Economia Criativa enfrenta dificuldades para obter financiamento, apesar de potencial transformador

Nota Social
18 de abril de 2025
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Economia Criativa no Brasil corresponde a 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB), além de empregar cerca de 7,5 milhões de pessoas em empresas formalizadas, de acordo com informações do Ministério da Cultura. Já o Observatório Nacional da Indústria (ONI) estima que, até  2030, o setor deve gerar mais de um milhão de novos empregos. Apesar dos números positivos, grupos específicos ainda enfrentam dificuldades para a obtenção de investimento constante, o que escancara as desigualdades que permeiam o setor.

Um episódio recente que traduz esse paradoxo aconteceu com a Feira Preta, maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina, que precisou adiar para 2026 a edição que aconteceria este ano em São Paulo devido a diminuição de patricínios. “Um cancelamento que reflete o racismo estrutural que precisamos combater”, diz trecho de anúncio publicado no Instagram do evento. 

“Não conseguimos levantar recursos suficientes no tempo necessário para garantir a realização do evento com a qualidade e a estrutura que ele merece. Contamos com o apoio da Lei Rouanet e com empresas que investem via incentivo fiscal, mas isso, infelizmente, não foi suficiente”, explica Adriana Barbosa, diretora executiva da Feira Preta / PretaHub, fundadora do Feira Preta Festival e conselheira do GIFE.

Por dentro do setor

Segundo informações do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), ao contrário dos modelos econômicos tradicionais baseados na manufatura, agricultura e comércio, a Economia Criativa centra-se principalmente no potencial individual ou coletivo para gerar bens e serviços de natureza criativa. Sendo a maioria dessas atividades ligadas a setores, como cultura, design, moda, música e artesanato.  

De acordo com Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú, no quarto trimestre de 2023, a participação no mercado de trabalho da economia criativa manteve-se majoritariamente composta por pessoas autodeclaradas brancas, que representaram 57% do total, enquanto pessoas negras — somando pretos (8%) e pardos (33%) — corresponderam a 41%. Outros grupos, como indígenas e amarelos, constituíram apenas 1% dos trabalhadores. Essa distribuição tem se mantido praticamente inalterada desde o quarto trimestre de 2022.

“Em um país como o nosso, onde a desigualdade racial é estrutural, a economia criativa pode ser uma alavanca para a transformação social — desde que seja inclusiva, distribuída e com investimento consistente”, alerta Adriana Barbosa. 

Investimentos em falta

Análises do Censo GIFE 22-23 mostram que “Inclusão produtiva, empreendedorismo e geração de renda” despontaram em segundo lugar no ranking de área de atuação geral dos investidores sociais. “Por outro lado, no Censo GIFE 2020 o investimento em empreendedorismo e inclusão produtiva  era de 38% como investimento principal, isso caiu no último censo para 10%”, observa Mariana Almeida, diretora executiva da Fundação Tide Setúbal

“Então, tem um olhar do investimento social privado sobre a própria atividade econômica, a ideia de geração de renda, que tem sido reduzida. A economia criativa como parte disso cai mais ainda”, completa. 

Observação também pontuada por Adriana Barbosa, que detalha como essa falta de investimento acomete iniciativas do setor. A exemplo do que aconteceu com a Feira Preta este ano, ela conta que a maioria dos contratos de patrocínio foi assinada com pagamentos que seriam realizados apenas após a realização do evento. 

“Não é um problema de captação apenas, mas sim de modelo de financiamento e da forma como o mercado nos enxerga. Apesar de termos uma entrega equivalente aos grandes festivais, ainda somos lidos apenas pela lente do social, e não como uma estratégia de negócio, de marca e de impacto econômico”, pondera. 

Mariana Almeida acredita que é necessário comprometimento a longo prazo do ISP para alterar o cenário. “É preciso que o setor faça uma aposta comprometida [em organizações como a Feira Preta], onde se tem confiança em quem se está apoiando, onde se abre redes e se engaja na busca de soluções. Não é só uma análise de portfólio, mas é realmente um engajamento que torna a agenda necessária”, conclui.

Fonte: GIFE

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