A questão de uma alimentação consciente envolve muitas esferas – saúde, ética, política, social e ambiental. Você pode aderir por uma delas, por todas, ou simplesmente não aderir. Mas tomar consciência é o primeiro passo para que haja uma mudança na sua conduta.
Somente para iniciar, poderíamos começar com um assunto bem atual e um tanto polêmico: os transgênicos. Pauta em discussão na Câmara em abril, seguiu para o Senado com a aprovação do projeto de Lei 4.148/2008.
Já ouviram falar de Heinze? Pois bem, Luiz Carlos Heinze (RS) é o deputado federal autor deste projeto, que elimina a obrigatoriedade do símbolo da transgenia nas embalagens com menos de 1% de componentes transgênicos. Agora, a exigência de informar este item seria apenas para produtos que possuam quantidade de OGM superior a 1% na sua composição final. A isso, soma-se o fato que cerca de 80% a 95% dos transgênicos (milho e soja respectivamente) produzidos com sementes geneticamente modificadas, são transformados em derivados. O que praticamente impossibilita a identificação da origem transgênica maior do que 1% nos produtos.[1] Pior que procurar agulha no palheiro, não é?
A discussão da junta se deu entre ambientalistas e oposição ruralista. Heize declarou que o símbolo dos transgênicos se assemelham àqueles de produtos venenosos e inflamáveis, e assustam os consumidores[2]. Mas será que estes produtos não são de fato venenosos? De qualquer forma, a medida com certeza dificultará a imediata identificação que a facilidade sensorial do triângulo com um T maiúsculo possibilitava, concordam? Nesse sentido, Alessandro Moolon (RJ) ressalta: se o transgênico realmente fosse essa maravilha, porque retirariam o símbolo que identifica a presença do mesmo?[3]
Promessa não é dívida
No auge do debate sobre a implementação de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) na agricultura, um dos principais argumentos de persuasão foi que os OGM ocasionariam uma diminuição do uso de agrotóxicos, uma vez que as plantas desenvolvidas seriam resistentes a pragas. Mas quase 20 anos depois, verificou-se exatamente o contrário. Além do aumento no uso de agrotóxicos, foi preciso desenvolver venenos ainda mais fortes, pois os transgênicos deram origem a pragas mais robustas, o que acaba por provocar uma “reação em cadeia” sem fim. Esse foi um dos aspectos levantados no painel “10 anos da Lei de Biossegurança e os Transgênicos no Brasil”. Para o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, hoje em dia não é possível dissociar agrotóxicos de transgênicos.[4]
A indústria da biotecnologia distribui sementes para cooperativas agropecuárias e após conquistar o mercado, vende somente aquelas mais lucrativas. Bela estratégia, não? Além disso, as plantas geneticamente modificadas produzem sementes estéreis, o que obriga o produtor a compra contínua de sementes. Os produtores se tornam reféns das transnacionais, que dominam não só a produção de sementes, mas toda a cadeia agroalimentar, condicionando o uso de agrotóxicos e inclusive a parte logística, o transporte e a exportação. O agricultor não pode mais produzir sementes convencionais e ainda deve pagar royalties às empresas.[5]
A indústria de transgênicos por excelência
O nome Monsanto é familiar para vocês? Para começo de conversa, existe um dia mundial contra essa mega empresa de engenharia genética. O que será que ela faz de tão nefasto? A revista Fortune já a definiu como “possivelmente a corporação mais temida da América”.[6] Mas ela não é a única do clube dos transgênicos. Conhecidas como “Gene Giants” (Gigantes da Genética), outras cinco transnacionais fazem parte deste elenco: Syngenta (Suíça), Dupont (EUA), Basf (Alemanha), Bayer (Alemanha), e Dow (Eua).[7]
A Monsanto é artífice de nada menos do que 12 produtos tóxicos, como sacarina, aspartame, agente laranja (utilizado para matar civis na guerra do Vietnã), DDT, e Roundup. Praticamente uma indústria do câncer.[8] O documentário “O Mundo segundo a Monsanto” revela as reais consequências do emprego do Roundup, o herbicida mais querido do mundo. Foi considerado um “artefato revolucionário” da indústria química, até que os fatos desmascarassem esse embute. Por conter a palavra biodegradável no rótulo, foi sentenciado por propaganda enganosa nos EUA e França. O “pó mágico” acabava com as ervas daninhas que até então tinham que ser recolhidas manualmente, e deixavam as plantações (geneticamente modificadas), intactas. Obviamente conseguiu seduzir os agricultores, que economizavam tempo e dinheiro.
O filme alerta que o glifosato, nome comercial do produto, não provoca diretamente o câncer, mas desencadeia os primeiros estágios da doença, devido a mutação genética que origina. Os resultados podem aparecer daqui a 30 ou 40 anos, mas nos EUA já existem casos concretos de danos à saúde humana e ao meio ambiente. Nesse sentido, o biomédico Luiz Maranhão sustenta que não é possível prever as reais consequências da transgenia para saúde. Somente as próximas gerações poderão mostrar os efeitos da mesma. Afirma, ainda, que “estamos sendo cobaias dos grandes aglomerados internacionais financeiros”.[9] No entanto, a toxidade do Roundup foi ocultada para não atrapalhar a comercialização dos transgênicos. Como de costume, a lógica do lucro e da mais valia prevalece, e o lobby das grandes empresas elimina os “entraves burocráticos”. Foi o que ocorreu nos EUA e parece que as coisas por aqui tomam o mesmo rumo, a começar pelo simples fato de que o monitoramento de biossegurança é feito pela própria empresa que vende o produto. Conflito de interesse? Pesquisa de caráter duvidoso?
[1] Carta Capital – O debate dos transgênicos http://www.cartacapital.com.br/economia/o-debate-dos-transgenicos-7872.html
[2] Agência Brasil – http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-06/orgao-da-sociedade-civil-alertam-sobre-o-fim-da-rotulagem-de-transgenicos
[3] Carta Capital – Câmara aprova retirada de aviso de produtos transgênicos http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/camara-aprova-retirada-de-aviso-de-produtos-transgenicos-175.html
[4] Notícias Naturais – Ao contrário do Prometido, transgênicos trouxeram aumento do uso de agrotóxicos http://www.noticiasnaturais.com/2015/07/ao-contrario-do-prometido-transgenicos-trouxeram-aumento-do-uso-de-agrotoxicos/
[5] Repórter Brasil – Grupo de seis empresas controla mercado global de transgênicos http://reporterbrasil.org.br/2013/11/grupo-de-seis-empresas-controla-mercado-global-de-transgenicos-2/
[6] Outras Palavras – As razões do dia mundial contra a Monsanto http://outraspalavras.net/destaques/as-razoes-do-dia-mundial-contra-a-monsanto/
[7] Repórter Brasil – Grupo de seis empresas controla mercado global de transgênicos
[8]Cultivos Transgênicos estão destruindo Terras Agrícolas, e a Monsanto não quer que você saiba http://www.noticiasnaturais.com/2014/11/cultivos-transgenicos-estao-destruindo-terras-agricolas-e-a-monsanto-nao-quer-que-voce-saiba/
[9] Agência Brasil – http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-06/orgao-da-sociedade-civil-alertam-sobre-o-fim-da-rotulagem-de-transgenicos