Hoje acordei pensativo e comecei a refletir sobre a minha vida. Sobre coisas que me motivam, desmotivam ou nem importam. Percebi que na maior parte das vezes, as causas ou os motivos têm as mesmas fontes, que resumidamente são apenas três: medo, esperança e indiferença. Os fatores limitadores da vida.
Entender melhor estes topos me ajudam a lidar com eles e a ultrapassá-los quando se tornam barreiras.
Medo
Sei que o medo não é real, apesar da sua forte e incômoda presença, que é como o frio, apenas a ausência de calor, ou ainda, como a escuridão, que não passa de falta de luz. O único lugar onde o medo pode existir é em meus pensamentos sobre o futuro, como produto da minha fértil imaginação, que me faz temer coisas que não existem e talvez nunca cheguem a existir. Isso é quase uma loucura.
Por isso, o medo é um limitador que me faz cometer os mais terríveis erros. Desde agir precipitadamente ou sem pensar e machucar pessoas, incluindo eu, até procrastinar ou deixar tudo para ser feito no momento certo, nas condições perfeitas.
O tempo cruelmente vem me mostrando que nunca chegará o sonhado momento ou hora certa com as condições perfeitas. Simplesmente nunca chegará.
Assim o medo vai me limitando ou pelo menos tentando, então, se eu não o enfrentar ele acaba comigo. Assim, vou nesta interminável guerra onde não há vencidos nem vencedores.
Esperança
Assim como o medo, a esperança também não é real, sendo apenas fruto de meus instintos mais profundos de sobrevivência ou necessidades sociais e emocionais. Fazendo-me fria e cegamente acreditar em dias melhores.
Quando eu era criança, ouvia da minha família e em discursos políticos a afirmação “dias melhores virão” e isso era o suficiente para me deixar totalmente esperançado e revigorado. Agora, jovem adulto, continuo a ouvir a mesma frase, que repito todos os dias para mim mesmo, que os jornais me reforçam de tempos em tempos, a igreja enfatiza em alto e bom som quando anuncia o paraíso, e que a propaganda desequilibradamente evidência sem qualquer remorso. “Dias melhores virão”.
Na maior parte das vezes os dias melhores não chegaram, muito pelo contrário, foram ficando cada vez mais distantes. Mas em algumas poucas vezes, mas muito poucas mesmo, os dias melhores chegaram e fizeram valer a pena a espera, criando aqueles instantes que eternizo e chamo de felicidade.
Justificando assim, positivamente o constante estado esperançado que me encontro. Que por comodismo ou outro fator de necessidade psicológica me apego demais a esses momentos achando que vão se repetir em maior intensidade e frequência. E assim vou me prendendo a esperança. Transformando ela em algo extremante nocivo “negativo” para minha vida.
Indiferença
Por outro lado, algumas vezes não tenho medo, tampouco esperança, pois fico em um estado mental idêntico ao estado físico de micro gravidade “que é aquela sensação de ausência de peso experimentada pelos astronautas durante uma viagem espacial”.
Que me faz parecer papel leve e solto voando em belo prazer e direção do vento. Ou seja, com total falta de interesse, atenção, cuidado e consideração. Como afirma Zeca Pagodinho em seu clássico samba: “deixa a vida me levar”.
Fico num neutralismo puro, que dependo de onde a vida me levar, pode ser perigoso e sem volta e ficando totalmente limitado.
O medo me tira a vontade de vencer, a esperança me dá ela de volta, a indiferença zera a equação perigosamente. Em doses certas, estes ingredientes se tornam catalisadores de uma vida melhor e com grande significado. Mas em doses desequilibradas, eles se tornam limitadores de vida com alto potencial destrutivo e verdadeiros pêndulos para puxar qualquer pessoa para o tão temido fundo do poço.