Não sou profunda conhecedora ou estudiosa da educação, minha formação não tem a ver com essa área, mas de uns anos para cá meu trabalho me aproximou de jovens aprendizes entre 14 e 18 anos. Assim, fui conhecendo um pouco melhor o cenário educacional, desenvolvendo interesse pelo assunto e, consequentemente, lendo mais a respeito.
Começo falando exatamente sobre o que considero um ponto fraco na realidade brasileira: a leitura. Apesar da taxa de analfabetismo estar diminuindo, é importante considerarmos que existe entre os seletos alfabetizados o analfabeto funcional – aquele que lê, mas não é capaz de compreender o conteúdo de um texto simples – que estava em torno de 27%* em 2015.
Outro ponto que vem sendo debatido ultimamente é a qualidade do que tem sido lido. Até que ponto vale repudiar escritores pouco conceituados por literatos, como John Green e Paulo Coelho, entre outros?
Assim como livros de auto ajuda e religiosos. São campeões de vendas, mas entregam efetivamente leitura de qualidade? Há controvérsias. Devo dizer que não recrimino quem os escolhe, vejo como louvável a iniciativa de ler um livro, mas não me interessam.
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Contribuindo com o grande número dos que pouco leem, há aqueles que não o fazem alegando falta de tempo. Essa justificativa não é privilégio dos jovens, mas eles têm grande participação nesse grupo, já que frequentemente deixam de ler em troca de outro tipo de entretenimento, a vida digital. Redes sociais e jogos costumam ter mais entusiastas do que livros.
É aí que vejo surgir uma boa oportunidade para a educação. Que tal juntar o prazer e o estudo, e passar a ensinar às crianças e jovens de hoje a lidar melhor com as máquinas, com a tecnologia que cada vez mais farão parte do dia a dia? Se gostam tanto de jogos, redes sociais, aplicativos, celulares, não seria interessante mostrar a eles como funcionam os bastidores? Como planejar, desenvolver e gerir tudo isso. Afinal, não são e serão eles os grandes usuários?
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Relevante pensar que esse tipo de profissional vai ser fundamental para fazer a economia girar, o mercado de trabalho vai exigir essa demanda. Então, não creio que se deva evitar e afastá-los de tudo isso, como costumam fazer os pais. Claro, é importante que haja discernimento, algum controle, talvez a educação tradicional não tenha que desaparecer por completo, mas me parece urgente que haja uma revisão de currículos, a inclusão de disciplinas ligadas à tecnologia e empreendedorismo, mesmo que como facultativas em um primeiro momento.
O mundo está mudando e hoje é perfeitamente possível e muito mais aceitável que se tenha inúmeros interesses, e não ficar preso a um só, aquele que leva a conquistar um diploma de curso superior. Não vejo absolutamente nenhum problema em querer fazer uma faculdade, prestar um concurso, ter um emprego dito “certinho”, mas é fundamental que se entenda que novas possibilidades estão surgindo.
Não à toa, vemos jovens procurando uma gama de cursos e profissões novas, querendo empreender, realizar sonhos. E esses anseios, muitas vezes passam por mais de uma escolha. É a multipotencialidade.
Naturalmente, os pais se preocupam e querem a segurança (seja física, emocional, financeira) dos filhos, mas nada garante isso, nem mesmo a combinação diploma/concurso público. Precisamos conhecer melhor os desejos das crianças e dos jovens, encorajarmos seus sonhos, darmos apoio e os deixarmos livres para fazerem as escolhas que vão impactar o futuro de uma geração.
*Fonte G1.
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