Dados de uso da Inteligência Artificial na filantropia

Falar sobre Inteligência Artificial no campo socioambiental brasileiro ainda é um desafio. Pouco se discute sobre o tema e, quando falamos, quase sempre esbarramos na mesma dificuldade: informações e dados muito difusos. É por isso que o Canal Sabiar existe — para democratizar o acesso de informações sobre as tecnologias e fomentar um debate crítico e construtivo sobre IA no campo social. Acho que é por isso que o Portal Nossa Causa me convidou para escrever nesta coluna! 

Sou Andressa Trivelli e trabalho no campo de impacto socioambiental desde 2002 como empreendedora, consultora, gestora de projetos e muito curiosa sobre o uso de tecnologias para ampliar nossas capacidades de ajudar na solução de problemas sociais e ambientais. Em 2023, cofundei com o Cássio Aoqui o Canal Sabiar e agora, como colunista do Nossa Causa, vamos trazer essa discussão para um novo espaço: ampliando o diálogo sobre como podemos usar especificamente a IA para fortalecer organizações e ampliar impactos.

Recentemente, assisti a um evento promovido pela Stanford Social Innovation Review (SSIR), uma das mais respeitadas publicações sobre inovação social no mundo. A sessão, intitulada The Future of Giving: AI’s Role in Generosity (O Futuro da Doação: O Papel da IA na Generosidade), reuniu especialistas para debater como a IA está transformando a filantropia e as doações – numa perspectiva Estadounidense. Foram apresentados diversos dados sobre o uso da IA em organizações sociais nos Estados Unidos, e eu terminei a sessão um tanto impressionada não com os dados apresentados em si, mas com a quantidade de informações sistematizadas sobre o tema – tema tão recente.

E isso me intrigou.

Enquanto nos EUA temos um volume considerável de dados sobre como as organizações estão usando IA — e isso em um momento no qual o setor de desenvolvimento social deste país está sob ataques constantes —, aqui no Brasil enfrentamos uma escassez de informação. Organizar e encontrar dados em geral sobre o setor socioambiental brasileiro é uma tarefa árdua que só quem trabalha no campo sabe! No recorte sobre uso de tecnologia, também é difícil, se a gente fizer um recorte ainda menor, o uso de IA, a quantidade de informação é muito próxima a zero. O estudo de 2022 TIC OSFIL, por exemplo, investiga o uso da tecnologia por organizações sociais, mas não aborda diretamente a Inteligência Artificial.

Por isso, no Canal Sabiar, ano passado, nos propusemos a preencher essa lacuna com uma pesquisa inédita sobre o uso de IA no campo de impacto socioambiental brasileiro, cujos resultados serão divulgados em breve — inclusive em parceria com o Nossa Causa. Mas, mesmo conduzindo esse levantamento, nos deparamos com desafios na coleta de informações Ao analisar os dados, vimos muito pouca coisa a respeito das formas como as organizações estão utilizando tecnologia na captação de recursos.

E é aí que fiquei ainda mais perplexa com o webinar da SSIR.

No evento da SSIR, vimos dados que pareciam consistentes sobre como a IA está sendo aplicada em estratégias de captação de recursos em organizações sociais. Spoiler do resultado da nossa pesquisa: Aqui no Brasil, apenas 8% dos respondentes disseram que suas organizações já usaram IA na captação de recursos; em contrapartida, dos 70% que afirmaram usar para atividades relacionadas à comunicação e redes sociais.

Se tão poucas organizações mencionam usar IA para captação, quais são os dados organizados que vamos ter sobre essa atividade? Como vamos construir conhecimento específico e brasileiro sobre?

Para mim, fica claro que precisamos aprofundar nossas pesquisas sobre o uso da IA no setor social brasileiro. Não só as discussões mas também as práticas mais estratégicas (e éticas!) desta tecnologia. Assim como o mundo avança em discussões sobre IA para filantropia, também precisamos desenvolver conhecimento local sobre como essa tecnologia pode potencializar os impactos das nossas organizações.

E, se você acha que faz sentido conversar sobre isso, vamos falar. A IA já está transformando o setor social. A questão é: como queremos conduzir essas atividades no setor?

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