Projeto melhora alimentação escolar em áreas rurais da Amazônia

ONG News
30 de julho de 2025
  • Geral
Compartilhe

O projeto Capacitação de Merendeiras em Áreas Rurais da Amazônia reuniu 90 merendeiras de dois municípios do Pará – São Félix do Xingu e Oriximiná – para discutir a alimentação oferecida pelas escolas dessas comunidades. Longe de ser uma iniciativa de interesse apenas local, as discussões suscitadas incidiram sobre um dos mais importantes problemas da infância na atualidade: a qualidade da alimentação das crianças em idade escolar e seus efeitos sobre o desenvolvimento global delas. “Acreditamos que a valorização e a boa formação das profissionais que preparam as merendas sejam um caminho para estimular a maior participação delas na definição de cardápios baseados em alimentos frescos, de produção local e em sintonia com os hábitos alimentares tradicionais de cada cultura”, afirma Helene Menu, gerente do programa Florestas de Valor, do Imaflora, organização que promove o evento em colaboração com as secretarias municipais de Ensino das duas localidades e apoio da Fundação Carrefour.

O ponto de partida para o projeto foi a redução anunciada em fevereiro pelo Governo Federal da presença de alimentos processados e ultraprocessados na merenda escolar. Era de até 20% e foi limitada a 15%, com substituição preferencialmente por alimentos frescos, vindos da agricultura familiar, que devem responder por um mínimo de 30% dos recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Para ter ideia do impacto dessa decisão, basta lembrar que ela influencia diretamente o que estará no prato de 40 milhões de alunos de quase 150 mil escolas públicas de todo o país. Em 2024, o PNAE financiou cerca de 10 bilhões de refeições para esse público a um custo de R$ 5,3 bilhões, segundo dados públicos do governo.

Com um trabalho de mais de dez anos fomentando a aquisição de produtos da agricultura familiar e da agroecologia pelo PNAE, Helene conta que a meta do Florestas de Valor é atingir 40% da presença desses produtos na merenda dos dois municípios contemplados até agora com a capacitação: “Começamos com cinco produtos e já estamos com 40 itens no cardápio, como polpa de frutas e pães produzidos localmente. Até os biscoitos industrializados foram substituídos por biju, um alimento que faz parte da identidade cultural daquela região”, comemora.

A atração dos alimentos industrializados

A pediatra Diana Sato, professora na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará e mestre em Saúde na Amazônia, também vê motivos para comemorar iniciativas que visem uma alimentação mais saudável. “O aumento no consumo de alimentos ultraprocessados disseminou globalmente problemas decorrentes de uma dieta ruim. Com custo mais baixo e maior tempo de prateleira, as famílias recorrem a eles em substituição aos alimentos frescos e estabeleceu-se uma verdadeira epidemia de obesidade no mundo, com crescimento da chamada síndrome metabólica e disfunções associadas a ela, como diabetes, pressão alta e dislipidemia, que diz respeito ao equilíbrio das gorduras no organismo”. Diana conta que, em seu consultório, no município de Altamira (PA), crianças com altas taxas de colesterol e triglicérides já formam um número expressivo dos seus pacientes.

Pais e crianças são atraídos não apenas pelas embalagens e propagandas chamativas comuns aos alimentos industrializados, mas também por uma mensagem subliminar de que aquele produto é melhor para a saúde porque contém vitaminas e minerais e faz ficar forte. “Em vilarejos ribeirinhos, não é difícil encontrar famílias orgulhosas de comprar preparados industrializados para o mingau dos filhos, acreditando que é preciso suplementar vitaminas para ter saúde. No entanto, é comprovado que o organismo absorve melhor os nutrientes de alimentos in natura, preferencialmente frescos”, afirma Diana.

Com o consumo frequente, estabelece-se um hábito que pode, facilmente, se transformar em seletividade alimentar, disfunção que, no limite, chega a prejudicar a interação da criança com o mundo. “Com grandes quantidades de açúcar, sal e gordura e texturas de crocância ou cremosidade que não se encontram na natureza, os ultraprocessados são fáceis de ingerir e causam percepções intensas, que fazem o cérebro liberar dopamina, uma substância que dá sensação de prazer. Por serem de rápida absorção, a sensação dura pouco e só se restabelece quando se consome mais daquele alimento. Não é à toa que ninguém come só um salgadinho do pacote”, diz ela.

