Hoje é comemorado aniversário de Ida B. Wells, uma mulher afro-americana que nasceu no ano de1862, em Holly Springs, Mississippi. Ela foi pioneira no uso do jornalismo para a luta contra a supremacia branca e a segregação. Ela documentou o linchamento nos Estados Unidos, mostrando que ele foi muitas vezes usado como uma forma de controle e punição dos negros que competiam com os brancos, em vez de ser baseado em atos criminosos por negros, como normalmente era reivindicado pelos brancos.
Ela foi ativa no movimento pelos direitos das mulheres e sufragista, estabelecendo a organização de diversas mulheres notáveis. Com sua oratória impecável, Wells viajou o mundo palestrando.
Ela ficou conhecida pelo grito
A maneira de corrigir os erros é colocando a luz da verdade sobre eles. (The way to right wrongs is to turn the light of truth upon them.)
Hoje ela foi homenageada por um doodle, do Google, mas que só está disponível nos Estados Unidos. Eles comemoraram dizendo: “Nós saudamos Ida B. Wells com um Doodle que comemora seu vigor jornalístico e seu compromisso inequívoco com o avanço das liberdades civis”, diz o Google.
Diferentemente da sua antecessora Harriet Tubman e da sua sucessora Rosa Parks, ela é, em grande parte, desconhecida fora dos Estados Unidos. Por isso que, com a ajuda dos sites Heavy e The Independent, separamos alguns fatos sobre a vida de Ida B. Wells e porque deveríamos falar mais sobre ela também no Brasil:
1. Ela nasceu como escrava no Mississipi
Isso aconteceu porque a lei de Proclamação de Emancipação só foi assinada pelo presidente Abraham Lincoln em 1863. Sua mãe cozinheira e seu pai carpinteiro, ambos escravos até a proclamação, e, depois, participantes ativos do Partido Republicano. Faleceram de febre amarela e a deixaram, junto com seus 7 irmãos, aos cuidados de uma tia, em Memphis, Tennessee. Ela trabalhou como professora para sustentar a família, mas foi afastada da escola por ser contra o racismo.
2. Ela se negou a dar seu lugar a um homem branco no trem em Memphis
Antes de Rosa Parks ficar famosa pelo ato, Wells já havia, em 1884, se negado a dar seu lugar no trem a um homem branco. Ela processou a empresa ferroviária, nos termos da Lei 1.875 dos Direitos Civis que proibi a discriminação com base em raça, mas a sua vitória foi anulada pelo Supremo Tribunal de Tennessee. Tinha sido atribuído a ela US $ 500, mas o tribunal superior a obrigou a retornar esse dinheiro e pagar um adicional de US $ 200 em danos para a estrada de ferro.
Isso aconteceu 12 anos antes de ser instaurada a doutrina “separados mas iguais” (separate but equal), doutrina que o movimento dos direitos civis na década de 1960 estava lutando contra.
3. Ida B. Wells se tornou uma das primeiras jornalistas investigativas
Sua ação judicial contra a empresa ferroviária a inspirou a fazer mais pela luta pelos direitos de igualdade de afro-americanos.
Após o incidente, ela recebeu a oferta de um emprego no jornal Evening Star, em Washington DC e também escrevia um artigo semanal para o The Way sobre raça. Em 1889, ela fundou seu próprio jornal anti-segregação em Memphis chamado de Free Speech and Headlight.
4. Ela começou uma campanha para destacar as realidades brutais de linchamento depois que seus amigos foram assassinados
Em 1889, seu amigo, Thomas Moss, abriu uma mercearia bem sucedida em uma estrada de propriedade de brancos em Memphis.
Quando Moss estava fora da cidade, uma multidão branca invadiu e destruiu a sua loja e três homens brancos ficaram feridos. Moss e outros dois homens negros foram presos e encarcerados com julgamento pendente. Uma multidão de linchadores invadiu a cadeia e enforcou os três homens.
Investigando o assassinatos de seus amigos e outros ataques que encontrou, ela percebeu que os negros estavam sendo assassinados por não pagar dívidas, por não dar lugar aos brancos na estrada ou ter mais sucesso nos negócios.
Uma multidão quebrou seu escritório do jornal em 1892, mas ela não tinha medo e viajou pela América e Reino Unido dando palestras sobre o que realmente significava ser negro nos estados do sul.
5. Seu trabalho tem sido citado como um exemplo para o movimento dos direitos civis de hoje
Wells tem sido vista como uma inspiração para gerações de ativistas de direitos civis que continuam a lutar pela igualdade para afro-americanos. Ela é citada por todos que conhecem e reconhecem o peso do seu trabalho hoje.
Em 2013, uma de suas bisnetas, Michelle Duster, disse:
Eu acho que Ida B. Wells deve ser lembrada como uma mulher afro-americana que lutou tanto pelo racismo como pelo sexismo, numa altura em que era extremamente perigoso falar. Ela usou seu dom de escrever, falar e organizar para ajudar a lançar luz sobre a injustiça. Ela era extremamente corajosa e segurou firme as suas convicções, apesar de ser criticada, condenada ao ostracismo e marginalizada por seus contemporâneos.
Somos os contemporâneos que ignoram o trabalho de Wells. Que tal parar para pensar sobre a mulher negra no Brasil hoje? Vamos fazer valer a luta de Wells, que não foi só pelos negros americanos, mas por tod@s.