Documentário da Abong destaca mulheres trans na Sapucaí

ONG News
17 de junho de 2025
  • LGBTQIAP+
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No país que mais mata pessoas trans no mundo, um desfile histórico na Marquês de Sapucaí acaba de virar documentário e símbolo de resistência para essa população. Com o nome “Xicas: Travestis na Avenida”, o curta-metragem será lançado no próximo dia 20/06, em São Paulo, com exibição gratuita, apenas para convidados, no Cine Marquise. A produção é da Abong (Associação Brasileira de ONGs), em parceria com a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e a escola de samba Paraíso do Tuiuti.

Sob a direção de Asaph Luccas e roteiro de Hela Santana, “Xicas” parte de um importante marco na linha do tempo do movimento trans no Brasil, quando, no dia 4 de março, a Tuiuti levou para a Sapucaí mais de 150 mulheres trans e travestis, desfilando como protagonistas do enredo “Quem Tem Medo de Xica Manicongo?”. No samba ecoado por diversas personalidades da luta contra a LGBTfobia – como a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) -, o público do carnaval carioca pode conhecer a história da primeira travesti não indígena do Brasil.

São essas lembranças que compõem as primeiras cenas do documentário, narradas pela emblemática ativista Keila Simpson, fundadora da ANTRA e uma das responsáveis pela existência do Dia da Visibilidade Trans no país, comemorado desde 2004, em 29 de janeiro. Sua fala revela que a batalha para este reconhecimento vem do século 16, quando Xica Manicongo fora sequestrada do Congo para ser escravizada em Salvador. Chegando aqui, foi batizada como um homem e, pela sua resistência, denunciada por sodomia à Inquisição portuguesa. 

Ao evocá-la como a ancestral-matriz da resistência trans, o documentário propõe mais do que um registro sobre o tema do desfile. Trata-se de um manifesto visual sobre afirmação, espaço e exclusão de pessoas como Vanessa Alves da Silva, mulher trans, mãe e avó. Em “Xicas”, ela conta sobre o sonho de infância de desfilar na Sapucaí, realizado somente neste ano, quando o roteiro oficial do carnaval cedeu à luta pela visibilidade dos corpos trans.

Ao captar esses relatos, a diretora do curta, Asaph Luccas comenta: “Sempre trabalhei muito com ficção. Mas foi com ‘Xicas’ que descobri que posso continuar moldando percepções também no documentário, explorando novas linguagens e narrativas. A realidade, para muitas de nós, já é, por si só, surreal e arrebatadora o suficiente. Todas as personagens do filme vivem vidas que extrapolam as expectativas impostas às travestis, e isso, para mim, já é mágico. Há muita magia na história de Xica Manicongo, na história da Vanessa, da Eloína… Poder trazer isso à tona na tela do cinema é profundamente transformador”, relata Asaph.

Keila, diretora executiva da Abong, acrescenta que: “O documentário ‘Xicas’ resgata uma história do passado, trazendo-a para o presente e nos ajudando a idealizar futuros para a população trans no país. Se, um dia, Xica pariu as travestis, hoje prestamos reverência a ela, de forma muito mais política e enfática, para afirmar que a resistência dessa figura histórica permanece viva, ainda que em outra conjuntura. Xica continua presente!”

Outros depoimentos – como o de Bruna Benevides, presidenta da ANTRA, e Eloína dos Leopardos, primeira rainha de bateria do país – se somam ao curta-metragem  evidenciando os desafios e as conquistas das mulheres trans, por meio de diálogos tocantes sobre vida, violência, alegrias e morte das travestis. “Xicas” ainda traz imagens dos bastidores do desfile da Tuiuti, revelando o quanto a maior festa popular do mundo é também um território de disputa política. O curta reflete que, mesmo que tenha nascido da mistura e da marginalidade, o samba brasileiro fechou suas portas para a participação de mulheres trans.

O documentário conclui que a realidade da avenida, portanto, é um reflexo dos muitos obstáculos que ainda persistem sobre esses corpos longe das fantasias. “Xicas: Travestis na Avenida” é uma produção que integra o Projeto Pajubá, criado pela Abong, ANTRA e ABGLT, com apoio da fundação Luminate e da Fiocruz, visando fortalecer coletivos e organizações LGBTQIA+ em todo o Brasil por meio de formação política, assessoria jurídica, apoio institucional e atuação em rede.

(Assessoria de Imprensa)

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