COP30: Indígenas de nove países participam da conferência


Belém virou uma cidade de portas abertas nesta COP 30. Enquanto pesquisadores, especialistas e negociadores oficias de cada país discutem metas e protocolos nas zonas Azul e Verde, é nas casas da sociedade civil que se sente o verdadeiro clima da conferência: o do encontro. Neste evento, a capital do Pará está com mais de 80 imóveis alugados e transformados por coletivos e organizações da sociedade civil em polos criativos, sociais e políticos que mostram o protagonismo da sociedade, das comunidades e dos jornalistas na defesa do planeta.
A ONG News percorreu seis das famosas “Casas da COP”, todas com histórias e estilos próprios. Nelas, o debate sobre um mundo mais sustentável é contada por quem vive a floresta, seja porque habita essa região ou por trabalharem dia e noite com o propósito de preservá-la. São espaços de afeto e de articulação — com debates, oficinas, exposições e até entretenimento exaltando a cultura amazônica. Em todas elas, encontramos empatia, café, açaí e, é claro, a brisa necessária de um ar condicionado fundamental para encarar a visita à Belém.
A seguir, apresentamos um pouco do que podem esperar os visitantes desses espaços paralelos (chamados de Side Events, durante as Conferências), que deverão abrigar quase 2 mil atrações, entre rodas de conversas, plenárias, reuniões abertas e fechadas ao público, além de apresentações culturais para todos os gostos e, o melhor, de forma gratuita.
Quem quiser fazer o circuito completo pode contar com um mapa colaborativo com 84 endereços no Google Maps, pelo link: bit.ly/3LUwwnJ. Vale levar um guarda-chuva, passar um protetor solar e percorrer o centro da cidade com um tênis confortável e tempo de sobra — porque cada casa conta uma história que não cabe nas plenárias.
| CASA | ENDEREÇO | ORGANIZAÇÃO RESPONSÁVEL | INSTAGRAM/SITE |
| 1. Casa do Jornalismo Socioambiental | R. Arcipreste Manoel Teodoro, 864 | InfoAmazoniae parceiros | https://www.amazoniavox.com/cop30 |
| 2. Casa do Sul Global | Av. Serzedelo Corrêa, 15 – Nazaré | Fondos del Sur, Rede Comuá, Fundo Casa e outros | https://theglobalsouthhouse.com / @theglobalsouthhouse |
| 3. Casa Maraká | Av. Nazaré, 630 | Coletivo Mídia Indígena | https://www.instagram.com/casa.maraka |
| 4. Casa da Sociobioeconomia | Av. Gov. José Malcher, 592 | Conexsus, WWF, CLUA | https://www.conexsus.org |
| 5. Casa NINJA Amazônia | Tv. Rui Barbosa, 555 | Mídia NINJA | https://midianinja.org/afluente/amazonia |
| 6. Casa das ONGs | R. Cônego Jerônimo Pimentel, 315 | Abong | https://abong.org.br/casa-das-ongs |

📍 R. Arcipreste Manoel Teodoro, 864

Transformar uma antiga escola de yoga e acupuntura em uma redação colaborativa foi uma ideia que brotou como a própria agrofloresta que cobre o quintal da Casa Carmina, sede provisória da Casa do Jornalismo Socioambiental. Sob a sombra das árvores e ao som dos pássaros, 21 veículos independentes compartilham mesas, roteiros e entrevistas sobre a Amazônia.
“Quando vimos a casa, percebemos que ela representava o que defendemos: uma comunhão com a natureza”, conta Stefano Wrobleski, diretor da InfoAmazonia. “Por conta deste espaço verde, a temperatura aqui é mais fria, e isso nos lembra que o clima não é uma abstração — é o entorno em que trabalhamos”, acrescenta.
A ideia de ter uma casa para o jornalismo veio do time da InfoAmazonia que, mais tarde, se juntou a veículos como #Colabora, Envolverde, Eco Nordeste, ((o))eco, Amazônia Vox, Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e Open Knowledge Brasil. O próximo passo foi convidar os veículos para compor uma cobertura coletiva da COP 30, reunindo os portais: Agência Pública, Alma Preta, Ambiental Media, AzMina, Carta Amazônia, Ciência Suja, Intercept Brasil, Nexo, O Joio e O Trigo, Repórter Brasil, Revista Cenarium, Site Independente A LENTE, Agência Urutau, O Varadouro e Voz da Terra.
Mais do que uma redação compartilhada, o espaço serve de moradia para garantir a hospedagem de jornalistas de regiões amazônicas e do Cerrado, que tiveram uma ajuda de custo para a passagem aérea e alimentação em Belém. “Com isso, fortalecemos a cobertura local, que muitas vezes não tem condições financeiras de participar de eventos no seu próprio território”, explica Stefano.
Tendo como principal financiadora a Climate and Land Use Alliance (CLUA), a casa já virou símbolo de uma imprensa que não quer apenas noticiar a COP — mas reinventar o jeito de contar a Amazônia.
📍 Av. Serzedelo Corrêa, 15 – Nazaré

