E hoje você me olhou como a primeira vez. Não procurando respostas, mas com aquele sorriso no olhar, como quem quer dizer: “Estou feliz por estar perto dos meus 10 anos.”
Ah meu Pedro, se pudesse escrever uma carta para que você lesse daqui dez anos, te diria mais ou menos assim:
Hoje quando você estiver lendo esta carta ou quando eu estiver lendo-a para você, vamos lembrar juntos por tudo que passamos.
Por todas as vezes que te rodei num passo de dança, ou que na largada de uma corrida apertei levemente sua mão, para que não esquecesse que estava vivo e se movimentando.
Por aquele dia que você ficou gargalhando, pois fui tirar uma foto do motorista estacionando na vaga de cadeirante e acabou a bateria do celular.
Quando entrei no quarto à noite pra ver se estava tudo bem e você apertou os olhinhos fingindo dormir.
Quantos momentos guardados nos nossos códigos num infinito particular.
E hoje, ao ler esta carta, você vai recordar do seu aniversário de dez anos e vamos rir juntos das lembranças.
Cada olhar, cada sorriso nosso não fica guardado só no coração, mas no perfume da alma do universo. Eternizado como uma estrela.
Você vai ter a certeza de ter respondido todos os meus porquês. O porquê da síndrome. O porquê da limitação
E vamos chorar juntos de gratidão por ter me ensinado a fazer tanto com tão pouco.
A não desperdiçar a chance de um sorriso. A ter este olhar de primeira vez pra tudo. A olhar pipocas como diamantes.
Ao ler esta carta talvez eu, talvez você, não esteja aqui, mas isso realmente não vai importar, pois já estamos um no outro, onde termina meu braço começa sua mão. Onde termina minhas pernas, enxergo seus pés.
Esta carta é para dizer gratidão, meu filho, por me mostrar que o universo é muito além do que podemos enxergar. Que o mundo é mais lindo do que podemos imaginar.
E finalmente, que ser diferente não é uma deficiência, mas a forma como podemos olhar a novidade à nossa volta.
E um segredinho nosso: você é um filho mais que perfeito. E se outras vidas tivesse, em todas escolheria você assim, desse jeitinho.
De sua mãe, Karol.
Compreendendo que tudo na vida é uma questão de perspectiva, procure sempre o melhor ângulo de ver os acontecimentos à sua volta. – Karolina Cordeiro