Vamos aproveitar a semana do Natal para conferir alguns motivos para acreditar no mundo e ser mais otimistas, vamos?
1. Economia do bem
Grandes otimistas já tiveram dúvidas se o modelo econômico vigente -e, muitas vezes, exploratório -seria algum dia derrubado. Algumas iniciativas, como a Economia Criativa e a Economia Solidária, apontam que sim. A primeira aposenta a máquina e os recursos materiais como fatores-chave da produção e ocupa o lugar com o chamado capital cognitivo.
“Quando evoluímos para a sociedade do conhecimento, não temos mais recursos escassos. Hoje, ¾ do valor de um produto é conhecimento e ¼ é matéria-prima”, diz o economista Ladislau Dowbor, da PUC-SP.
Já a Economia Solidária, em vez de ser centrada no lucro, tem como objetivo o bem-viver das pessoas, a cooperação e a responsabilidade coletiva na gestão dos empreendimentos.
“É uma outra maneira de você organizar os seres humanos para produzir o suficiente para suas necessidades e usar o tempo livre para investir em si próprios. Isso leva a uma esperança de que, na prática, já estamos construindo uma nova economia no interior da velha”, diz o economista e educador Marco Arruda, coordenador do Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs).
2. Mais colaboração
Ganhar conselhos de viagens; aprender exercícios para fazer um parto natural; ganhar ajuda para organizar sua casa… O preço? Nada. Basta, em troca, você ofertar uma hora de seu tempo para ensinar algo de que saiba. É assim na mídia social Bliive. Enquanto isso, quem acessa, por exemplo, o portal Atados – rede social de voluntários -, pode se candidatar para colaborar em ações sociais.
Esses dois exemplos, entre infindos outros que pipocam pelo Brasil e no mundo -, dão o tom de um aspecto mais do que otimista: são ações colaborativas, ou seja, movimentos que integram pessoas interessadas em colaborar para o bem coletivo.
“Quando falamos de processo colaborativo, acredito que esses movimentos começam a ser a ruptura dos modelos tradicionais de organização de ações. Muitas vezes dependia-se de inscrever um projeto, da apreciação de uma lei de incentivo e depois captar recursos. Hoje em dia, com cada um fazendo sua parte no coletivo, você consegue desenvolver uma iniciativa piloto com custo zero e, depois, pode vir com o financiamento via crowdfunding. Isso é uma expansão muito grande”, afirma Diego Gazola, empreendedor da Muda de Ideia, mídia social que faz articulação entre empresas, governo e organizações sociais para desenvolver projetos de valor compartilhado.
3. Reciclar e reusar
O Brasil está investindo para reciclar cada vez mais. Quando se fala em alumínio, por exemplo, o País é um dos cinco maiores recicladores do globo. E, se destacarmos apenas latas, ele ocupa o primeiro lugar no ranking, reaproveitando 98,3% do material consumido, segundo dados da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). De acordo com Carlos Roberto Morais, coordenador da Comissão de Reciclagem da instituição, uma das iniciativas otimistas, e que deverá ser praxe até 2017 na indústria automobilística, é a utilização de motores para automóveis feitos totalmente de alumínio.
“Além de ficar mais leve e aproveitar melhor o combustível, isso gerará uma base de reciclagem grande”, diz ele, que aposta também em carrocerias feitas todas em alumínio -realidade já em algumas montadoras -, permitindo que, no futuro breve, o veículo seja inteiro reciclado.
Embalagens PET ocupam também lugar primordial no ciclo do reaproveitamento. De 1994 a 2012, o volume reciclado do material subiu de 18,8% para 58,9%. Nessa esteira, já existem também 300 usinas de reciclagem de entulho no Brasil e a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon) estima que o setor dobre de tamanho até 2016.
4. Menos violência
Fica difícil acreditar, diante de tantos crimes, mas a violência nunca esteve em nível tão baixo na história. É o que afirma o cientista canadense Steven Pinker em seu livro Os Anjos Bons da Nossa Natureza, de 2012.
“Os restos pré-históricos dão a distinta impressão de que O Passado foi um lugar onde uma pessoa tinha grandes chances de sofrer danos corporais”, escreve ele na introdução da obra, abrindo caminho para uma investigação que começa nos primórdios da raça humana e se estende até hoje.
“A tortura na Idade Média não era escondida, negada ou mencionada com eufemismos. Não era apenas uma tática com a qual regimes brutais intimidavam seus inimigos políticos ou regimes moderados extraíam informações de suspeitos de terrorismo. (…) A tortura integrava a tessitura da vida pública”, escreveu, reforçando o quanto as coisas mudaram desde então.
Hoje, barbaridades ainda acontecem, mas não são generalizadas, e as pessoas, cada vez mais, chocam-se com elas. Já o cientista político Guaracy Mingardi, ex-subsecretário nacional de Segurança Pública, prefere destacar apenas um aspecto otimista do cenário brasileiro atual.
“É o fato de que a segurança da população entrou de vez na pauta política. Todos os Estados agora têm projetos. Esse é o motivo que temos para estar otimistas.”
5. Futuro positivo
Diretora de pesquisa do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP, a futurista Rosa Alegria fala da importância do otimismo para criarmos o futuro.