Comer bem é um aprendizado

“A alimentação é um comportamento aprendido e, se não influencia diretamente a inteligência, ajuda a desenvolver habilidades importantes para a vida, que são as funções executivas, relacionadas à capacidade de se expor e aprender com experiências novas de maneira positiva”, ensina a médica.

Se bons hábitos alimentares podem ser aprendidos, a escola é um ambiente privilegiado para esse aprendizado. Junto com outras crianças e adultos que admire, mesmo uma criança mais velha, acostumada aos ultraprocessados, pode se sentir mais disposta a se aventurar num mundo de sabores e texturas diferentes. Tanto melhor se o alimento for gostoso e atraente e aí, mais uma vez, a chave do sucesso pode estar nas mãos das merendeiras.
 

Para ajudá-las nesse desafio, a Capacitação de Merendeiras em Áreas Rurais da Amazônia inclui na programação um concurso de receitas, com direito à premiação da escola vencedora, e a elaboração de um livro sobre a importância da alimentos saudáveis e do resgate da alimentação tradicional via PNAE, com receitas diversas que valorizam produtos naturais. As participantes também são treinadas em boas práticas de higiene e segurança alimentar, uso integral dos alimentos e estratégias para melhorar a qualidade da merenda investindo em receitas que celebrem a identidade cultural da região. “Queremos valorizar o trabalho das merendeiras e sua capacidade de influenciar nas escolhas dos cardápios escolares, ampliar os canais para a compra da produção familiar local e oferecer uma alimentação escolar saudável e adequada”, afirma Helene. Em comunidades como Oriximiná, com forte tradição quilombola, uma dieta que reconhece e absorve a culinária local é inclusive um elemento de identificação cultural, que ajuda na autoestima das crianças pela valorização do conhecimento e da ancestralidade.

É uma verdade válida igualmente para todas as regiões do Brasil, assim como a necessidade de que iniciativas como essa se multipliquem para combater um problema que já atinge proporções epidêmicas. De acordo com o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, do Ministério da Saúde, uma a cada sete crianças brasileiras está com excesso de peso ou obesidade. Isso representa 14,2% das crianças com menos de cinco anos, enquanto a média global é de apenas 5,6%. Na adolescência, o problema afeta 33% dos jovens. “Essas são fases de desenvolvimento intenso de órgãos e tecidos e é preciso agir para estimular uma alimentação diversificada e saudável, evitando complicações que podem acompanhar essa geração pela vida inteira”, alerta Diana.

(Assessoria de Imprensa)

Veja mais notícias sobre
newsletter
Fique por dentro de todas as notícias com o nosso resumo semanal.
Newsletter v2

Ao informar os meus dados, eu concordo com a Política de Privacidade.

Prometemos não utilizar suas informações de contato para enviar qualquer tipo de SPAM.

Notícias relacionadas
O Portal Nossa Causa - uma iniciativa do Instituto Nossa Causa - é plataforma digital voltada para o desenvolvimento e fortalecimento do setor social, oferecendo conteúdos educativos, jornalísticos e estratégicos que informam, inspiram e mobilizam pessoas, organizações e causas. Essa iniciativa surge em resposta à necessidade de combater a desinformação e ampliar o acesso a conteúdos de qualidade sobre impacto social e terceiro setor.
Nas Redes
Fale Conosco

11 3251-4482
redacao@ongnews.com.br
Rua Manoel da Nóbrega, 354 – cj.32
Bela Vista | São Paulo–SP | CEP 04001-001

newsletter
Fique por dentro de todas as notícias com o nosso resumo semanal.
Newsletter v2

Ao informar os meus dados, eu concordo com a Política de Privacidade.

Prometemos não utilizar suas informações de contato para enviar qualquer tipo de SPAM.

newsletter
Fique por dentro de todas as notícias com o nosso resumo semanal.
Newsletter v2

Ao informar os meus dados, eu concordo com a Política de Privacidade.

Prometemos não utilizar suas informações de contato para enviar qualquer tipo de SPAM.