Foi muito emocionante a homenagem que recebi durante o Festival da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), que comemorava os 10 anos da instituição. Me emocionei não só pela homenagem, mas também por ter sido da ABCR desde o seu início, onde ganhei o registro de 007 – o qual me rendeu algumas brincadeiras por parte do Eduardo Filho e do Rafael Vargas, que eram os captadores/apresentadores no evento. Aos dois o meu carinho.
Na hora a emoção tomou conta, deu branco total e não pensei em nada para falar, mas depois de passado o impacto, fiquei pensando na minha trajetória e no que eu deveria ter dito.
Naquele tempo reduzido eu teria dado 5 dicas:
1. Se for exercer uma função gerencial, faça cursos de gerenciamento
Como técnico, coordenador de projeto, fundador e coordenador geral de ONGs – na época era assim que se chamava – aprendi que se algo vai ser feito, merece ser bem feito. E só será bem feito se houver qualificação para isso. Ao me tornar coordenador de projetos e depois coordenador geral, descobri que minha capacitação técnica e minha boa vontade não eram suficientes, posso dizer sem medo de errar que como coordenador fui um ótimo técnico. Como coordenador minha função era gerencial e não técnica, sem uma capacitação gerencial não seria, como não fui, um bom coordenador. Minha primeira dica é: se for exercer uma função gerencial, faça cursos de gerenciamento.
“Carisma é inato, mas gerente a gente faz.”
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2. Não tenha medo de pedir
Fui 11 anos financiador e assim fui sentar do outro lado da mesa. E o que aprendi foi que o complexo de vira lata, do qual falava o Nelson Rodrigues, continua forte entre nós. Enquanto as instituições internacionais que atuam no Brasil me pediam US$ 5 milhões ou mais, as instituições brasileiras me pediam uns U$ 200 mil. O trabalho e a papelada que um financiador tem com um investimento social de R$ 50 mil é igual ao de um investimento de R$ 10 milhões. Não existe valor nominal caro ou barato, o que determina se o valor é caro ou barato é o que você irá fazer e alcançar com o valor investido. O objetivo do financiador não é dar esmola, porque sabe que esmola não traz resultado. Minha segunda dica é: não tenha medo de pedir.
“Financiador quer resultados por isso faz investimento social.”
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3. Fale para o parceiro em potencial o que ele valoriza e não o que você valoriza
Outra coisa que aprendi nesta época foi que o processo não é de venda, mas de conquista. Afinal, eu não quero aquele parceiro só para aquele projeto, mas por toda uma vida. Eu nunca entendi porque as pessoas sentavam na minha frente e falavam tudo o que o projeto tinha, o porquê elas eram apaixonadas pelo projeto, mas nada falavam de forma que eu me apaixonasse pelo projeto. Minha terceira dica é: fale para o parceiro em potencial o que tem no projeto que ele valoriza e não o que você valoriza.
“Não estamos vendendo projetos, mas conquistando parceiros.”
4. Fale do seu sucesso e não da sua miséria
De acordo com levantamentos mais recentes, existem hoje no Brasil algo em torno de 800.000 instituições no Terceiro Setor, não sei vocês, mas acho que temos mais instituições do que problemas para resolver. O que diferencia uma instituição das outras é o sucesso e, por favor, entendam como sucesso o que acontece com seu beneficiário depois que você começou a atendê-lo. Financiador com o dinheiro dele é igual a gente com o nosso dinheiro, queremos investir e fazer parte do sucesso e não do fracasso. Minha quarta dica é: fale do seu sucesso e não da sua miséria.
“Quem vende miséria mendiga e quem mendiga recebe trocado.”
5. Faça o seu investimento social da forma que achar melhor e repasse os seus conhecimentos
Mais tarde, em 1998, montei minha empresa de consultoria e sempre procuro dizer para quem participa dos meus cursos que não se pode ficar pedindo para os outros investirem no Terceiro Setor, enquanto você mesmo não o faz. Faz algum tempo que optei por investir, não dinheiro, mas meu tempo, que considero muito mais valioso. Com isso, além de um enorme retorno emocional, obtive também um grande aprendizado que me ajudou, e me ajuda, a desenvolver um trabalho de qualidade. Minha quinta dica é: faça o seu investimento social da forma que achar melhor e repasse os seus conhecimentos.
“O mundo precisa de menos discursos e mais prática.”
Faz sentido?