Como a imaginação otimista influencia o amanhã? Apesar de o futuro não ser algo concreto ainda, o mecanismo da imaginação é poderoso na possiblidade de criar mundos novos. E quando ele existe no imaginário coletivo, há muito mais poder. Se você foca só no negativo, perde a chance de gerar o novo.
Como surgiu a rede Imagens e Vozes de Esperança, que quer que a mídia seja agente benéfico para o mundo? Em 1999, a jornalista americana Judy Rodgers perguntou: o que nós, produtores de conteúdo, estamos fazendo para melhorar o mundo? Essa pergunta foi fundo e as pessoas despertaram para a nobre missão de criar o imaginário positivo. Mas quero deixar claro que otimismo é consequência; sem esperança, ele é vazio. E a esperança é o contato que sua imaginação tem com a realidade das possibilidades. A esperança é a matéria-prima do otimismo.
6. Como colocar uma ideia em prática: um passo a passo para acreditar que vai dar certo e trazer à vida aquele projeto bacana que não sai da sua cabeça
Para tirar ideias do papel e colocá-las em prática, é preciso ter otimismo, acreditar que dá para fazer diferente e que um novo mundo é possível. Por isso, esta reportagem está aqui, neste dossiê sobre otimismo: para ajudá-lo a tirar da gaveta suas ideias e planos e fazê-las acontecerem de fato, sem medo dos perrengues e dificuldades. Para trazer para você as melhores dicas de como realizar isso, fomos atrás de iniciativas de gente bacana e craque em tirar ideias geniais do papel.
São elas: um buscador que promove acesso a serviços e produtos de saúde gratuitos e de baixo custo em todos os municípios do País, uma aceleradora de negócios focada em empreendimentos do bem, uma rede social que promove caronas e ajuda a desafogar o trânsito, uma plataforma colaborativa sobre robótica pedagógica e um livro com estratégias inspiradoras para quem deseja transformar o mundo. Com as sugestões desses realizadores, montamos um manual para ajudar você a colocar boas ideias em prática.
– Defina o alvo
Uma boa ideia tem de ser precisa. Ideia é diferente de tema ou área de atuação. Por exemplo: você pode desejar melhorar o trânsito e trabalhar em prol da mobilidade urbana. Isso é uma área. Uma ideia precisa de recorte. Um exemplo é o trabalho da rede social Carona Solidária (caronasolidaria.com), um serviço on-line gratuito que coloca em contato pessoas dispostas a compartilhar carros particulares em deslocamentos rotineiros – como ir ao trabalho e ou à faculdade – ou em viagens. Isso é uma ideia.
– Pesquise muito
Para que sua ideia seja bem-sucedida, ela precisa estar amparada por informações sobre o contexto e a legislação relacionados. Por exemplo: se a sua ideia é implantar oficinas de robótica em escolas públicas, é necessário saber como são as grades curriculares nos diferentes níveis de ensino e com quais disciplinas essa atividade complementar pode dialogar. Foi o que descobriu o pessoal do Robótica Livre, uma plataforma colaborativa em que os usuários trocam conhecimentos sobre o tema.
– Eleja o formato
Como a sua ideia vai funcionar na prática? Se for um projeto de internet, por exemplo, pode virar um blog, um site, uma rede social, ou uma plataforma colaborativa. Se a ideia é formar uma instituição, as opções também são várias – pode ser algo informal, uma organização não-governamental (ong), uma organização social de interesse público (Oscip) ou um negócio social, entre outros. Escolha o formato que melhor atenda às suas necessidades de atuação, incentivo, financiamento e tributação.
– Busque apoio especializado
Consultorias também são de grande ajuda. O site Saútil, que funciona como um banco de dados sobre atendimento, medicação e exames gratuitos ou de baixo custo, tornou-se viável como um negócio social com a assessoria da aceleradora Artemisia, que é focada em ajudar negócios sociais a tomarem corpo. Com essa consultoria, o site formulou uma atividade paga paralela de atendimento por telefone capaz de bancar o trabalho social na internet.
– Comece, recomece
No livro Como Mudar o Mundo, o jornalista e ativista John-Paul Flintoff ressalta a importância de se pôr a mão na massa. “Ninguém comete erro mais grave do que quem não faz nada só porque poderia fazer pouco”, disse o estadista irlandês Edmund Burke. Pense no que pode fazer nas próximas 24 horas, nesta semana. “Mudar o mundo é um trabalho que jamais termina”, enfatiza Flintoff. Então motive-se com o fato de que sempre haverá o que fazer.
– Mantenha o foco
Madre Teresa de Calcutá disse certa vez que nunca olhava para as massas como uma responsabilidade dela. “Só posso amar uma pessoa de cada vez, uma, uma, uma. Talvez, se não tivesse escolhido aquela pessoa, não tivesse escolhido 42 mil. A obra inteira é apenas uma gota no oceano. Mas, se eu não tivesse contribuído, o oceano teria uma gota a menos.” Então, mantenha-se atento ao que precisa ser feito, valorize o que você pode fazer. E faça.
Fonte: Vida Simples