Pequim, 1995. Ocorria a 4ª Conferência Mundial sobre Mulheres, com o objetivo de traçar metas para equidade de gênero e empoderamento feminino ao redor do mundo. Vinte anos depois, a ONU Mulheres lançou a campanha “Pequim+20: Empoderar as Mulheres, Empoderar a Humanidade: Imagine!” para analisar as mudanças ocorridas em doze pontos de abordagem, entre eles, educação, violência doméstica, liderança, direitos humanos, mídia, saúde e empoderamento econômico.
Na pesquisa “Getting to Equal” realizada pelo Bando Mundial, concluiu-se que ainda há muito que ser feito:
Mas engana-se quem pensa que esta realidade é exclusiva de países da África ou do Oriente Médio, com uma cultura patriarcal ainda muito forte e enraizada. Países ocidentais e desenvolvidos também figuram na lista.
A França, por exemplo, proíbe que mulheres exerçam cargos que exijam carregar peso acima de 25 kg, o equivalente a uma criança de cinco anos. Na Rússia, 465 postos de trabalho são restritos aos homens, e na Argentina, atividades como manipulação e produção de materiais explosivos, inflamáveis ou corrosivos e venda de bebidas alcoólicas ou fermentadas, também são proibidas de serem exercidas por mulheres.
Os EUA está entre os quatro países do mundo em que não há leis nacionais que assegurem licença maternidade, junto com Togo, Papua Nova Guiné e Suriname.
Porém, nem só de más notícias se fez o estudo. Ao longo dos últimos anos, 65 países em desenvolvimento realizaram reformas políticas para equidade de gênero e 127 países possuem algum tipo de legislação contra violência doméstica. Há 25 anos, eram apenas sete.
Algumas iniciativas ao redor do mundo nos mostram o quanto é necessária e urgente esta mudança, colocando as mulheres em posições de destaque. Na Arábia Saudita, país extremamente restritivo, a startup Glowork, fundada por Khalid Alkhudair, busca inseri-las no mercado de trabalho, através de um trabalho conjunto com empresas e governo, incentivando inclusive, mudanças nas políticas públicas. Atualmente, contam com a parceria do Ministério do Trabalho e um banco de dados com mais de 1,6 milhões de currículos.
A Arábia Saudita é um dos países que mais investiu em educação para as mulheres, segundo dados do Fórum Econômico Mundial, porém, não removeu as barreiras que as impeçam de atuar no mercado.
No Irã, Niloufal Ardalan está causando uma revolução no país. “Lady Goal”, como é conhecida a camisa 10 da seleção iraniana de futsal, foi impedida pelo marido de viajar para a Copa da Ásia, com a justificativa de que ela precisaria permanecer no país para acompanhar o primeiro dia letivo do filho. O Irã está entre os 32 países que exigem autorização do marido para as mulheres obterem passaporte. Casos como de Niloufal acontecem todos os dias, porém, ela resolveu protestar contra a decisão.
Gostaria que as autoridades criassem uma solução que permitisse a atletas mulheres defenderem seus direitos nessa situação. Entendo que é a lei, mas nossa seleção precisa de mim. O governo poderia abrir uma exceção temporária para atletas profissionais disputarem partidas internacionais. Como mulher, mãe e uma atleta profissional iraniana, eu gostaria de receber esse apoio.
No norte do Iraque, na região do Curdistão, Raparin, Roza e Deijly, da minoria yazidi, após ouvirem relatos de tortura e mortes bárbaras com a sua etnia, tomaram coragem e deixaram a Turquia para formar uma unidade de combate feminina, na guerra contra o Estado Islâmico. Não hã distinção entre homens e mulheres tanto durante os treinamentos, como no combate. Segundo elas, muitos terroristas acreditam que, se forem mortos pelas mulheres, não se tornarão mártires, tornando-as importantes estratégias de guerra. Com um sorriso nos lábios, Roza afirma:
Estar na vanguarda na luta contra o ISIS no Iraque e na Síria, também promove a igualdade de gênero no Oriente Médio.
Movimentos independentes e muita vontade de ser parte atuante nessa mudança. É por isso que milhares de mulheres ao redor do mundo lutam todos os dias. Não só mulheres, pois esta é uma luta conjunta, com benefícios globais. Frente a esta necessidade de virar a chave, o vice-embaixador do Reino Unido para a ONU, Peter Wilson, fortaleceu a posição britânica, de uma mulher assumir o cargo mais alto da Organização. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança são os responsáveis por eleger o secretário-geral. Considerando Rússia e China parte destes membros e com poder de veto, é difícil crer que este momento esteja próximo.
Essas mudanças não se tratam apenas de mulheres que lutam, mas da voz feminina como parte fundamental e integrante nas decisões políticas e sociais, cidadãs ativas na construção de um mundo mais justo. Mulheres como protagonistas de suas próprias vidas e na história do mundo contemporâneo. Sim, é possível, e é necessário.
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