
*Por Roberto Ravagnani
O voluntariado é, sem dúvida, um dos pilares mais nobres da construção de uma sociedade mais justa e solidária. Ao oferecer tempo, conhecimento e dedicação sem esperar retorno financeiro, voluntários promovem impactos positivos em diversas frentes, da assistência social à preservação ambiental. No entanto, a força e a generosidade desse trabalho nem sempre são empregadas de maneira ética ou estratégica por organizações sociais e governos, o que levanta um debate urgente sobre seus limites e responsabilidades.
Em muitos contextos, instituições que deveriam apenas complementar políticas públicas acabam assumindo funções que competem ao Estado, especialmente em áreas essenciais como saúde, educação e assistência social. Nesse cenário, o voluntariado deixa de ser um gesto de cidadania e passa a funcionar como mão de obra gratuita para suprir falhas estruturais, resultando na desvalorização de profissionais remunerados e na precarização dos serviços oferecidos à população.
Embora haja incontáveis exemplos positivos e éticos do uso do voluntariado – tanto por governos quanto por organizações da sociedade civil – é preciso reconhecer que também há práticas questionáveis. A falta de equilíbrio entre o papel do voluntariado e as obrigações institucionais pode distorcer seu propósito original, transformando-o em um instrumento para justificar a omissão do poder público ou a redução de investimentos em políticas sociais.
Outro ponto crítico está na dependência excessiva de voluntários por parte de algumas organizações, muitas vezes sem oferecer capacitação, apoio psicológico ou condições adequadas para o exercício das atividades. Isso pode gerar sobrecarga, frustração e até o abandono prematuro das iniciativas, prejudicando tanto os voluntários quanto as comunidades atendidas.
Cabe ao poder público criar políticas que reconheçam e valorizem o trabalho voluntário, sem recorrer a ele como substituto para profissionais qualificados. É necessário investir em regulamentações claras, incentivos responsáveis e formas de integração que respeitem os limites e o propósito do voluntariado.
Repensar o uso do trabalho voluntário é fundamental para preservar sua essência: um ato livre, consciente e complementar, que fortalece o tecido social sem camuflar deficiências institucionais. Quando bem conduzido, o voluntariado é uma poderosa ferramenta de transformação coletiva. Mal utilizado, porém, pode se tornar um recurso conveniente para mascarar desigualdades e omissões que deveriam ser enfrentadas com seriedade e compromisso.
*Roberto Ravagnani – Construtor de “pontes”. Palestrante, jornalista (MTB 0084753/SP), radialista (DRT 22.201), Consultor, ESG, Voluntariado, Sustentabilidade.
11 3251-4482
redacao@ongnews.com.br
Rua Manoel da Nóbrega, 354 – cj.32
Bela Vista | São Paulo–SP | CEP 04001-001