Sororidade é poderosa
disse Robin Morgan, explicando a frente feminista da década de 1970, em um livro de mesmo título. Naquela época, mulheres se tratando como irmãs era uma ação muito forte. Mulheres caminhavam unidas pelas ruas, exigindo seus direitos em uníssono. Independente da militância, lá estavam elas, diferentes à sua maneira, empáticas com a batalha de cada uma.
Com o passar dos anos, essas diferenças se tornaram uma problemática. O mundo mudou, é mais competitivo e as desigualdades para o sexo feminino não só persistem como crescem. Inclusive, o patriarcado está cada vez mais opressor e alimenta sem dó esse suposto atrito que faz muitas mulheres trocarem a sororidade pela rivalidade. A empatia foi substituída por desdém/descrença, tornando diferentes batalhas a favor delas mesmas complicadíssimas de serem discutidas e abraçadas.
Bem jovens, algumas são diminuídas e lidaram, ou ainda lidam, com as consequências da rivalidade e da competição feminina, tais como problemas de autoimagem e de autoconfiança. Circunstâncias muitas vezes provocadas e extenuadas por outras meninas e mulheres em um ciclo visceral que algumas levam para a vida adulta.
Assim, manter a irmandade se tornou uma tarefa inviável devido a essa atmosfera tão densa entre as mulheres. Uma atmosfera que sinaliza que nenhuma é bem-vinda na vida da outra. Porém, com sororidade, todo esse mal-estar, essa competição e essa desconfiança mútua podem (e precisam) ser dissolvidos.
O que é sororidade?
Resumidamente, sororidade é um dos pilares do feminismo que se refere à irmandade entre as mulheres. É empatia, companheirismo e proteção. É aceitação, concordância e colaboração. Seu maior inimigo é o patriarcado que sempre a desacredita para impulsionar desunião – mulheres juntas? Jamais!
Meninas e mulheres são encorajadas a competir umas com as outras e não a caminharem uma ao lado da outra. Desde muito cedo há conflito por qualquer tipo de atenção, principalmente masculina. Cada coração partido cria versões vingativas, um “resultado” estereotipado por filmes e por novelas que pregam essa rivalidade de formas inacreditáveis.
E muitas acreditam nesses meios que alimentam que uma precisa derrubar a outra para ser feliz. Ou, na pior das hipóteses, que uma não pode deixar a outra ser feliz. Com essa e outras travas, não há quem acredite no poder da sororidade.
Quando se acredita e se aplica a sororidade, meninas e mulheres se apoiam. Não há rivalidade, mas progresso. Em muitos casos, elas passam a trabalhar por si mesmas e pelas outras. Elas geram empregos para mulheres, permitem que mulheres contribuam e se tornem inspirações – e se deixam levar sendo inspiradas por elas.
Com a sororidade há respeito mútuo regado de aprendizado e de descoberta. Como o próprio nome diz, há irmandade. Nesse ciclo, não há minimização, mas uma elevando a outra para que sejam vistas e ouvidas, estimuladas a fazerem o que acreditam, a batalharem fora da zona de conforto, a lutarem pelos seus direitos.
Sororidade e empoderamento
Mulheres unidas acarretam mudanças significativas na sociedade. Não é preciso ser melhor amiga da outra para investir e acreditar nela. Basta estar lá por ela, ser empática, ser companheira, ser protetora. Não menos importante: ser responsável pelo empoderamento dela.
Mulheres também são capazes de provocar desigualdades. Há muitas que ainda não se libertaram do patriarcado e reproduzem atos/discursos machistas. Elas devem ser excluídas da irmandade? Muito pelo contrário. Essa lacuna abre chance para o diálogo e para pôr fim a essa “ideia” de que uma mulher vive e respira para colocar a outra para baixo na menor oportunidade.
É um processo longo e, por vezes, não alcança um resultado positivo. Porém, é importante fazer a sua parte, pois meninas e mulheres sofrem com esse “ódio” diário, não só aqui, mas no mundo todo. É importante sempre mudar ou tentar mudar o discurso. Por que contribuir com a desunião se posso ajudá-las a atingir seus objetivos? A serem respeitadas? A orientá-las sobre seus direitos?
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Ainda há discrepâncias no universo feminino, claro, mas cada uma tem sua história e, acredite, há muitas desesperadas para serem ouvidas. Só não encontraram uma oportunidade. A partir do momento que se muda a atitude e o discurso, refletir sobre tudo aquilo que provocou, e ainda provoca, dá aval para um novo olhar. É fato que ninguém foi o mais exemplar das pessoas no passado, mas há chance de amadurecimento e de libertação. De garantir reviravoltas positivas.
Quanto mais colocarmos umas as outras para baixo, impedimos umas as outras de crescer. Não podemos ser responsáveis em abafar o brilho da outra, mas sim enaltecê-lo. Precisamos nos fortalecer para quebrarmos incontáveis barreiras. É difícil para algumas? É.
Digo por mim: foi complicadíssimo. Porém, se permita. Escute as preocupações da outra com a mesma atenção que escuta suas vitórias. Dê a mão a outra e a norteie com integridade e com respeito.
Sororidade anda junto com empoderamento. Quanto mais meninas e mulheres se apoiarem, mais as desigualdades diminuirão. Simplesmente porque elas passarão a caminhar juntas rumo ao progresso, braço a braço, independente da militância ou da batalha pessoal de cada uma.
Abra sempre a porta
Meninas e mulheres precisam parar de fechar portas. Uma vez fechada, se vetou uma chance para a mudança. Um desafio que não deveria ser desafiador, pois todas são iguais com backgrounds diferentes – a diferença que torna cada uma especial e forte à sua maneira.
As mulheres têm necessidade de pertencer a uma comunidade, mas o que foi culturalmente estabelecido, por assim dizer, tem impedido relações mais intrínsecas. Não há quem não deseje amigas para toda a vida ou companheiras que apenas sinalizam que estão ao seu lado para o que der e vier. É basicamente isso que sororidade representa.
Essa palavrinha abre espaço para contribuição e para o empoderamento. Uma vez que esse ciclo começa, não há quem não se sinta imparável.
Sem sororidade, há competição. Quanto mais competição, mais desvalorização do papel da mulher. Da luta da mulher. Isso, universalmente falando. A competição impede o empoderamento, justamente porque muitas ainda pensam que uma mulher enaltecida é uma ameaça.
Janice Raymond disse em seu livro Passion for Friends – Toward a Philosophy of Female Affection:
as mulheres podem escolher suas visões e podem escolher ver umas as outras.
Eu escolhi minha visão e escolhi ver não só a mim mesma, mas outras meninas e mulheres.
E você?
Texto publicado originalmente em dois de outubro de 2015, por Stefanny Lima, atualizado em 25 de setembro de 2024 pela equipe editorial da Nossa Causa.