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*Por Thiago Crucciti
Todo ano, no Dia das Crianças, o Brasil se emociona com imagens publicitárias de sorrisos e presentes. Mas há outras infâncias invisíveis: aquelas marcadas pela fome, pela violência, pela negligência e pela adultização precoce. É como se o país acreditasse que propaganda substitui a política pública. Os números mostram o contrário, e eles são duros.
Segundo a publicação Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2025, da Fundação Abrinq, quase metade das crianças com até seis anos (46,5%) vivia em situação de pobreza em 2023. São 9,4 milhões de meninos e meninas que muitas vezes acordam sem saber se haverá comida. A pobreza extrema, que impede até o acesso ao básico para uma vida digna, atingia 3,3 milhões nessa faixa etária (16,7%).
Regionalmente, o quadro é ainda mais desigual. No Nordeste, 53,3% das crianças pequenas viviam na pobreza; no Norte, 49,7%. Mesmo no Sudeste e no Sul, consideradas regiões mais ricas, o índice ultrapassa os 40%. Essa realidade mostra que o problema não é localizado: ele atinge o país inteiro e evidencia o fracasso de uma política de proteção integral que deveria estar assegurada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
A fome, porém, não é um dado isolado. Ela se entrelaça a uma espiral de violações: compromete o desenvolvimento físico e cognitivo, fragiliza o vínculo escolar, amplia a vulnerabilidade à violência e agrava problemas de saúde mental. Não por acaso, em 2023, a cada hora, 13 crianças e adolescentes foram vítimas de violência no Brasil, entre física, psicológica, sexual e negligência, segundo o Atlas da Violência 2025, do Ipea e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Outro dado alarmante é o crescimento da taxa de suicídio entre jovens. Segundo levantamento do Cidacs/Fiocruz em parceria com Harvard, a taxa cresceu 6% ao ano entre 2011 e 2022. Entre adolescentes de 10 a 24 anos, as notificações de autolesões aumentaram 29% ao ano no mesmo período. Fome, violência, abandono e adultização precoce formam um círculo vicioso que compromete não só a infância, mas o futuro de todo o país.
Frente a esse cenário, as iniciativas existentes parecem tímidas. Houve avanço: entre 2019 e 2024, a fatia do orçamento federal dedicada a crianças e adolescentes passou de 3,36% para 4,91%, segundo relatório do Ipea e da Unicef. O aumento existe, mas ainda é insuficiente para tratar a infância como prioridade nacional. Continuamos investindo pouco, de forma fragmentada, sem visão de longo prazo, como se a fome pudesse esperar ou fosse apenas estatística em relatório.
A resposta não pode ser episódica. É preciso redesenhar o modo como o país trata sua infância. Isso significa um pacto real entre Estado, sociedade civil, setor privado e comunidades. Significa mobilizar recursos, ideias e pessoas para transformar estatísticas em histórias de vida. Significa dar centralidade às vozes das próprias crianças, que revelam com clareza onde o país falha e para onde precisa caminhar.
O Dia das Crianças deveria ser mais do que uma data de consumo. É um convite a olhar de frente a realidade que preferimos ignorar. Porque, sem coragem de reordenar prioridades e sem a construção de um projeto coletivo para a infância, o Brasil continuará a celebrar sorrisos na propaganda enquanto compromete o futuro de uma geração inteira.
*Por Thiago Crucciti, Diretor Nacional da ONG Visão Mundial
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