Nos últimos anos vemos crescer o espectro de pessoas que não se satisfazem mais com carreiras tradicionais, não vêem sentido em contribuir como meros figurantes num cenário de exploração do trabalho, incentivo ao consumo desenfreado, instabilidade política, crises econômicas e catástrofes ambientais. Já faz algum tempo que falamos que esses jovens – a geração Y – nasceram em busca de um propósito.
Existe um ótimo estudo sobre o perfil desse jovem brasileiro publicado em 2010 chamado Sonho Brasileiro, e depois, em 2014, o Sonho Brasileiro na Política. Mais atual do que nunca, as conclusões se mostram promissoras para um futuro de cidadãos e profissionais mais engajados e comprometidos com seu impacto na sociedade.
O que tenho percebido agora, seja pela urgência em rever modelos e paradigmas no Brasil e no mundo, seja pela influência dessa nova geração, é que não só os jovens querem “mudar o mundo” como pessoas de diversas faixas etárias e diferentes experiências na carreira, que estão na mesma busca de sentido, questionando os moldes que lhes foram dados e buscando fazer com que os seus talentos e expertises contribuam para a transformação de um mundo melhor. Surgem mais e mais carreiras de Impacto Social.
Não mais como um trabalho esporádico, voluntário ou filantrópico, mas como uma urgência de redirecionar e ressignificar todas as áreas de atuação e mostrar seu papel na sociedade. Afinal, todas as profissões e carreiras surgiram para atender alguma necessidade das pessoas, não é? E quando chegamos num ponto em que isso foi esquecido e substituído pela simples noção de troca do esforço pelo dinheiro as coisas podem ter se perdido um pouco.
Ainda em tempo de nos conciliar com o verdadeiro propósito de nossa profissão, trazendo a visão do impacto social para os diferentes setores e profissionais, foi que surgiu o Programa Jovens Profissionais do Desenvolvimento (JPD), que hoje está com inscrições abertas para sua 5ª edição e já contribuiu para a transformação de carreira de mais de 60 pessoas, jovens de 17 a 37 anos, sem limites de idade.
As três esferas de transformação
1. Transformação de si: desenvolvimento integral
Nesse programa, a primeira descoberta é que, o jovem que chega querendo mudar o mundo, logo percebe que precisa começar transformando a si mesmo, essa é a primeira esfera do que chamamos de uma Aprendizagem Transformadora. Passa então por uma jornada de autoconhecimento, revisão de seus modelos mentais e de seus paradigmas pessoais. Entendendo que não existe nada que ele queira mudar lá fora que não esteja também dentro, e que é muito importante cuidar do seu próprio desenvolvimento para se tornar um protagonista e agente de transformação. Ele é convidado então a olhar para si de forma integral, estimulado por práticas que abrangem corpo, mente e alma que aos poucos quebram aquela barreira construída pela crença de separação entre vida, trabalho e propósito.
2. Transformação das relações: um novo sentido na carreira passa por novas formas de colaborar
Muitos profissionais que já entraram em contato com essa busca por propósito e por “mudar o mundo” engajam-se em programas, cursos, projetos e até parcerias imaginando que a sua grande ideia, o seu projeto, start up ou aplicativo, será capaz sozinho de gerar o impacto social que ele deseja. Imediatamente eles também percebem que mudar o mundo é mais do que fazer projetos, é fazer projetos para e com outras pessoas e isso costuma ser um ponto chave para o sucesso ou insucesso da empreitada.
Sem dúvida conhecer e se conectar com pessoas que também querem gerar impacto é fundamental para começar. Sem dúvida exercitar a criatividade capaz de olhar os desafios do mundo como oportunidades de gerar soluções é outra habilidade essencial para o Empreendedorismo Social. Porém, quando transferimos a mesma lógica de mercado e dos negócios, que é a lógica escassa da competição, do foco extremo no resultado sem o olhar para o processo humano que recheia qualquer iniciativa, muitas vezes se reproduzem também aqueles efeitos que detestamos no universo do trabalho tradicional: frustração, ansiedade e projetos que não têm continuidade ou o impacto desejado.
É por isso que no JPD a segunda esfera de transformação é trabalhada nas relações de time, em que o trabalho colaborativo de fato leva as pessoas a contribuírem com o seu melhor e alcançarem níveis mais profundos de processo e resultado. Por esse motivo, substituímos as ferramentas tradicionais de Projetos de Impacto Social, que muitas vezes consideram dados estatísticos e sociais, e adotamos o design centrado no ser humano – a versão do Design Thinking para Inovação Social, que permite uma descoberta empática com as pessoas que fazem parte do projeto. Além de muita cocriação e métodos ativos de aprendizagem, o programa também traz à luz novas formas de conversar e se relacionar com empatia, comunicação não violenta e com diversas práticas como as da Arte de Anfitriar Conversas Significativas, por exemplo.
3. Transformação de sistemas – o impacto social é sistêmico!
Agora sim, depois de transformar a si mesmo e suas relações, estamos chegando à terceira esfera de transformação, o tão esperado Impacto Social. Mas, espere, qual é esse mundo que estamos querendo mudar?
Uma nova forma de olhar para o desafio também é estimulada, através de métodos inovadores, alinhados com a complexidade e interdependência do cenário que se quer transformar. Se as ferramentas de projetos sociais tradicionais ensinavam a fazer um projeto X que levava a um impacto Y, os novos métodos dão uma relevância maior ao ecossistema desse projeto, entendendo que a complexidade de qualquer contexto social merece mais do que uma lista de stakeholders, pois suas causas e efeitos não são lineares, assim como suas soluções, que são múltiplas e interdependentes.
Entender essas relações com o uso de modelos como Iceberg e Mapa Sistêmico são algumas das práticas sugeridas de início. Na sequência, o importante é saber que o seu projeto ou empreendimento não irá sozinho mais longe do que poderia ir se for fortalecida a atuação de todo o ecossistema, isso é, as partes interessadas, desinteressadas e até aquelas antes vistas como “concorrentes” da sua ideia. Afinal, estamos todos pela mesma causa, não?
E como diz Bill Drayton, fundador da Ashoka e quem cunhou o termo Empreendedorismo Social:
Se alguma coisa poderia ser mais poderosa do que uma grande ideia nas mãos de um grande empreendedor, seria uma ideia ainda maior nas mãos de muitos empreendedores!
Projetos e iniciativas que forem desenhadas com as pessoas e de forma integrada com outros atores, setores e iniciativas terão muito mais chance de se desenvolver e alcançar um impacto sistêmico. Este sim capaz de transformar a realidade e mudar o mundo. Talvez precisemos rever o conceito de impacto social calculado dentro dos limites de um só projeto e nos engajar em criar mais iniciativas em rede!
Faz sentido?
Essa é a lógica que buscamos propagar nas experiências de Aprendizagem Transformadora na Sociedade Global e são essas as esferas que acontecem, todas ao mesmo tempo, durante a jornada do Programa Jovens Profissionais do Desenvolvimento.
No JPD esses profissionais que entram querendo mudar o mundo saem agentes de transformação preparados para gerar impacto social a partir de uma perspectiva sistêmica, olhando o todo e levando consigo métodos, ferramentas e principalmente tato com as pessoas que encontrarão no caminho. Fortalecemos assim uma rede de influência positiva não só no setor social, como em todos os setores e áreas de atuação.
Se fez sentido e você também gostaria de participar dessa jornada nos próximos 4 meses, clique aqui e inscreva-se agora! Faltam poucos dias para as inscrições se encerrarem!
Mais informações: contato@sociedadeglobal.org.br