Se quem atua diariamente pela causa não conhece as transformações que a organização gera, não se sente capaz de explicar para outra pessoa sobre a atuação e de se mobilizar diante de campanhas e iniciativas para sua promoção, por que alguém que está fora se sensibilizaria?
Colaboradores devem ser multiplicadores. Mas, como podemos promover um ambiente interno em que essas pessoas se apropriem do propósito da organização sendo potenciais reverberadores desse impacto?
Senta que lá vem história, e garanto que é das boas.
Colaboradores multiplicadores surgem com uma boa pesquisa
Era uma vez uma organização que tinha certeza da satisfação e motivação dos colaboradores, mas nunca tinha feito uma pesquisa de clima organizacional.
Quando estamos pensando na gestão de qualquer organização, seja com ou sem fins lucrativos, precisamos nos basear mais em dados do que em percepções. Proporcionar pesquisas anônimas
para compreender o clima organizacional, bem como que tipos de informações as pessoas sentem falta e até mesmo quais canais de comunicação elas preferem para receber conteúdos de trabalho,
é um ótimo primeiro passo.
Mas, será que para formar colaboradores multiplicadores, vamos passar por dificuldades?
Quando foi sugerido realizar uma pesquisa, logo a presidência se esquivou: “vai virar um muro das lamentações, não vamos conseguir fazer tudo que pedem”.
Não era bem assim. Primeiro, você não precisa fazer tudo o que aparece na pesquisa, mas como você pode lidar com essa possível frustração dos respondentes?
Diálogo e transparência! Estabeleça canais para trocar sobre os próximos passos a partir da pesquisa, o que será feito como prioridade? Qual o cronograma de implementação das atividades?
Ouvir os colaboradores não significa fazer tudo que é pedido, mas sim considerar essa opinião – demasiadamente importante – nas decisões estratégicas.
Quando os gestores entendem a importância, tudo flui.
Depois de muito diálogo, a gestão visualizou o quanto seria importante promover um espaço cada vez mais colaborativo e menos impositivo.
A pesquisa foi realizada e a surpresa veio: a maioria das pessoas de fato amavam trabalhar por aquele propósito, mas faltavam políticas de carreira, avaliação de desempenho, feedback e espaços para compreender melhor a atuação das outras áreas.
Preste atenção aqui: o mais difícil, mais subjetivo, que é esse envolvimento emocional de acreditar na causa, no propósito do que se faz, a organização já tinha. Mas ela estava falhando em aspectos operacionais, práticos, de implementação de novos processos.
Muitas empresas privadas, aquelas que têm inúmeros processos, canais de comunicação interna, sistemas super automatizados, se dedicam arduamente desenhando estratégias de como o colaborador vai ter orgulho de trabalhar ali, visualizando uma proposta de valor que conecte e envolva cada um (se quiser saber mais sobre isso, pesquise sobre Employer Branding).
Parta da estratégia para a ação: os colaboradores multiplicadores aparecem naturalmente
Foi o estopim. Estavam todos abertos para o novo, para fazer diferente e envolver – de verdade – aquelas pessoas que cuidavam diariamente de cada beneficiado da organização.
Ninguém precisa desenhar essa estratégia sozinho. Ela precisa ser elaborada a muitas mãos, e é muito importante que seja assim. Para facilitar, vou sistematizar aqui para você alguns passos que podem te ajudar a organizar essas informações da pesquisa e ir para a AÇÃO!
Reúna algumas pessoas para analisar os dados e listem os principais problemas levantados.
Para cada problema, levantem ideias que poderiam auxiliar a amenizar (sem julgamentos, bota a imaginação e criatividade para o jogo).
Aglutine ideias que se complementam.
Coloque em ordem de prioridade, para cada problema, ideias que são mais factíveis de serem realizadas.
Distribua essas ações ao longo de um cronograma, pensando em que momento elas começam a ser implementadas.
E as ações tomam a forma que a empresa desenhou lá atrás
A partir daquele momento, uma sistemática de feedback e avaliação de desempenho foi implementada, iniciaram-se encontros quinzenais para cada área compartilhar uma conquista, sessões de filme mensais com debates com especialistas sobre temas que dialogavam com a causa acontecia naquela sala que estava sem uso.
Uma newsletter semanal chegava na caixa de entrada na segunda cedinho com depoimentos de beneficiados, concursos internos rolavam constantemente para as pessoas poderem participar da construção de campanhas.
Celebrações de datas com a criação de eventos colaborativos ocorriam: o Dia das Crianças era o mais esperado, teve até exposição de brinquedos dos colaboradores e gincana para acertar quem era quem nas fotos de bebê – rolou até prenda para quem ganhou!
A cada ação, cada pessoa se envolvia, postava nas redes sociais, compartilhava os aprendizados e as sensações de vivenciar tudo aquilo ali. Será que essas pessoas estão mais preparadas e propensas para falar e sensibilizar outras pela/para a causa?
Teve um envolvimento geral, mas faltava algo mais direcionado, assertivo para externalizar essa vivência e mobilizar novas pessoas. Naquele momento, somente o presidente da organização falava em nome da organização…e quando ele não pudesse? E se um dia, por alguma razão, ele não fosse mais o representante?
Resumo da história
Todos comunicam a causa, mas algumas pessoas que são intituladas como porta-vozes precisam ter um preparo ainda mais aprofundado de como elas vão se portar diante diferentes situações.
Ter pessoas à frente colabora muito com a humanização da marca. Para colaborar com isso, ter um posicionamento claro se torna decisivo para orientar a criação de mensagens e narrativas nos espaços que essas pessoas ocuparão.
Ainda não se convenceu da importância? Oras bolas!
Então, convido você a assistir essa aula que falamos sobre isso e contamos mais casos para te inspirar.
Texto escrito por: Natália Gonzales
Eterna bailarina, amante da comunicação e fascinada pelo impacto gerado por causas sociais. Relações Públicas e mestra em comunicação mobilização pela Unesp com mais de 10 anos de atuação com impacto social. Atualmente é cofundadora da Nuclear.HUB e do Social.LAB, espaço para quem atua com causas impulsionar sua atuação. Mentora Comunicação Estratégica para startups e negócios de impacto no Distrito e Impact HUB.