As mulheres já conquistaram muitos direitos graças à sua luta: podem votar, trabalham fora e têm leis específicas para protegê-las, como a Maria da Penha. Tanto que existem pessoas que acreditam que o feminismo não é mais necessário atualmente. Argumentam que reclamar de opressão contra as mulheres é “vitimismo”. Mas a verdade é que o machismo, embora seja menos intenso, continua presente. E uma das maiores manifestações disso acontece na publicidade.
Os anúncios de produtos de limpeza, por exemplo, quase sempre utilizam atrizes e são dirigidos exclusivamente ao público feminino, como se cuidar dos afazeres domésticos fosse obrigação apenas das mulheres. As campanhas de cerveja são o caso mais típico: embora o número de anúncios com modelos de biquíni esteja diminuindo gradativamente, as mulheres são geralmente tratadas como um objeto sexual, como se sua única função no mundo fosse agradar os homens. E como se elas não bebessem cerveja.
Pouco antes do carnaval, uma campanha da Skol gerou polêmica por sugerir que as pessoas esquecessem “o não em casa”. A marca voltou atrás e lançou uma nova campanha, incentivando o respeito ao não das mulheres. Mesmo assim, essa ação incentivou as publicitárias Thais Fabris, Larissa Vaz e Maria Guimarães e lançarem a cerveja Feminista. A intenção das criadoras é estimular o debate em relação aos estereótipos machistas da publicidade e levar a discussão sobre feminismo para a mesa de bar e para os almoços em família. Assim, também busca desfazer mitos como “feminismo é o contrário de machismo”.
A cerveja Feminista é a primeira ação de conscientização do grupo 65|10 e está em fase de pré-venda no site. O nome do grupo, aliás, é mais uma crítica ao machismo que ainda existe na propaganda e na sociedade brasileira: 65% é a parcela de mulheres que não se identificam com a forma como são retratadas nos anúncios e 10% é a proporção de mulheres trabalhando no departamento de criação das agências brasileiras.
Muitos podem acreditar que essa discussão é desnecessária e que as mulheres já têm direitos iguais na sociedade. Outros podem perguntar: “porque cerveja Feminista e não Humanista ou Direitos Iguais?”. O feminismo é a defesa de direitos iguais para ambos os sexos. Mas, via de regra, como as criadoras da cerveja explicam em sua fanpage, o sexo oprimido é justamente o feminino, por isso a necessidade desse termo. E como dissemos anteriormente, o feminismo é muitas vezes retratado como “vitimismo” ou “mimimi”, como se as mulheres ainda não sofressem opressão. Não é o que as estatísticas de estupros, os relatos de assédios e até a forma como as mulheres são tratadas pela mídia demonstram. Mas isso é assunto para outro post.
O interessante, no caso da cerveja Feminista, é que mesmo que muitos torçam o nariz para ela por causa do seu nome ou da sua temática, isso irá gerar um debate sobre o tema. Um debate que pode ser importante para desconstruir tanto estereótipos da propaganda brasileira, quanto estereótipos que muitas pessoas que não conhecem feminismo têm sobre o movimento.
Com informações do Brainstorm 9 e Update or Die.