Quem passa pela fachada do Edifício Manoel Pinto da Silva, o primeiro arranha-céu da Amazônia, talvez não imagine que ali dentro está uma dos espaços mais sofisticados para o debate climático desta COP. Na verdade, o primeiro andar do prédio modernista costumava ser o coworking conhecido como “Canto Café”, criado pela empresária Isabela Canto em 2018. Contudo, neste mês de novembro, o local será o hub de uma coalizão de fundos socioambientais que rebatizaram o espaço de Casa do Sul Global – iniciativa das redes Alianza Socioambiental Fondos del Sur, Rede Comuá, Fundo Casa Socioambiental e do movimento #ShiftThePower.
No lugar de artistas e empreendedores de Belém, agora os vitrais originais dos anos 1960 e móveis que misturam o design amazônico e o europeu serivrão de inspiração para o grupo repensar o financiamento climático a partir da perspectiva do Sul Global, colocando as comunidades como protagonistas das decisões financeiras. “Queremos transformar o dinheiro em ferramenta de justiça e não de poder”, explicam os organizadores
No interior, o ar-condicionado divide espaço com plantas suspensas, murais de artistas locais e uma vista privilegiada da avenida Nazaré. “O Manoel Pinto é um ícone do modernismo amazônico. Sempre quis que o público tivesse acesso a esse prédio e, por isso, resolvi criar um café”, costuma explicar Isabela. Nesta COP, ela está orgulhasa pelo projeto também servir encontros sobre filantropia decolonial, oficinas de financiamento comunitário e exposições fotográficas sobre projetos apoiados por fundos do Brasil, África e Sudeste Asiático.
📍 Av. Nazaré, 630

Colorida, movimentada e cheia de vida, a Casa Maraká é o coração da comunicação indígena da COP 30. Sob o comando do Coletivo Mídia Indígena, o espaço abriga 40 comunicadores vindos de todos os biomas brasileiros. É alojamento, redação, estúdio, palco para debates e centro cultural ao mesmo tempo.
“Essa casa é um sonho realizado”, diz Erisvan Guajajara, fundador do coletivo. “Desde o início do ano, estamos trabalhando nesse projeto. Derrubamos paredes, reformamos praticamente tudo, idealizando a função de cada espaço. Queremos que ela vire uma escola de comunicação indígena permanente”, diz.
Durante o evento, a Casa Maraká recebe o gabinete simbólico da ministra Sônia Guajajara, exposições de fotógrafos indígenas da América Latina e oficinas sobre jornalismo, audiovisual e redes sociais. Na abertura da Casa, um ritual transformou o palco em um emissor de boas vibrações para os presentes.
O coletivo Mídia Indígena, que completa 10 anos, já formou mais de 1.500 comunicadores e mantém uma rede de dois mil profissionais espalhados pelo país. Agora, com sede fixa em Belém, quer consolidar um centro de formação que una tecnologia e tradição no local. “Estar aqui, no coração da Amazônia, é simbólico. É dizer que o futuro do clima tem ancestralidade”, resume Erisvan.
📍 Av. Gov. José Malcher, 592
Se a COP fosse um mercado de ideias, a Casa da Sociobioeconomia seria a sua feira orgânica. Montada pela Conexsus, em parceria com a WWF-Brasil e a CLUA (Climate and Land Use Alliance), o espaço reúne cooperativas, associações e negócios comunitários que vivem da floresta — e dela fazem ciência e renda.
“A gente quis um lugar que fosse, ao mesmo tempo, acolhimento e debate”, explica Fernando Moretti, diretor de políticas de sociobioeconomia do Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus). O espaço, decorado com móveis de madeira de reflorestamento e artesanato local, vai abrigar debates e painéis sobre crédito rural, finanças verdes e ações comunitárias – quase sempre fechados para convidados da organização.
Nos intervalos das atividades, os visitantes poderão conferir uma mostra de produtos vindos de agricultores e associações que recebem o apoio da Conexus, além de aproveitar o charme de um lugar onde – normalmente – funciona um Hostel. Por isso, os locatários da Casa da Sociobioeconomia já encontraram prontos uma estrutura de moradia e salas para troca de experiências, em meio à degustação de delícias colhidas diretamente das cooperativas amazônicas.

📍 Tv. Rui Barbosa, 555
A casa mais pop da COP 30 é também uma das mais engajadas. Ao procurar um espaço para abrigar suas iniciativas paralelas à agenda oficial da Conferência, o time da Mídia Ninja acabou encontrando sua nova sede no Pará. O coletivo descobriu o espaço sem morador nem comércio ativo meses atrás e iniciou a reforma para inagurar um hub aberto a debates socioambientais, lançamentos e, como não poderia faltar, atrações culturais com artistas paraenses.
Isso significa que a Casa Ninja, aberta dia 10 de novembro, permanecerá com uma programação de articulação política após o fim da Conferência. No local, também irá funcionar uma ONG que abriga mulheres em situação de rua. “O legado da casa é continuar sendo espaço de cuidado e resistência”, explicam os ninjas.
Em um ambiente que mistura muralismo amazônico, sofás coloridos e slogans ativistas, a casa também é homenagem à jornalista Marielle Ramíres, que abriu caminho para o coletivo nas conferências da ONU. Mas este é apenas um dos espaços do coletivo em Belém, já que, a alguns quilômetros de distância, também foi criado o “Bunker NINJA”, num outro imóvel algulado para a central de produção das reportagens — uma verdadeira redação 24 horas. Na dúvida, visite os dois espaços.
📍 Rua Cônego Jerônimo Pimentel, 315

A Casa das ONGs é o endereço da pluralidade. Criada pela Abong, ela funciona como um centro aberto e gratuito para plenárias, reuniões e apresentações culturais da sociedade civil.
O objetivo é claro: ampliar o poder de incidência das organizações amazônicas, muitas vezes excluídas dos espaços oficiais da conferência. “As burocracias da COP afastam quem mais sofre os efeitos da crise climática. Essa casa é o nosso contraespaço”, dizem os organizadores.
Com uma programação intensa entre os dias 10 e 19 de novembro, o local abriga debates sobre justiça climática, juventude, gênero e democracia. Também serve de ponto de encontro entre coletivos locais e financiadores.
Fique atento à programação local, pois a laje da Casa se transforma em palco para apresentações culturais, com muito axé como toda boa festa deve ter.
(Adriana Souza Silva, enviada especial a Belém para a ONG NEWS)
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