A história dos negros no Brasil é tão complexa e conturbada quanto a história da própria humanidade, com seus absurdos, injustiças e antagonismos que até hoje ecoam por toda a parte.
É estranho pensar que, até o inicio do século XX, a sociedade convivia com a discriminação racial de forma muito natural. Intelectuais, políticos e nobres argumentavam a favor da discriminação como se estivessem protegendo os alicerces da sociedade. Apenas como exemplo, em 1921 o então presidente da república Epitácio Pessoa simplesmente proibiu a participação de jogadores negros na seleção brasileira.
Mas não pense que isso mudou drasticamente ainda no século XX. Até meados dos anos oitenta, ainda era comum negros serem hostilizados em alguns locais públicos como se tal hostilidade fosse um direito.
Mesmo com algumas mudanças, ainda existe um racismo velado na sociedade hoje.
Com a implantação do sistema de cotas raciais, houve certa manifestação qualificando como um favorecimento injusto a uma determinada classe. A revolta se explicava pelos altos impostos cobrados e o mínimo de retorno na educação, que deveria começar na infância, sem prejudicar classes sociais ou étnicas.
Acontece que o Brasil nunca foi um lugar fácil pra ninguém, mas para alguns ele foi ainda mais difícil do que para os outros.
Nesse contexto, os negros foram libertos, largados a própria sorte para começarem abaixo da linha do zero, sem direitos claros, sem ajuda e sem dignidade alguma, apenas com a revolta de muitos que consideravam uma injustiça ter, teoricamente, os mesmos direitos que uma pessoa de pele negra.
E foram seguindo em frente, tirando leite de pedra, como já diziam os antigos, lutando pela sobrevivência e pela dignidade e, com muito custo, sendo aceitos pela sociedade. Mas os números deixam claro que até hoje ainda existe um enorme abismo.
Dados da revista Fórum, apontam que no ano de 1997, apenas 2,2% dos pardos e 1,8% dos negros cursavam as universidades.
O site Diário do Centro do Mundo apontou ainda em 2014 que 1,4% dos magistrados brasileiros se consideram negros enquanto dados do IBGE daquele mesmo ano, apontavam que menos de 10% dos parlamentares no Brasil são negros.
Não é difícil compreender o princípio dessa discrepância. Tudo começa no exato momento em que os negros foram libertos e, ao mesmo tempo privados de terem os mesmos direitos que os outros.
Podemos encarar, portanto, o sistema de cotas raciais, como um débito que, em algum momento a sociedade em sua constante evolução teria que honrar, trata-se de uma correção justa e que, na minha opinião pessoal, não precisa e nem deve ser eterna, apenas corretiva com data marcada para encerrar, a partir do momento em que os negros conquistarem justamente o espaço que é seu por direito em uma sociedade que tem a miscigenação em sua corrente sanguínea.
A discriminação por raça, sexo, etnia ou preferências diversas expõe uma necessidade enferma do ser humano de afirmar a inferioridade de alguém ou alguma coisa. Isso mostra que, infelizmente, a natureza do discriminar sempre existiu e sempre existirá de alguma forma, mas é importante notar também que, a medida que o tempo avança, a sociedade evolui e vai deixando suas enfermidades para traz. Felizmente esse é um caminho sem volta.
Não ficou claro? Confira alguns abismos entre brancos e negros no Brasil:
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