Se é verdade que a melhor propaganda vem da indicação de conhecidos, e que discursos frequentemente repetidos e ouvidos são os que formam nossa cultura – a mesma que, quando pronta, olhamos com medo, pois parece um gigante imutável – será que estamos trabalhando a favor da cultura de bem-estar em que queremos viver?
Comecei a pensar nisso em coisas pequenas, como em pequenos estresses da vida cotidiana. O estresse às vezes tem uma ação importante sobre os seres humanos, pois nos faz tomar uma atitude diante do fator causador do estresse. Porém, creio que o estresse tem sido exacerbado na cultura da correria e do cultivo de sofrimentos. Pequenas coisas viram motivo de grande sofrimento, de maneira que a todo instante se estará ocupado com algum deles.
Mas porque isso tem que ser assim?
Muitas vezes na vida a dor se faz presente e é brusca, imprevisível e aparentemente incompreensível. Todo mundo já passou por grandes dores, desde a perda de alguém querido, passando pelo fim de um relacionamento amoroso, pela ruptura de uma relação profissional, até o susto de uma doença grave ou mesmo a dor da tomada de consciência da vida (as famosas crises existenciais: não costumo confiar muito em quem nunca passou por uma).
Sim, isso são motivos de dores reais, que sentimos e quase podemos pegar. Mas não, isso não tem que ser um sofrimento eterno. Se torna sofrimento na hora que alimentamos a dor e a amarramos a nós, como se aquilo fosse maior que qualquer coisa e fôssemos carregar aquela dor para sempre, só que maior e mais feia.
Às vezes algumas dores demoram mais para passar que outras, e têm mesmo que ser vividas.
O que comecei a observar é como somos responsáveis por multiplicar pequenos sofrimentos imaginários, cotidianamente e, na hora que compartilhados, esses sofrimentos se materializam, passam a pertencer a mais gente e quando a gente já ia se esquecendo deles outras pessoas continuam a multiplicá-los.
Um caso simples para exemplificar: uma pessoa que liga pra contar como outra a irritou mais cedo ao ligar para ela e só falar de problemas. Sem perceber, essa pessoa imitou quem a irritou, compartilhou o estresse gerado, gastou uma energia danada e demandou outro tanto de energia da interlocutora, na tentativa de se apaziguarem os ânimos. E isso se repete quando multiplicamos qualquer pequena coisa que não deu certo conosco em um dia de forma pesada e apegada, como se o banco estar fechado, a atendente do telemarketing não ter resolvido o problema ou o colega de trabalho não ter sido gentil fosse um problema insolúvel, o maior do mundo ou ainda, exclusivos daquela pessoa.
Todos nós temos problemas. E, claro, conversar sobre eles costuma ser uma ótima forma de resolvê-los.
Continuo sendo a favor disso, para os problemas de fato complexos. O meu convite, no entanto, é que antes de compartilhar o problema ou a dor, você pare para respirar por um minuto e se separe um pouco deles. Olhe-os com uma certa distância. Espere uns minutos. É algo de fato grande? Você quer só reclamar um pouco da vida ou quer construir sobre aquilo? Compartilhar vai te ajudar a resolver? Se a resposta for sim, vá adiante, e escolha uma pessoa de confiança para compartilhar o seu sofrimento.
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Agora, o segundo convite são as iniciativas que mais tem me interessado: além do problema, você também está compartilhando coisas boas? Porque se quando compartilhamos pensamentos ruins eles se multiplicam e ganham eco, isso também acontece com os pensamentos bons. Ouvir uma notícia boa de um amigo é sempre gostoso. Então, o segundo convite é para que também dediquemos tempo a compartilhar as coisas entusiasmantes, na tentativa de criar climas e ambientes mais positivos e propícios ao florescimento do melhor que há em nós, ao invés de ambientes tomados pelo pessimismo derrotista.
*Se você pratica outras formas de viralização do entusiasmo no imaginário coletivo, compartilhe aqui nos comentários ou mande para o meu email (natalia.afmenhem@gmail.com).
**A revista Harvard Business Review apresentou os dados de uma pesquisa mostrando que as reclamações de estresse em um ambiente corporativo diminuíram 15% após as pessoas começarem a dedicar dez minutos, no fim de seus dias, a escrever três coisas que deram certo no dia, na vida em geral, não só no trabalho. Quem sabe isso não é uma boa forma de elencar coisas boas a serem compartilhadas?