A nossa ideia de corpo é construída diariamente com base em padrões e imposições, nos tornando composições de tudo o que recebemos e acreditamos. Nas regras que nos norteiam e que nos indicam moldes, a gordura é uma questão abominável e a intolerância com pessoas gordas ainda é um problema sério. Muitas vezes, a justificativa para a gordofobia está ligada a saúde, como se corpos magros fossem essencialmente saudáveis.
Hoje o +Cultura debate o tema a partir do trabalho da Fernanda Magalhães, fotógrafa e artista paranaense. “A representação da mulher gorda e nua na fotografia” é um dos seus projetos e nasceu de dilemas intensos:
Este corpo que constrói o trabalho também foi o que me levou a sofrimentos sucessivos, devido ao preconceito em relação à sua forma, pois, afinal, sou uma mulher gorda. Estas dores da exclusão levaram-me a desistir das expressões pela dança ou pelo teatro, as quais também integraram minha formação. Expor através do corpo ficou represado. Um corpo fora do padrão deve ser contido, assim, a certa altura da vida, parei de encenar e de dançar. Esta contenção extravasou-se pelo trabalho fotográfico, através do corpo, em suas performances. O auto-retrato e as autobiografias vieram à tona.
O que Fernanda Magalhães diz e vive vai além daqueles que estão fora dos padrões de beleza e saúde vigentes, mas conversa, sobretudo, com o feminino. Por isso é que a artista diz que as suas fotografias e o uso que faz de seu corpo e de sua constituição física no seu trabalho são “absolutamente políticos”.
O fato é que, na arte e na vida, há uma outra leitura do corpo do homem e também desse corpo masculino obeso. Questões de poder fazem com que eles recebam olhares diferentes daqueles destinados ao corpo de mulheres.
A revolução começa em você. Ame seu corpo!
Sobre Fernanda Magalhães
Fernanda Magalhães nasceu em 1962 em Londrina, PR. É artista, fotógrafa, performer, professora da Universidade Estadual de Londrina, Doutora em Artes, UNICAMP, Especialista em Fotografia, Universidade Estadual de Londrina, 1997. Membro da Rede de Produtores Culturais da Fotografia do Brasil desde 2010.
Recebeu o VIII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia 1995 Minc/Funarte pelo Projeto “A Representação da Mulher Gorda Nua na Fotografia”. Publicou os livros “Corpo Re-Construção Ação Ritual Performance”, Travessa dos Editores, 2010 e “A Estalagem das Almas” em parceria com a Escritora Karen Debértolis, Travessa dos Editores, 2006. Seu trabalho integra, entre outras instituições, o acervo da Maison Europèene de la Photographie em Paris, França.
Você pode conferir o trabalho dela no site Fernanda Magalhães e também no Flicker.