Ser feliz, tem preço?
“Vamos viajar no Carnaval?” indaga um amigo a outro.
“Não posso. Preciso trocar de carro.” responde o segundo.
“E qual o motivo? É velho?”
“Na verdade não. Tem dois anos mas já está na hora de me atualizar.”
É curioso notar como muitas pessoas em plena atividade profissional destinam boa parte dos resultados monetários do seu trabalho para a tarefa de ter. Aspectos tão importantes quanto (senão mais em muitos casos) como ser, conhecer ou conviver ficam relegados a segundo plano.
É fato que o século XXI e a sua chamada economia do conhecimento trouxe o início de algumas mudanças. Essas mudanças são uma maior participação do setor de serviços na produção da riqueza dos países (o que os economistas chamam de PIB), uma maior importância da tecnologia da informação nas nossas vidas, a queda de barreiras legais e culturais entre países com a popularização do transporte aéreo, aproximação entre autoridade governamentais de países pelo globo e uma maior preocupação com saúde, qualidade de vida e equidade sócio-ambiental pelas populações mundo afora.
Porém, esse novo cenário que se monta está distante do consumismo voraz estimulado pelos meios de comunicação de massa (sobretudo os intrusos que oferecem coisas em situações e contextos que na maior parte das vezes não precisamos) e pela cultura orientada a status social que insiste em ser um importante motor da atividade econômica.
Muitas vezes a pessoa, pela vontade de ocupar um lugar de destaque na organização que trabalha, estuda e/ou participa de alguma forma, abre mão de aspectos muito importantes da sua vida como o convívio com familiares e amigos, a falta quase completa de busca do aprendizado constante (não somente técnico/profissional mas também a respeito de temas diversos como arte e cultura) e também do auto-desenvolvimento interior (espiritual/físico). A sociedade passa a ser dessa forma extremamente enviesada pelo reconhecimento através da posse, exibicionismo e consumo de bens e serviços e outras formas de produção e distribuição econômica.
Da mesma forma, por outro lado, existem focos de indivíduos que voluntariamente, ao priorizar outros aspectos da sua vida (além do econômico financeiro) e nadarem contra a maré, passam a adotar estilos de vida alternativos ao estabelecido e descobrem novos talentos e habilidades para poder buscar o que chamam de plenitude: a busca do limite do potencial de cada um de nós e a vivência diária da felicidade, essa palavra tão importante e de difícil definição.
A esse movimento deu-se o nome de simplicidade voluntária: abrir mão do atual padrão de consumo para buscar viver outras experiências alheias as Ciências Econômicas. O primeiro passo para se lançar nesse jornada é uma auto-avaliação: descobrir o que realmente importa para cada um de nós, pois o hiato existente entre os que muito tem e aqueles que nada possuem mostram que o atual modelo não é efetivo e preciso de ajustes e reparos.
Dessa forma fica a pergunta: quem somos nós? E a resposta passa a ser o ínico de uma jornada diária que pode durar a vida toda. Enganam-se os que acreditam que esse movimento pode ser tedioso. Repleto de descobertas e surpresas, o caminho do auto conhecimento permite um maior controle sobre o tempo e a energia que possuímos e escolher o destino desses, tão importantes e valiosos, recursos que possuímos.
Aplicá-los em algo que está alinhado com o nosso propósito interno e com a nossa essência pode ser muito mais poderoso na vivência da felicidade que a possibilidade de guiar uma Ferrari em Hollywood ou passar uma semana em Mônaco com tudo pago. Não que as últimas sejam opções pouco atraentes, mas será que vale o preço? A resposta cabe a cada um de nós.