Era uma quarta-feira, tipicamente curitibana, em que o sol brilha cedo, mas não tarda para se intimidar e dar lugar as charmosas nuvens, que são familiares para quem tem o prazer de se deliciar com os encantos desta cidade.
Como de costume acordei cedo e fui para a minha tradicional sessão matinal de esportes, acompanhado do meu parceiro de treino e ouvindo uma boa coletânea de Afrohouse, seguido daquele banho ao estilo the flash.
Até então o dia estava bom e normal, apesar de não ter acontecido nada de especial, também nada corria mal, e pensava comigo, “nossa, deveria haver mais dias assim”.
No escritório, as coisas estavam corridas, mas solucionáveis a uma velocidade aceitável e de grande produtividade. Fez jus a expressão “o tempo voa”, pois, a manhã foi tão rápida que nem me dei conta que já era horário de almoço.
E para variar saio meio atrasado, mas carrego comigo o celular e uma revista para a leitura durante a caminhada.
Minutos depois, estou no restaurante, almoço ouvindo um bom samba estilo e música angolano, semelhante ao samba, com um requinte de MPB.
Pago a conta e saio do restaurante. Mudo de gênero musical, coloco um Hip Hop pesadão e fones de ouvido, em fração de poucos segundos estava concentrado na leitura de volta.
Tentando contrariar o que dizem, que homem só consegue fazer uma coisa, estava ali ouvindo música, lendo, caminhando a passos de camaleão, claro, e ainda controlando o trânsito. Mas como estava totalmente familiarizado com o trecho, não me parecia insano.
Entre os versos da música que ouvia e as frases de Marketing do artigo na revista, revolvi olhar em minha volta, quando vejo um idoso caindo. E como estava totalmente distraído e isolado do mundo, não sabia ao certo o que o fez cair.
E pensando que aquele homem poderia ser meu avô, não titubeei e resolvi ajudar. Comecei a caminhar em passos largos a uma velocidade quase acelerada e ao mesmo tempo ia desligando a música e colocando a revista no bolso.
Nisso percebi que quando o idoso caiu, espalharam-se pelo chão alguns dos seus pertences como dinheiro, chaves e smartphone, pelo menos foi o que deu para perceber no momento. Mas isso não era o importante.
Então fui caminhando em direção a ele, mas a uma dada altura comecei a sentir que a cada passo que dava, aumentava a angústia do idoso – a certa altura achei que deveria ser fruto da queda. Assim sendo, acelerei ainda mais o passo e quando cheguei a mais ou menos 2 metros de distância, ficou claro para mim que o idoso achava que eu iria roubá-lo.
Perguntei-me: o que fazer?
Rapidamente decidi, vou ajudar e ele saberá que não era bem assim. Mas a cada passo era como se eu estivesse a torturar o idoso. Via a sua alma saindo do corpo de tanto medo.
O idoso achava que eu iria roubar e não ajudar. E a aflição dele foi mais forte que minha vontade de ajudar que desisti.
Resolvi voltar para o meu roteiro e cheguei no trabalho, me concentrei nos meus afazeres. Não demorou e o dia tinha evaporado.
Mas desde então não consegui tirar isso da minha cabeça. Se não fiz nada, como posso ainda me culpar?
Minha consciência me puniu, por isso, de agora em diante, farei bem e despirei das amarras do medo e do preconceito. Jamais voltarei a desistir de fazer o bem.
Espero que esta história sirva de lição. Diz o ditado “é mais barato aprender com os erros dos outros”. Vivendo e aprendendo.