A reflexão que proponho hoje surgiu em janeiro desse ano como um momento de epifania, enquanto escrevia o texto “Precisamos conversar sobre a crise”. Naquela oportunidade lancei algumas ideias provocativas, especialmente sobre a maneira especulativa com que pessoas e organizações vinham lidando com a crise, gerando uma espécie de “ausência de perspectivas de futuro”, e a verdade é que a vida requer perspectivas!
Nas últimas semanas realizei um total de oito papos inspiradores, mediando o diálogo entre cerca de 1500 pessoas, em 6 diferentes cidades do Paraná. Um marco para este ano, certamente, e acompanhado de perto por alguns amigos que sentem prazer em se envolverem nessas minhas jornadas de aprendizagem. Um deles me perguntou como havia sido um dos encontros.
— Foi um sucesso — respondi entusiasmado.
— E como você sabe que foi um sucesso? — perguntou ele curioso.
Olhei para a mensagem na tela, relendo a pergunta enquanto procurava por uma resposta nas lembranças dos encontros, nas imagens de pessoas conversando e interagindo entre si (com uma ajudinha das atividades prático-reflexivas). Lembrei da gradativa mudança nas suas fisionomias após cada provocação reflexiva que eu propunha e nas expressões de agradecimento que me foram ditas sempre ao final dos nossos bate-papos.
Frases como “faz muito sentido o que você disse”, “eu nunca havia pensado nisso antes” ou “poxa vida, vou ter de rever muita coisa depois de hoje”. Foi então que percebi que cada encontro havia sido um sucesso pelo simples fato de haver despertado novas perspectivas nas pessoas, um outro olhar sobre os diferentes temas que eu vinha apresentando. Só então respondi aliviado à mensagem.
Há alguns dias me encontrei com um colega e cliente para falar sobre os projetos do segundo semestre. Ele parecia bastante desanimado, especialmente por conta dos resultados obtidos com a pesquisa de clima organizacional que havia recém aplicado em sua empresa. Sentou-se pesadamente na cadeira e lançou sobre à mesa uma série de planilhas e gráficos impressos em cores vivas.
— Aí está o meu problema! — sentenciou, soltando um suspiro num misto de desaprovação e cansaço.
— Eu vejo uma série de desafios, na verdade — falei, enquanto mexia nos papéis, buscando compreender o cenário que os números desenhavam.
— E algumas oportunidades também, devo dizer.
— Sim, sim, desafios… mas qual a diferença entre problema e desafio? Afinal de contas, são a mesma coisa, não são?
— Na verdade há uma diferença bastante significativa — respondi imediatamente
— A diferença está relacionada ao tempo em que cada uma dessas perspectivas acontecem — provoquei, aguardando a expressão de dúvida. Quando ela surgiu, continuei…
— Veja, todo o problema se caracteriza como algo que já aconteceu, certo?
— Certo…
— Portanto, todo problema pertence ao passado e, apesar de gostarmos da ideia e nos encher de orgulho em dizer que resolvemos muitos problemas, a verdade é que nunca resolvemos os problemas que já aconteceram, a não ser que viajássemos no tempo. Podemos apenas reconhecê-los, assumindo e lidando com os desafios que surgem a partir de cada um deles, por exemplo (e no mínimo) o de evitar que voltem a acontecer.
— Ok, mas o que isso tem a ver com a pesquisa de clima?
— Para lidar com esse cenário você precisa mudar sua perspectiva, reconhecendo os problemas que a pesquisa já lhe apontou, passando a perceber quais são os desafios a partir de agora.
A ressignificação da ideia de problema versus desafio talvez seja uma das mais significativas quebras de paradigma para as pessoas, e também no ambiente organizacional, pois estabelece uma outra perspectiva em relação àquilo que já aconteceu, ao cenário atual e sobre o que precisa ser feito. Focar nos desafios significa assumir isso: que algo precisa (e deve) ser feito, mudado e transformado!
Superado esse diálogo, seguimos numa conversa que durou por mais algumas horas, entre ideias e proposições, e percebi que eu estava conduzindo a conversa com meu colega da mesma maneira como eu o havia feito nos papos inspiradores, propondo novas perspectivas. De repente, olhando para as notas espalhadas sobre a mesa, ele disse:
— Estava aqui esse tempo todo, e eu não havia percebido… Olhe as respostas das pessoas em relação aos receios. Veja como muitos tem dificuldade de falar sobre seus anseios, suas…
— […] perspectivas de futuro!? EURECA! — gritei, fazendo estardalhaço com a descoberta dele.
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Passamos a avaliar de que maneira a gestão da empresa e as lideranças (sim, eles tem um papel central nesse desafio!) conseguiam transmitir aos colaboradores ideias concretas sobre o futuro do negócio e seu mercado, além das oportunidades de crescimento individuais, não apenas através de promoções, mas dos processos de aprendizagem e desenvolvimento.
Ao final de nosso trabalho, ficamos um tempo em silêncio, olhando as notas, organizando alguns papéis…
— Engraçado como eu me sinto bem depois de todo esse trabalho — comentou meu colega.
— O fato é que você mesmo está diante de várias perspectivas potenciais agora, e isso com certeza lhe dá energia para seguir a diante. Afinal de contas, a vida requer perspectivas, e somos nós mesmos que as construímos. Basta dar um pouco mais de atenção às nossas próprias potencialidades e exercitar o sonho e a experimentação — disse, despedindo-me.
Dois dias depois do encontro recebi um novo convite para voltar à empresa dele, a fim de apresentarmos juntos à alta gestão algumas das ideias tanto para melhorar o clima quanto para cultivar os talentos da organização (uma outra ressignificação que explicarei em um outro texto). Pronto, agora haviam novas perspectivas também para mim.
E você, vai continuar esperando algo acontecer, ou vai semear algumas perspectivas também!? Quem sabe seja hora de tomarmos um café, hein!?
Descubra como semear perspectivas, cultivando de maneira colaborativa para colher realizações!
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