As câmaras municipais brasileiras e os grupos religiosos estão em uma cruzada para evitar que a palavra “gênero” passe a fazer parte dos planos municipais de educação, o conjunto de metas que as prefeituras terão que adotar pelos próximos dez anos e que estão sendo votadas em vários pontos do país neste ano.
O que acontece é que desde que nascemos somos ensinados sobre o que podemos e o que não podemos fazer de acordo com nosso gênero. Isso tudo começa com a cor do enxoval, menina brinca de boneca e menino brinca de carrinho. O problema disso é que esse ensino é carregado de hierarquização porque os meninos aprendem que podem fazer mais coisas e as meninas aprendem que devem ser contidas e submissas. O resultado vem lá na frente: hoje são 5 mulheres vítimas de violência doméstica a cada 2 minutos no Brasil.
Ainda não se convenceu? Veja outros motivos pelos quais é preciso falar sobre gênero na escola:
Divisão desigual de tarefas
A Plan Brasil realizou uma pesquisa com meninas de 6 a 14 anos, em 2014, e os resultados apontam que a desigualdade começa em casa e na infância: 81,4% das meninas entrevistadas responderam que arrumam a própria cama, 76,8% lavam a louça e 65,6% limpam a casa, enquanto apenas 11,6% dos seus irmãos arruma a própria cama, 12,5% lavam a louça e 11,4% limpam a casa.
Esse tempo dedicado ao trabalho doméstico faz com que as meninas tenham menos tempo para se dedicar aos estudos, com consequências na carreira profissional. Essa divisão de trabalho está tão naturalizada que as mulheres passam o resto da vida se desdobrando em jornadas triplas e os homens, ganhando mais.
A discussão do tema na escola mostraria que todos são responsáveis pelas tarefas de casa e que a paternidade envolve muita dedicação aos filhos.
Machismo dentro da escola
Outra pesquisa, desta vez realizada pela Agência ÉNois, entrevistou garotas entre 14 e 24 anos e revelou: 39% delas já sofreu algum preconceito dentro da faculdade por serem mulher. Os casos envolvem colegas e professores em situações de discriminação, assédio e sexismo.
Outra informação importante colhida pela pesquisa é que 77% das garotas acham que o machismo afeta o seu desenvolvimento. Isso acontece porque as meninas crescem ouvindo que não podem realizar certas atividades, que determinadas profissões são “masculinas” ou que elas devem adotar um tipo de comportamento que as limita. Isso as poda, acaba com a autoestima e ensina que elas não são capazes somente por serem do gênero feminino.
Pensar a igualdade pode ser simples
Primeiro, devemos lembrar que a mudança começa em cada um de nós. Ao menos que você pense que homens são melhores que as mulheres e que as coisas devem continuar como estão, é bom você repensar e estudar um pouco mais sobre as questões de gênero. Levar as discussões para dentro da escola talvez seja a melhor forma de promover a equidade e combater os altos números de estupros, feminicídios e violência doméstica, além de desestimular a desigualdade salarial e outras tantas mazelas que se baseiam no machismo.
Confira a campanha Respeito se aprende na escola:
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