Algumas coisas acontecem de maneira inteiramente inesperada. Mesmo quando pensamos que tudo está andando de maneira certa, às vezes nos deparamos com situações que nos testam o tempo todo. Mas nem sempre algo ruim é totalmente ruim, muitas vezes uma situação que parece negativa, e apesar de tudo indicar que ela não irá gerar mais frutos, pode provocar o contrário, disseminando em todos a vontade de prosseguir, de dar continuidade a um projeto que parecia, no momento, estar praticamente destruído.
Parte da história que conto aqui é verdadeira, aconteceu na ONG que fundei, outra veio em um sonho que tive. Quando acordei pela manhã, corri para o computador e a escrevi. Acho que tudo isso tem a ver comigo, com a vontade de ajudar, de ter prazer em ser voluntário, e de ter trabalhado com os voluntários mais fantásticos que conheci em minha vida. Alguns ainda estão por aí, fazendo sua parte, ou buscando outros caminhos, outros não estão mais entre nós, mas todos deixaram em meu coração a melhor parte que um ser humano pode ter, o amor ao próximo.
Como Ana Paula transformou vidas através do voluntariado
Ana Paula, como dizem por aí, era uma pessoa do bem. Ela morava na baixada Fluminense, em Nova Iguaçu, e aos 15 anos já era voluntária na Pastoral da Criança. Gostava de contar histórias e fazer teatro para as crianças que iam até a Pastoral com suas mães. Tinha um jeitinho especial que cativava a todos, principalmente os pequenos, um certo carisma que conquistava as pessoas. Assim que se formou, foi trabalhar em uma grande empresa no Centro do Rio de Janeiro. Era responsável pelo Departamento de Recursos Humanos dessa empresa e logo começou a ajudar nos projetos sociais que a empresa desenvolvia na comunidade vizinha, no Morro do Santo Cristo.
Ana Paula sempre tinha tempo para atender aos outros, era possuidora de uma grande capacidade de ouvir e aconselhar quem a procurava. Conseguia administrar seu tempo de forma que sempre estava ajudando alguém, ou envolvida em alguma atividade social da empresa. Gostava de se cuidar, mas nem por isso ela deixava de fazer a sua parte como voluntária. Fazia ginástica em uma academia, tinha prazer em fazer exercícios, mas percebeu que esse tempo seria melhor aproveitado se estivesse ajudando alguém. Então foi fazer caminhadas com um grupo de idosos de uma associação vizinha a sua casa. Pensava que assim seu tempo renderia mais. Ela era assim, gostava de se doar. Para ela não existia coisa melhor do que ser voluntária.
Mas um dia Ana Paula não apareceu mais na empresa, nem voltou para casa. Uma bala perdida a tirou desse mundo. No caminho para a empresa, em plena linha vermelha, aconteceu um arrastão e uma bala perdida atingiu seu peito. Se fazer o bem apenas lhe trouxesse a chance de em outro lugar ela ser feliz, Ana Paula estava feliz. Ela sempre procurou fazer alguém feliz, como não estaria feliz?
Na empresa, a morte de Ana Paula repercutira de uma forma que nunca fora vista. Seu trabalho tinha gerado frutos. Em todas as seções da empresa pelo menos um funcionário queria doar seu tempo, para dar continuidade ao trabalho de Ana Paula. Nada do que ela começou terminaria ali. Seu exemplo gerou multiplicadores e fez mais pessoas felizes. Ela tinha alcançado seu objetivo, fazer cada vez mais pessoas felizes.