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Com o final dos jogos paralímpicos na capital francesa, equidade e inclusão foram assuntos em pauta. Pensando nisso, a Talento Incluir preparou o Guia de Comunicação Inclusiva, com expressões para serem substituídas durante coberturas jornalísticas que envolvam pessoas com deficiência (PCD). “Dar uma de João sem braço“, “Você está surdo?” ou até um “Que mancada!” são expressões ainda muito comuns no cotidiano brasileiro que, historicamente, estão carregadas de preconceito. Dito isso, a comunicação se mostra uma ferramenta essencial para promover a inclusão e equidade de pessoas pertencentes a grupos minoritários, inclusive pessoas com deficiências.
“A comunicação é uma excelente aliada para a formação de cultura. Então, para inserir a pauta da inclusão das PCD a comunicação é essencial. Temos um silenciamento da nossa pauta muito orientado pelos vieses e crenças sociais. Temos uma sociedade que, quando éramos crianças e tínhamos dúvidas sobre o “por quê aquele moço tinha um corpo diferente?” ou “por quê esse moço anda usando uma bengala ou uma cadeira?” Nós perguntamos para a sociedade adulta e provavelmente a resposta que a gente recebeu foi “Não olha” ou “Não comenta”. E isso gera um silenciamento, ou seja, sobre inclusão e limitação não se fala”.
“E não falar sobre limitação é esconder da convivência social, necessidades que nós, pessoas com deficiência, temos. E todas as vezes que estamos na sociedade sem um pedaço nosso, não estamos por completo e não somos incluídos”, quem fala no áudio é Carolina Ignarra, CEO e sócia-fundadora do Grupo Talento Incluir, durante a entrevista.
A empresária conta que em 2001 viveu um acidente de moto, que fez com que ela precisasse usar cadeira de rodas para se locomover. Pouco antes do acontecimento, a paulista havia se formado em Educação Física e tinha uma vida agitada onde trabalhava promovendo aulas de ginástica laboral voltada para empresas e negócios.
“Aqui é a Carol Ignarra, uma mulher de pele branca, de olhos e cabelos castanhos. Meus cabelos são lisos de tamanho médio, tenho 45 anos e sou uma mulher cadeirante”. Depois de três meses do acidente, ela recebeu apoio para voltar a trabalhar e foi a partir dessa proximidade com a realidade empresarial que notou diversas lacunas nos processos de seleção, retenção e inclusão de talentos com deficiência nas empresas.
“E assim, em pouco tempo já estava de volta nas empresas e nelas eu comecei a perceber a oportunidade de trabalhar a partir da Lei de Cotas porque as empresas estavam me fazendo propostas para trabalhar em funções bem desconectadas do meu perfil. Entendi que as empresas não sabiam fazer esse trabalho, que elas estavam bem perdidas com a cobrança da fiscalização. E com a minha história, criei uma palestra para incentivar as empresas a incluírem a partir do perfil da pessoa, da possibilidade de entrega, da experiência, das competências, formação e não da deficiência”. E assim, montei a Talento Incluir.
Desde a fundação em 2008, há 16 anos atrás, a Talento Incluir já atendeu mais de 650 empresas e trabalhou para a inclusão direta de 9 mil pessoas com deficiência com suporte em processos de recrutamento e seleção, preparação da liderança, equipe, espaços, além da inclusão tecnológica. Segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada quatro pessoas tem algum tipo de deficiência no Brasil, seja ela auditiva, física, intelectual ou visual Já de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 16% da população mundial têm alguma deficiência.
Segundo o artigo 2º da Lei Brasileira de Inclusão da pessoa com Deficiência (LBI), pessoa com deficiência é aquela que tem um impedimento de longo prazo – podendo ser físico, intelectual, mental ou sensorial – que, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena em igualdade aos demais.
De acordo com a cartilha Combata o capacitismo, dos Ministérios da Saúde e dos Direitos Humanos, lançada no início deste ano, capacitismo é a expressão usada para se referir a QUALQUER tipo de discriminação contra uma pessoa em função da sua deficiência. Em outras palavras, o capacitismo pode ser definido como:
Toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas (Lei 13.146, 2015, art 4§1º).
E o texto ainda reforça que praticar, induzir ou incitar discriminação em razão da deficiência de alguém gera uma pena com reclusão, de 1 a 3 anos, além de multa (conforme art. 88, da Lei Brasileira da Inclusão). Existem muitas situações que promovem, direta ou indiretamente, o capacitismo. Os três tipos mais conhecidos são:
Capacitismo médico: aquele onde a pessoa com deficiência é tratada como doente ou menosprezada durante o tratamento médico e hospitalar como se não pudesse ter autonomia sobre os próprios cuidados. Ou seja, enxergando a PCD como alguém que necessita de cuidados, podendo ser um tanto assistencialista;
Capatismo institucional: este tipo se refere à falta de acessibilidade ou ao tratamento desigual oferecido para pessoas com deficiência na sociedade, seja no ambiente de trabalho, acesso a oportunidades, lazer, entre outros. O capacitismo institucional pode conter políticas e práticas discriminatórias que reforçam as desigualdades.
Capacitismo recreativo: neste tipo o preconceito acontece por meio de brincadeiras e piadas, que ridicularizam ou reforçam estereótipos sobre as deficiências das pessoas.
