
No Brasil, 82% das iniciativas voltadas à geração de oportunidades para jovens em situação de vulnerabilidade social são conduzidas por associações, ONGs e organizações comunitárias ou de base. Já institutos, fundações e fundos empresariais respondem por 9,5% desse universo. Os dados são do Mapeamento pelas Juventudes 2025, divulgado na útima semana, no Dia Internacional da Juventude, pela Fundação Otacílio Coser.
“Do ponto de vista de um jovem que mora na periferia de São Paulo, esses dados são um reflexo da realidade. A maior parte das organizações que fazem parte do nosso desenvolvimento estão no território, começam quase sempre com uma liderança comunitária”, comenta Jonathan Sales, analista do Juventudes Potentes.
Das 137 organizações ouvidas pela 2ª edição da plataforma, 93% atendem a faixa etária de 15 a 19 anos. Juntas, elas alcançam mais de um milhão de jovens. Para Pedro Bocca, coordenador de Relações Internacionais e Políticas Públicas no GIFE, os dados indicam a importância de valorizar, além das grandes organizações, aquelas que, com atuação local, evidenciam como soluções desenvolvidas a partir das necessidades e contextos específicos de cada comunidade geram resultados efetivos.
“Isso dialoga muito com o grantmaking, que é estimular que os atores do Investimento Social Privado doem para organizações locais, que sabem as reais necessidades das suas juventudes. A filantropia cumpre um papel importante: disponibilizar recursos de forma mais efetiva e menos burocratizada”, avalia.
A principal atuação das organizações ouvidas pelo Mapeamento é a capacitação e treinamento, área para a qual 79 das respondentes estão voltadas. Entre os destaques da pesquisa, aparece também uma forte concentração no Sudeste, onde estão 60% das organizações que atuam com juventudes. A menor representação está no Centro-Oeste (9%).
Os dados não surpreendem Marcelo Bentes, da Fundação Roberto Marinho, que aponta que esse é um reflexo das dificuldades de cada região. “Às vezes um professor leva três dias para chegar a uma formação no Pará. A gente sabe das dificuldades, e sobretudo das diferenças que existem entre essas realidades. Não só de infraestrutura, mas de demanda: o que um jovem do Pará quer não é necessariamente o mesmo que um jovem de São Paulo”, ressalta.
Aldrin Barros, do Instituto Cojovem, confirma essa análise. Embora destaque a preocupação com os obstáculos para alcançar o maior número possível de pessoas, ele lembra que, nos mesmos lugares onde surgem os desafios, também estão as soluções. “Atuamos através de colaboração em rede para enfrentar os desafios. Esse mapeamento nos ajuda a visualizar quem somos e onde estamos, para agir de forma mais coordenada.”
A população em vulnerabilidade econômica é a prioridade de 70 das 82 organizações que atuam com públicos específicos. O grupo é seguido por estudantes de escolas públicas (59), meninas e mulheres (44), população negra (41), entre outras.
O segundo grupo específico é uma das áreas de atuação da Fundação Otacílio Coser. “A gente acredita muito na atuação em parceria com o poder público para conseguir dar escala e mudar realidades. É sobre articulação, trabalho e entendimento da realidade local”, defende Ana Flávia Gomes de Sá, superintendente da fundação.
A importância do trabalho em rede é reforçada também por Cristiana Velloso, da Catalyst Now, que explica que embora seja muito mais fácil para os financiadores chegarem às organizações próximas a eles, se estiverem todos trabalhando juntos, e contarem com ferramentas como o Mapeamento pelas Juventudes, é possível acessar outros territórios e organizações.
“A atuação em rede permite combinar os diferentes saberes e recursos e ampliar o alcance e a capacidade de mobilização. O trabalho em rede com advocacy transforma cada experiência isolada em uma transformação sistêmica”, finaliza.
Fonte: GIFE
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