A crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus vai empurrar 500 milhões de pessoas para a pobreza a menos que ações urgentes sejam tomadas para ajudar países em desenvolvimento. O alerta sobre esta questão de desigualdade social em tempos de pandemia foi feito realizado pela Oxfam Brasil, por meio do relatório Dignidade, não indigência.
O documento foi citado por Tauá Pires, Coordenadora de Programas da Oxfam Brasil, durante a roda de conversa Desigualdades sociais e pandemia: como superá-las, realizada pela Nossa Causa, Oxfam Brasil, Casa Fluminense e Phomenta.
Entenda o contexto: desigualdade social e coronavírus
Em uma realidade em que a concentração das riquezas cresce cada vez mais nas mãos de um pequeno grupo de pessoas, em detrimento das milhares que vivem em situação de vulnerabilidade social, o Brasil não se diferencia do resto do mundo. Mas a dúvida que fica neste momento é: como será que a desigualdade social, a concentração das riquezas em tão poucas mãos, especialmente no Brasil (que é um dos países mais desiguais do mundo), se materializa em tempos de COVID-19? Como afeta os Direitos Humanos?
Em um contexto tão peculiar como o que vivemos em meio à pandemia de coronavírus, quais possibilidades estão postas para que possamos efetivamente diminuir o abismo social entre as classes, com o propósito de pensar uma sociedade brasileira mais equânime, mais equilibrada?
Veja esses dados recentes compilados pela Oxfam Brasil:
- Houve um aumento histórico no número de bilionários no mundo: um a cada dois dias entre março de 2016 e março de 2017. Atualmente são 2.043 bilionários. O Brasil ganhou 12 bilionários a mais no período, passando de 31 para 43
- Nove entre cada dez bilionários no mundo são homens
- A riqueza dos bilionários aumentou 13% ao ano, em média, desde 2010 – seis vezes mais rapidamente do que os salários pagos a trabalhadores, que tiveram aumento de apenas 2% por ano, na média, no mesmo período. Enquanto isso, mais da metade da população mundial vive com renda entre US$ 2 e US$ 10 por dia
- O patrimônio somado dos bilionários brasileiros chegou a R$ 549 bilhões em 2017, num crescimento de 13% em relação ao ano anterior. Ao mesmo tempo, os 50% mais pobres do país viram sua fatia da renda nacional ser reduzida ainda mais, de 2,7% para 2%
- O Brasil tem hoje cinco bilionários com patrimônio equivalente ao da metade mais pobre da população brasileira
Em meio à pandemia, esse cenário se torna ainda mais injustificável. Estamos, muito possivelmente, às vésperas de uma das crises econômicas mais agudas que o capitalismo mundial já experimentou, com danos difíceis de mensurar. Assim, não é difícil perceber que os efeitos da crise sobre as populações mais pobres tendem a ser ainda mais cruéis do que os efeitos sobre o “andar de cima”. Se é bem verdade que o coronavírus não escolhe quem vai infectar de acordo com a classe social, é bem verdade também que os efeitos sobre quem foi infectado tende a variar muito sim, de acordo com a classe social a que pertence o indivíduo.
Dados do Conselho Federal de Medicina de 2018 indicam que somente 532 dos 5.570 municípios brasileiros têm leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Isso equivale a menos de 10% das cidades do país. E mais: dos quase 45 mil leitos de UTI à disposição no Brasil, menos da metade (49%) faz parte do Sistema único de Saúde (SUS). Os outros 51% pertencem à rede privada, destinada aos usuários de planos de saúdes e convênios.
E por que isto é um problema? Simples: os usuários de planos de saúde respondem por apenas 23% da população. Ou seja: 23% da população tem à disposição 51% dos leitos de UTI do país, enquanto os outros 77%, usuários do SUS, dividem os 49% dos leitos restantes.
A roda de conversa
Com a participação de Camilla Ceylão (Nossa Causa), Tauá Pires (Oxfam Brasil), Henrique Silveira (Casa Fluminense) e Izadora Mattiello (Phomenta), a roda de conversa sobre Desigualdade no Brasil e como superá-la levantou pontos importantíssimos sobre a temática neste momento em que enfrentamos o novo coronavírus. Desde a realidade de pessoas em situação de vulnerabilidade social, até o papel das Organizações da Sociedade Civil neste momento de pandemia, vários tópicos valiosos e necessários foram compartilhados durante o diálogo.
De acordo Izadora Mattiello, CEO da Phomenta: inevitavelmente, assim como tudo que acontece no mundo, todos os reflexos da COVID-19 impactam as organizações da sociedade civil, com suspensão das atividades do lado dos atendidos, migração para um trabalho remoto dos funcionários e impactando até mesmo as fontes de receita e as finanças da organização.
Organizações que realizam atividades em grupos, sejam aulas, reforço escolar, oficinas artísticas ou mesmo reunindo grupos de voluntários para discussão de um assunto e ações na cidade terão em grande parte as suas atividades suspensas.
Apesar de necessária a suspensão das atividades para controle da disseminação do vírus, diversas perguntas ficam no ar, como por exemplo:
- Onde famílias que precisam trabalhar deixam seus filhos, quando a ONG é o local em que estes passariam o dia?
- Como crianças, jovens, adultos e idosos irão se alimentar, quando a ONG fornece as principais refeições do dia dessas pessoas?
- Como as pessoas que realizam tratamentos de saúde ou psicológicos, ficam quando a ONG fornece gratuitamente o acesso a esses serviços?
Quer saber mais?
Acesse gratuitamente a roda de conversa e confira tudo o que foi falado para aprender mais e se inspirar a combater o cenário de desigualdade sociais tanto quanto estamos combatendo a COVID-19: