200 anos se passaram desde o fim do comércio negreiro e ainda convivemos com milhões de pessoas sendo vendidas e compradas no mundo inteiro. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, no relatório publicado em 2005, o tráfico de pessoas rende cerca de US$ 32 bilhões ao ano. Esse faturamento, unido a ampliação dos mercados, migrações e imigrações descuidadas, montaram um mundo de esperança e dor, onde o verbo trabalhar se conjuga da pior forma possível: o tráfico de pessoas é considerado uma forma de escravidão moderna.
A estimativa do relatório é que cerca de 2,5 milhões de pessoas são traficadas em todo o mundo, sendo 43% para exploração sexual, 32% para exploração econômica e 25% para os dois ao mesmo tempo. As principais vítimas desse atentado são mulheres e crianças, normalmente em situação vulnerável, responsáveis por gerar, anualmente, de US$ 7 bilhões a US$ 9 bilhões, respectivamente, perdendo, em lucratividade, somente para o tráfico de drogas e para o contrabando de armas. Esse índice fez com que o Ministério Público Federal, em sua cartilha “Tráfico de Pessoas: conhecer para se proteger”, destacasse a questão de gênero.
Historicamente, a sociedade trata os homens de forma privilegiada, os colocando em posição de destaque e considerando mais relevantes suas opiniões e valores, enquanto permite que a mulher seja discriminada. Nesse sentido, os homens costumam ocupar posição de superioridade, controle e domínio das mulheres – muitas vezes vistas como mero objeto a serviço de seus caprichos e vontades.
Em entrevista ao site Observatório Feminino, a Dra. Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil, concorda que a rentabilidade do corpo da mulher e o controle da sexualidade têm sido fatores importantes para manter o mercado do sexo. Essa construção vem de uma ideologia patriarcal, onde as mulheres têm o papel de submissão e servidão. Ou seja, precisamos desconstruir tudo que pensamos sobre as relações de gênero, onde definimos o papel da mulher e o que ela pode ou não fazer, e servir como abolicionistas desse pensamento que destrói diariamente a vida de tanta gente.
Como lutar contra isso?
A organização internacional 27 Million se tornou referência na luta, por ter como propósito a promoção da conexão, fortalecimento e empoderamento de organizações e indivíduos que estão na linha de frente na luta contra o tráfico humano.
Em 2014, eles lançaram o documentário R$1 – O outro lado da moeda, que faz um tratado da trajetória e números que impulsionam a exploração sexual no Brasil. O documentário conversou diretamente com o momento que o Brasil vivia, Copa do Mundo, talvez um dos momentos de maior evidência da exploração sexual no país.
Você pode conferir o filme na íntegra no site da 27 Million Brasil. Lá você encontra cadernos temáticos sobre o tráfico de pessoas, rede de auxílio e como se engajar na causa.