Vida descartável

Redação
24 de junho de 2016
  • Geral
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Após o fim da 2ª Guerra Mundial, Europa e Estados Unidos buscavam retomar o desenvolvimento. Assim, tomaram uma decisão: as indústrias iriam produzir, gerar empregos, salários e consumo.

Na época, surgiu uma solução provisória: diminuir a vida útil dos produtos industrializados para aumentar o consumo e alavancar a economia. Não se imaginava o impacto social daquela iniciativa.

Com isso, eliminou-se a ideia do produto “para toda a vida” baixando a qualidade dos produtos, estes estragavam mais rapidamente e outros deveriam ser comprados. A ideia prosperou, mas o que deveria ser provisório virou permanente. O consumo em larga escala ganhou importância e montaram uma política econômica a partir dali.

Com o avanço das comunicações e transportes, criou-se o mercado global, que disponibilizava para o consumo produtos de baixa qualidade. Novos produtos, aliados a uma industrialização veloz, ajudaram a criar uma nova realidade, com a promessa de um mundo de paz, conforto e abundância.

Mas os hábitos e valores sociais também sofreram impacto. O movimento hippie, nos anos 60, exigia o direito de ter um novo padrão de comportamento, rejeitando a autoridade tradicional da família, da escola, igreja e polícia, o que assustou muita gente.

O surgimento dos métodos anticoncepcionais, das drogas, do afrouxamento dos controles sociais, inauguraram uma nova era em que a aderência ao prazer temporário veio com toda força. A ideia de uma vida descartável. Durabilidade já não era tão importante, mas sim o conforto e o prazer, mesmo que por pouco tempo.

Para que dar-se ao trabalho de preparar alimentos, uma vez que é bem mais fácil recorrer aos fast foods? Compram-se roupas e produtos novos com maior frequência, porque espera-se que não durem muito tempo. Os relacionamentos sociais acabaram seguindo um caminho semelhante.

Contrassenso

A massificação de novos instrumentos de comunicação, como as redes sociais, isolam mais que socializam. Famílias inteiras se comunicam muito mais pelo WhatsApp e abandonam ou reduzem muito as boas conversas presenciais. Dispensa-se o casamento “no papel”, porque, se não der certo, parte-se para um novo relacionamento. O que importa é consumir, pessoas e produtos, em alta velocidade. A visão utilitarista sobrepujou a perenidade. A vida descartável tornou-se cada vez mais arraigada.

Nunca tivemos tantos meios de comunicação com tão pouco diálogo. Nunca investiu-se tanto em novos medicamentos e nunca houve tanta gente doente. Na educação, banalizou-se a qualidade. A espiritualidade agora é confundida com as organizações sociais. Mata-se por motivos banais ou por meia dúzia de reais. Nunca houve tantos aparatos de segurança e nunca nos sentimos tão inseguros.

Construir relacionamentos e estruturas permanentes dão mais trabalho e as pessoas não sabem o que fazer consigo mesmas. Jovens entre 18 e 30 anos sempre enfrentaram mudanças complicadas em suas vidas, mas agora é pior.

Frenquentemente ouço algum jovem dizer, no meu consultório: “eu não sei viver. Por favor me ajude!”. Já experimentaram quase tudo, têm curso superior, emprego e acesso aos bens de consumo, mas não têm aderência à vida. Um enorme vazio e falta de propósito são as duras realidades do seu dia a dia.

Como é tremenda essa sensação de abandono! O alto consumo é a meta. Ansiedade? Toma Lexotan. Depressão? Toma um Prozac. Solidão? Um desconhecido na balada supre as carências momentâneas, mesmo que o vazio seja maior amanhã. Se há prazer temporário, o que importa o resto?

Felicidade é um momento onde uma série de elementos alinham-se para dar paz, alegria, bem estar e, certamente, não é um estado permanente. Mas jogar-se na busca e no contentamento do prazer temporário é um processo de autodestruição sem volta. A humanidade precisa encontrar um jeito de redescobrir-se ou seu futuro será outro produto de má qualidade e descartável.

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