Carolina fala sobre a importância da representatividade de PCD na mídia, que deve produzir material sobre essas pessoas mas sem cair no hábito de compartilhar narrativas de pessoas com deficiência como histórias de superação, simplesmente por se referir a uma PCD, e sem pesar no sensacionalismo ou, como Carolina fala, na “história de coitadinho”.
“É importante que a gente entenda o que é capacitismo. A mídia precisa escrever sobre PCD de um jeito mais naturalizado e mais frequente. Dar notícia sobre nós é importante para representatividade, quando não nos vemos em representações sociais, nós não acreditamos que podemos chegar lá. Então é importante as frequências, os destaques sem superestimar ou subestimar a nossa imagem e presença”.
“Somos corriqueiramente colocados no papel de superação na TV ou em vídeos com sensacionalismo pelas músicas de fundo ou imagens usadas. Esse cuidado é muito importante. A questão é o tom de mostrar, muitas vezes, há generalizações sem considerar os privilégios. Tem que haver cuidado para essa representação ser natural, simples e sem esse tom de “super” ou “coitadinho”. A comunicação é importante para trazer informação para a sociedade e acabar com a censura sobre um tema que não tem motivos para ser censurado”.
No Brasil, a Lei de Inclusão, de 2015, é bastante completa sobre a questão de assegurar direitos das pessoas com deficiência, e Carolina cita a sua importância, reforçando que a implementação ainda precisa se desenvolver em melhores práticas.
“Um evento internacional [como as Paralimpíadas] aumenta o alcance e a busca por aliadas e aliados da nossa causa. Quanto mais pessoas entendem a questão da inclusão das PCD, mais temos avanços na sociedade. Aqui no Brasil, temos práticas de inclusão bastante interessantes, como é o caso da nossa LBI, a lei mais completa sobre direito das pessoas com deficiência, que poderia ser apresentada para muitos países. Por um outro lado, apesar de sabermos o que deve ser feito, não fiscalizamos corretamente então temos pouca implementação daquilo que está escrito. A Lei de Cotas, por exemplo, tem pontos de melhoria, como o enquadramento de deficiências a partir de uma ótica biopsicossocial e não apenas da parte fisiológica presente em um laudo”.
O Guia de Comunicação Inclusiva, propõe substituições de expressões para uma comunicação mais inclusiva e uma terminologia mais atual. Muitas pessoas usam termos como “deficiente”, “pessoa portadora de deficiência” ou até “pessoa especial” para fazer alusão às PCD. Mas o termo mais usado e ratificado por órgãos oficiais e pela 1º Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela Assembléia Geral da ONU em 2006, é “pessoa com deficiência”. Você pode acessar o Guia clicando aqui.
“Frases como “superando as barreiras”, essas ideias levam a gente para um lugar de ‘super’. Mas do contrário também, não trazer frases que diminuam a gente: “Ela é tão inteligente MAS tem deficiência” ou “Ele é tão bonito PORÉM a deficiência impacta”. Essas frases que reforçam que, teoricamente, a gente não poderia ser bonito ou inteligente. Também evitar expressões que tragam o corpo como exemplo como “mão na massa”, “braço curto” ou “mancada”. Também não devemos trazer fotos ou frases que reforcem a realidade de pessoas com deficiência em situação de pedinte, de miséria, de ajuda, auxílio, apoio, dependência que reforcem essa questão. E [evitar] colocar todas as pessoas como se tivessem oportunidades iguais na vida”.
Anão → Pessoa com nanismo
Anomalia Genética → Condição genética
Autista → Pessoa no espectro autista
Cego → Pessoa cega
Deficiente mental → Pessoa com deficiência intelectual
Mudo → Pessoa surda ou não oralizada
Paralisado Cerebral → Pessoa com paralisia cerebral
Paralítico → Paraplégico ou tetraplégico
Pessoas normais → pessoas sem deficiência
Surdo-mudo → Pessoa surda
Além do Guia, Carolina é autora do livro Manual Anticapacitista: o que Você Precisa Saber Para se Tornar uma Pessoa Aliada Contra o Capacitismo, juntamente com o rapper Billy Saga. No livro de pouco mais de 150 páginas, os autores compartilham experiências pessoais, e tratam sobre práticas para a desconstrução do preconceito, além de trazer dados estatísticos sobre a vivência de pessoas com deficiência no Brasil e sobre as ações afirmativas e leis voltadas ao público.
“Além do nosso Guia, temos o Manual Anticapacitista que sou autora junto como o Billy Saga. Lançamos em 2023 e o Manual é um livro que explica o capacitismo e questões de terminologia. Não conheço nenhum [conteúdo] audiovisual que traga esse jeito prático da comunicação. Entendo que também estamos construindo frases que são ou não são capacitistas, muitas vezes, conversamos entre nós, eu, o Billy e as outras consultoras da Talento Incluir: “será que é capacitismo falar isso ou aquilo?”. Precisa entender a origem da expressão e o que hoje ela quer dizer ou atingir. Então não tem uma cartilha completa sobre todos os termos. Apesar de ser uma escritora da pauta, ainda me sinto em desconstrução”.
(Assessoria de Imprensa)
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