Calma…
No último mês escrevi aqui sobre o valor dos processos, me referindo, principalmente, ao tempo destes. Ressalto que quando falo sobre respeitar os tempos dos processos não falo de deitar e esperar o tempo passar, mas de ter calma e serenidade para viver com consciência cada fase do tempo presente. Existem várias formas de se estar presente e, no meu caso, todas passam muito pela escuta – interna, dos nossos pensamentos e sentimentos, e externa, da fala do outro e do contexto em que nos inserimos.
A fala mais marcante para mim sobre como ouvimos (ou deixamos de ouvir) o outro veio do John Francis, que ficou 17 anos em silêncio. Depois de um derramamento de petróleo no oceano, quando era jovem, John Francis decidiu parar de andar de veículos alimentados por combustível fóssil. Morava em uma pequena cidade nos EUA, onde todos andavam de carro, e logo começou a ser muito questionado por todos que viviam ao seu redor.
Os questionamentos viravam longas discussões e ele estava se sentindo esgotado. Então ele decidiu que no dia de seu aniversário se daria de presente um dia completamente em silêncio. Ficou em silêncio e ficou triste: percebeu o quanto tinha podia aprender em silêncio e o quanto tinha deixado de aprender esses anos todos, pois, normalmente, não estava focado em ouvir seu interlocutor, mas em se preparar para respondê-lo, enquanto ele ainda estava falando. Resolveu, assim, ficar mais um dia em silêncio, e todos os dias e depois todos os anos reavaliava essa decisão, pois sempre achava que podia aprender mais: ficou em silêncio por 17 anos.
Isso mexeu muito comigo, e passei a exercitar mais e mais a escuta, exercitando, consequentemente, estar presente (no presente).
Sobre escuta interna e estar presente, ouvi algo muito interessante de um amigo muito querido, o André Gravatá, um aprendizado que ele teve em sua estadia na Índia. Ele me disse que um swami (líder espiritual) lhe disse que estar presente não é apenas não estar pensando em relacionamentos passados ou não ficar remoendo outros fatos que já passaram. Estar presente é não ver o mundo de hoje com os nossos olhos do passado: ou seja, não considerar uma situação com valores que tínhamos há dois anos atrás, ou não ver uma comida com o gosto ruim que ela teve quando a experimentamos, há anos atrás. Nenhum dia é igual ao outro, e por isso todas as experiências podem ser diferentes daquelas que já vivemos: depende, em grande parte, de como as veremos, um pouco antes de como as viveremos.
E, claro, pensar sobre tudo isso nos ajuda a nos colocar mais no presente, mas nada como vivenciar experiências e aprender técnicas que nos permitem sentir o presente e instrumentalizar as mudanças que queremos. Esse mês, tive o privilégio de passar por duas destas experiências: a primeira foi o fenomenal workshop de TaKeTiNa, conduzido pelo Reinhard Flatischler e pelo Gustavo Gitti. A TaKeTiNa é uma forma de se aprender a ouvir o próprio ritmo e entender como ele se movimenta em relação ao ritmo externo, do mundo. É o constante movimento, o aproximar e o afastar, a tensão e o relaxamento, sempre atentos ao que somos, sentimos e somos capazes de fazer naquele momento.
A segunda foi o incrível Workshop para Inquietos, conduzido pela Coach Carol Nalon, realizado em uma parceria 99 Jobs e Tiê Coaching. Além da conexão com pessoas incríveis, o workshop é um ótimo momento para reavivar nossas inquietudes e sonhos, vislumbrar planos de ação para eles e trabalhar a mudança de comportamentos que não são saudáveis para nós mesmos.
É isso! Sigamos em nossos processos de transformação pessoal e coletiva, rumo a uma realidade em que possamos ser cada vez mais gentis uns com os outros, nas atitudes e na comunicação. E, como bem disse o Carlos Terepins no Day1 da Endeavor, no dia 19/11/2013, “comunicar é falar e ouvir. E ouve bem quem escuta a si próprio”.