Em 2014, foi instituído pelo governo do Brasil o Dia da Mulher Negra (25/07), a partir da Lei n.º 12.987. Assim como o Dia Internacional da Mulher, o objetivo não é festejar, e sim dar visibilidade a essa causa, conscientizando as pessoas a respeito da realidade e do preconceito enfrentado por essas mulheres por conta de seu gênero e cor de pele.
A realidade de luta das mulheres negras no Brasil é, de modo geral, uma sequência de batalhas contra o racismo, a busca pela superação e igualdade de forma estrutural e dentro das instituições que compõem a sociedade.
Dentro do movimento negro há várias vertentes de atuação para chegarem a esse mesmo objetivo, são visões e modos de se posicionar diferentes, mas o que todas as pessoas pretas têm em comum, é que em muitos momentos de suas vidas passam pela dificuldade de se autoidentificarem como pretas.
Cor não é ofensa!
No Brasil, por muito tempo a sociedade evitou classificar as pessoas como pretas ou negras, como se isso fosse uma ofensa. Um exemplo disso é o próprio censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no qual existem três variações para a cor da pele: “branca”, “parda” e “preta”.
Muitas vezes expressões como “morena”, “mulata”, “negra”, “bronzeada” são usadas com uma conotação que dá a atender uma amenização de realidade para algo que não é um defeito. Essas nomenclaturas demonstram, inicialmente, o que é ser mulher negra no Brasil – quando até mesmo o nome da sua cor é tratado como uma ofensa.
Qual é o problema de chamar uma mulher de PRETA? Preto não é xingamento! Preta é a cor da pele e isso é perfeitamente normal.
A pobreza brasileira tem a cor preta
Hoje em dia, as favelas brasileiras são fragmentos do período pós-escravidão. As pessoas pretas foram excluídas e expulsas da sociedade, principalmente devido à inexistência de políticas públicas que permitissem a efetiva entrada dessas pessoas no convívio social. A pobreza não é apenas uma questão de classes, mas de gênero e raça também.
Fonte: Relatório sobre minorias brasileiras – ONU.
Se a gente luta por igualdade racial, precisamos entender por que as mulheres pretas ainda não ocupam certos lugares na sociedade. Por que a porcentagem de mulheres pretas que concluem graduação/pós-graduação ainda é tão pequena?
O número de mulheres que concluem a graduação no Brasil é 38,7% superior ao de homens. Mas, entre essas mulheres, APENAS 5,4% SÃO MULHERES PRETAS.
Por falta de acesso à educação, fruto de uma realidade preconceituosa e opressora, as mulheres pretas buscam outras alternativas para prover seu sustento, que não requerem nível avançado de estudos.
No Brasil, 61% das trabalhadoras domésticas são mulheres negras.
Pessoas negras só ocupam 29,5% dos cargos de gerente e 4,7% do quadro de executivos nas empresas nacionais. A situação é ainda mais desigual para as mulheres pretas: 1,9% são gerentes e só 0,6% participam do quadro de executivos. São só duas, entre 548 diretores (Fonte: Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas. Instituto Ethos, 2016; e Movimento Mulheres 360).
A “vitimização” é argumento de quem não entende a causa
É muito fácil você questionar a legitimidade de uma causa na qual você não se insere. O preconceito é cumulativo e só entendemos a completude dele, quando sentimos na própria pele.
Um homem hétero nunca saberá o que um homossexual sofre, um homem homossexual nunca saberá o que uma mulher branca sofre, uma mulher branca nunca saberá o que uma mulher preta sofre.
Mas a opressão à mulher preta é real e ela é comprovada em número. Elas são:
Fonte: Mapa da Violência 2015: Homicídio de mulheres no Brasil – ONU; Dossiê Feminicídio – Mulheres Negras e Violência no Brasil (2018); Pesquisa Nascer no Brasil 2020 – Fiocruz; Mapa da Violência 2022 – Instituto Jones dos Santos Neves.
A luta das mulheres pretas é a luta pela vida, respeito e igualdade!
Em uma sociedade ideal, seria dever de todos defender vidas e direitos igualitários. Mulheres pretas não são só mulheres ou pretas, são pessoas. Pessoas que precisam e merecem o reconhecimento e respeito por quem são. Pessoas que não deveriam travar batalhas diárias para garantirem direitos que as pessoas que não carregam em sua condição, o gênero feminino ou cor preta são assegurados desde o berço.
Por essas mulheres precisamos abrir os olhos. Precisamos desenvolver um comportamento antirracista para nos tornarmos uma sociedade mais empática e justa.