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A solidariedade dos brasileiros se manifesta com força diante de tragédias e emergências, mas ainda encontra dificuldades para se transformar em um hábito contínuo de doação. É o que aponta a segunda edição da pesquisa “Retrato da Solidariedade – Comportamento Pró-Social no Brasil”, realizada pela Fundação José Luiz Setúbal (FJLS), por meio do Departamento de Pesquisa em Ciências Sociais e Filantropia do Instituto Pensi. Os resultados foram apresentados na última semana, no Itaú Cultural, em São Paulo.
O estudo indica que eventos extremos, como as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, ampliam significativamente o número de doações no curto prazo, mas não resultam, na maioria dos casos, em vínculos duradouros com as organizações da sociedade civil (OSCs). Mais de um quarto da população adulta (27%) prestou algum tipo de ajuda às vítimas da tragédia, o que elevou o percentual de doadores pontuais de 17% em 2023 para 24% em 2024. Em sentido oposto, os doadores recorrentes caíram de 11% para 8%.
Segundo o pesquisador Flávio Pinheiro, coordenador do estudo, o cenário revela um padrão de mobilização reativa. “Crises geram picos de engajamento, mas esses movimentos não se sustentam ao longo do tempo. Essa instabilidade compromete a capacidade das OSCs de planejar e manter seus projetos”, afirmou durante a apresentação.
Apesar da fragilidade na recorrência, o volume total de recursos doados cresceu de forma expressiva. Em 2024, os brasileiros destinaram cerca de R$ 23,6 bilhões às OSCs, um aumento de 40% em relação ao ano anterior. A mediana anual do valor doado também subiu, passando de R$ 260 para R$ 300. Ainda assim, 83% dos doadores decidiram quanto doar apenas no momento do pedido, sem planejamento prévio.
Outro dado destacado pela pesquisa é a desigualdade proporcional na prática da doação. Famílias com renda de até quatro salários mínimos continuam comprometendo uma fatia maior de sua renda com doações do que os grupos mais ricos. Já entre pessoas com renda acima de 20 salários mínimos, houve queda tanto na frequência quanto no valor mediano das contribuições.
As motivações para doar seguem majoritariamente emocionais. Sentir-se bem ao ajudar e o senso de dever social lideram as razões apontadas pelos entrevistados. Entre os que não doam, a principal barreira é a falta de recursos, seguida pela desconfiança quanto ao uso do dinheiro pelas organizações.
A pesquisa ouviu 2.568 pessoas em todas as regiões do país e também identificou um aumento da confiança nas OSCs, que passou de 32% para 36% entre 2023 e 2024, superando a confiança no poder público. O Pix se consolidou como o principal meio de doação, utilizado por 34% dos doadores.
Para o presidente da Fundação José Luiz Setúbal, José Luiz Setúbal, o desafio central está em transformar empatia em compromisso contínuo. “A mobilização diante das tragédias revela a capacidade de engajamento da sociedade, mas o grande desafio é converter esse impulso em apoio permanente às organizações”, avaliou.
Os resultados reforçam que, embora a solidariedade esteja presente no cotidiano dos brasileiros, a consolidação de uma cultura de doação regular ainda depende de estratégias de confiança, planejamento e aproximação entre doadores e organizações sociais.
(Redação ONG News)
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