Olá!
Estamos de volta agora para falar um pouco sobre as mudanças ocorridas no cenário político-social, e as consequências desta transformações para as Organizações do Terceiro Setor, que hoje encaram o desafio de captar recursos e manter a autossustentabilidade.
As mudanças político-sociais, e os novos desafios no Terceiro Setor
Durante muito tempo a execução das atividades e a própria sobrevivência das entidades do Terceiro Setor no Brasil dependeram de doações realizadas por organizações internacionais, que promoviam ações sociais no chamado “Terceiro Mundo” – denominação dada aos países subdesenvolvidos ou em fase de desenvolvimento, em contraponto às grandes potências capitalistas do Primeiro Mundo, e aos países socialistas industrializados do Segundo.
Naquele período, para o Terceiro Setor, ainda não existia a preocupação com as questões jurídicas, administrativas ou contábeis, como, por exemplo: princípios, padrões e regras. Esses procedimentos ligados à gestão eram considerados assuntos que diziam respeito apenas às empresas que visavam lucro.
A partir das décadas de 1980/90, com o agravamento da miséria na África e no Leste Europeu, as organizações internacionais passaram a direcionar suas doações para a implementação de ações sociais naquelas regiões. Com isso, surgiu a preocupação com a sustentabilidade nas instituições brasileiras.
O conceito de autossustentabilidade foi implantado pelos doadores internacionais com o objetivo de modificar o comportamento das instituições do Terceiro Setor. A partir de então, era necessário promover a capacitação dos dirigentes e da equipe operacional, para que fosse possível captar recursos, realizar a gestão organizacional, e garantir a continuidade da missão institucional das organizações sociais.
Felizmente, nessa época também se iniciou a disponibilização de fundos governamentais para apoio a projetos de caráter social. Em contrapartida, passou a ser exigido das organizações maior planejamento e controle, além da prestação de contas dos valores recebidos. Essa nova parceria entre o Estado e as entidades sem fins lucrativos trouxe ainda, como conseqüência, a ampliação dos controles governamentais sobre essas instituições, através da criação de normas rigorosas, e da realização de uma série de auditorias e fiscalizações para a verificação da regular utilização dos recursos públicos transferidos. Para completar, as organizações internacionais que ainda se propunham a financiar projetos, passaram a exigir a auditoria como instrumento de certificação da correta aplicação dos valores doados.
Assim, muitas entidades que eram simplesmente um grupo de pessoas unidas em prol de um objetivo comum, tiveram que se institucionalizar (se transformar em pessoas jurídicas), passando a exercer o papel de empregadoras, contratantes, produtoras, prestadores de serviços, e gestoras de recursos privados e públicos. E toda essa metamorfose fez com que essas organizações começassem a sentir necessidade de profissionalizar sua forma de gestão, com a introdução de mecanismos de administração, finanças, contabilidade e controle, além de dedicar uma maior preocupação com a aplicação da responsabilidade social, da transparência e da ética nas suas atividades.
Atualmente, a busca pela sustentabilidade, principalmente em termos financeiros, continua figurando entre os maiores desafios enfrentados pelas organizações do Terceiro Setor, já que muitas delas foram criadas com esforços pessoais e, à medida que foram crescendo em escala e complexidade, passaram a necessitar de mais recursos para garantir a sua sobrevivência. Ademais, não podemos deixar de considerar que existe um número gradativamente maior de organizações, que de certa forma estão competindo para obter recursos cada vez mais escassos, devido às restrições impostas pelo poder público.
Observa-se, então, que as transformações políticas, sociais, econômicas e legais, ocorridas ao longo dos últimos anos, determinaram novas diretrizes e trouxeram a necessidade de reordenamento da estrutura organizacional e funcional das instituições do Terceiro Setor. Estas passaram a ter comportamento mais empresarial (estrutura, departamentos, metas), porém, sem perder o foco nos objetivos sociais. Desta forma, é imprescindível que ocorra a estruturação das entidades, com a utilização de ferramentas e instrumentos de gestão que sejam inerentes ao Terceiro Setor, e que possam contribuir na busca pela sustentabilidade.