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Em uma noite marcada por aplausos, discursos emocionados e muitas surpresas, o Prêmio Melhores ONGs 2025 voltou a reunir, no teatro do Mercado Livre, em São Paulo, um pedaço do Terceiro Setor brasileiro para celebrar as 100 organizações que se destacaram por gestão, transparência e impactosocial no ano passado.
A cerimônia, organizada pela Certificadora Social emparceria com o programa Ambev VOA, celebrou iniciativas de diferentes regiões e áreas de atuação, ao mesmo tempo em que trouxe aos palcos o debate sobre o desafio permanente da busca por recursos.
Criado há oito anos, o prêmio se consolidou comouma espécie de “termômetro” da governança no setor. Desde 2017, mais de 5 mil organizações já passaram pelo processo de avaliação, que observacinco temas estruturantes: Comunicação e Prestaçãode Contas; Causa e Estratégia de Atuação; Representação e Responsabilidade; Gestão e Planejamento; e Estratégia de Financiamento.
Prêmio é visto como Oscar da Filantropia
A grande vencedora da edição 2025 foi o Bairro da Juventude, organização de Criciúma (SC) que há 73 anos atua com educação e assistência social para crianças e adolescentes. A instituição atende cercade 1,6 mil pessoas vindas de 86 territórios e mantém serviços que incluem educação formal, profissionalização, transporte, alimentação, saúde, acompanhamento psicossocial, esporte e cultura.
Em 2025, quase 900 instituições se inscreveram — um recorde que, segundo os organizadores, indica amadurecimento do setor. A lista completa das 100 Melhores está disponível no site oficial(premiomelhores.org/2025), que também abre as inscrições para as ONGs interessadas em participarda edição seguinte.
Participantes sentem o efeito da concorrência crescente
O prêmio funciona em duas etapas: um primeiro questionário com dados objetivos e verificáveis e umasegunda fase aprofundada, com envio de documentos e explicações detalhadas sobre governança e práticas institucionais. A análise é conduzida por uma comissão formada porpesquisadores, consultores e lideranças do setorsocial.
Para Fábio Kanashiro, sócio-diretor da Certificadora Social, a elevação constante do nível das candidaturas é um indicativo de que as organizações estão incorporando critérios técnicos de forma mais consistente. “Vemos uma rotatividade positive entre as vencedoras. As ONGs tradicionais continuam apresentando bom desempenho, mas muitas que aparecem pela primeira vez inscritas, já chegam com histórias fortes, transparência consolidada e gestãoexcelente. Já não basta ser uma boa ONG para ficarentre as 100 melhores”, afirmou.
Casa 1 expõe a lacuna de financiamento àspautas LGBT
Um discurso marcante na noite da premiação ocorreu quando o palco recebeu a Casa 1, centro de acolhimento e cultura LGBT fundado em São Paulo. A organização recebeu a Menção Honrosa de Legado de Impacto Social e alertou para a falta de financiamento estrutural às pautas LGBTQIA+ no país.
“A Casa 1 é uma das mais importantes referências brasileiras de acolhimento e cultura para pessoas LGBTQIA+. O trabalho que realiza há quase uma década transforma vidas e devolve horizonte em um país que ainda oferece tão pouco a essa comunidade. E é justamente por isso que é tão grave que uma organização como essa anuncia publicamente a possibilidade de encerrar as suasatividades por conta de ausência de recursos. Não é uma questão pontual, mas uma lacuna estrutural. O investimento social privado brasileiro ainda financiapouquíssimo as agendas LGBT, apesar da urgência e da profundidade de impacto que elas produzem”, desabafaram Iran Giusti e Lucila Lang, da ONG Casa 1.
A fala repercutiu entre apoiadores do prêmio. Carol Farias, coordenadora de marketing da Prosas, acredita que o reconhecimento com o troféu das Melhores ONGs pode alterar trajetórias. “Recomendoque organizações vencedoras fiquem atenta aoseditais. Existem várias oportunidades de financiamento, e o prêmio pesa nas decisões”, afirmou.
Para o superintendente do Observatório do Terceiro Setor, Diego Scala, “o prêmio acende algo importante em todos nós: a certeza de que vale a pena continuar, de que cada passo conta e de que o Brasilé mais forte quando apoia quem faz a diferença de verdade”.
Jurados observam profissionalização e aumento da competitividade
Na avaliação do consultor Michel Freller acompanhao prêmio desde sua criação e diz que “a barra sobeano a ano”. Para ele, o setor está mais diverso e profissionalizado, ainda que o processo de inscrição rigoroso continue desafiador para grande parte das organizações. “No fundo, todos queremos que o Terceiro Setor se devolva. Se houve 900 inscritasneste ano, vamos tentar trazer 2, 3 mil ONGs interessadas em estar entre as 100 Melhores no anoque vem. Com esse aumento da competição, as organizações vão se aperfeiçoando, tentando aprender onde podem melhorar”, diz o especialista, que acumula mais de 30 anos de experiência em gestão, captação e elaboração de projetos.


Entre as organizações premiadas novamente está o Instituto do Câncer Infantil do Agreste (ICIA), de Caruaru, que há 22 anos atua em diagnóstico precoce e tratamento de crianças com câncer. Para o fundador Luiz Henrique Soares (na foto, à direita), estampar a imagem do prêmio nos ateriais da organização é um sinal de “confiança”: “O prêmio nos abriu portas. Outras instituições passaram a colaborar conosco porque estávamos entre as 100 melhores.”
Ele conta que muitas pessoas ainda veem as ONGs da região Nordeste como associações assistencialistas, e não como protagonistas da sua própria história. “O Nordeste é muito forte e resistente. E a nossa ONG está exatamente no local onde havia o vazio, assim como é a seca. Mas a coragem, a persistência e a determinação de mudar a realidade daquelas crianças, hoje nos permite levar apoio, esperança e cura, devolvendo meninos e meninas para a sociedade, com perspectivas de vidade 70, 80 anos”, declara.
O diretor-executivo da SAVE Brasil, Pedro Develey, que atua na conservação de aves e ecossistemas, também comemorou o retorno à lista das MelhoresONGs em 2025. Segundo ele, o prêmio fortalece não apenas a reputação da instituição para quem está de fora, como, principalmente, para o time interno da SAVE. “Nossa equipe é muito descentralizada, temos pessoal trabalhando do Nordeste ao Rio Grande do Sul. A notícia de que estamos entre as 100 Melhores mostra a eles o quanto trabalharam bem. Tenho certeza de que todos estão muito orgulhosos e com uma sensação maior de pertencimento à causa”, afirma.

(Redação ONG News)
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