas são as maiores fontes de emissões de gases do efeito estufa depois da queima de combustíveis fósseis. Isso porque as florestas saudáveis têm uma imensa capacidade de reter e armazenar carbono, mas o desmatamento para o uso agrícola ou extração de madeira libera gases do efeito estufa para a atmosfera e desestabiliza o clima.
Dados da ONU de 2015 mostram o Brasil como um dos dez países que mais emitem gases do efeito estufa no mundo, com 2,48% das emissões. Para cumprir suas metas de redução de emissões dentro do acordo internacional, conhecido como Protocolo de Quito, o Brasil se comprometeu a alcançar, na Amazônia brasileira, o desmatamento ilegal zero até 2030 e a compensação das emissões de gases de efeito de estufa provenientes da supressão legal da vegetação até 2030.
Como você pode agir pela Amazônia
Entre os dias 20 e 27 de setembro de 2019, mais de 7.6 milhões de pessoas foram às ruas e se mobilizaram pelo clima, pedindo a nossos governantes o fim da exploração de combustíveis fósseis, a utilização de tipos de energia limpas e renováveis e o auxílio às pessoas afetadas pelas mudanças climáticas. Essa foi a maior mobilização climática da história.
O desenrolar dessa ação depende de nós. Por isso, será necessário o engajamento de todos para que possamos garantir um futuro melhor e evitar a crise climática. Vamos seguir pressionando as lideranças em busca de justiça climática, porém devemos cobrar mudanças individuais também, começando por nós mesmos!
Convidamos você a praticar de alguma das ações do Desafio Escolhas Exponenciais: Mobilização Pelo Clima:
- Plante uma planta
- Encontre meios sustentáveis de locomoção
- Diminua sua Pegada de Carbono
- Repense o descarte de resíduos orgânicos
- Converse com mais pessoas sobre esse assunto
- Compartilhe boas notícias e boas práticas em prol do clima
- Acompanhe as atualizações da Mobilização Global Pelo Clima
Aproveite também para inspirar-se por Greta Thumberg
Confira no vídeo acima o recado que ela tem para a humanidade sobre a importância de escolher financiar produtos e serviços alinhados à proteção e conservação da Amazônia e todas as florestas do mundo, em vez de explorá-las irresponsavelmente.
Vamos juntos agir para mudar essa história!