ONG recifense trabalha no auxílio às pessoas com HIV/AIDS

ONG News
25 de outubro de 2024
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Fundada em Recife em 1993, a Gestos atua na defesa dos direitos humanos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, com o objetivo de combater o HIV e a AIDS, além de fomentar a construção de sociedades mais democráticas, equitativas e pacíficas.

A organização surgiu em resposta à epidemia de HIV/AIDS na década de 90 e, desde o início, compreendeu que a solução não poderia se restringir ao âmbito hospitalar. A Gestos oferece um apoio que abrange aspectos sociais e culturais, prestando atendimento psicossocial e jurídico às pessoas que vivem com HIV.

Além de prestar serviços gratuitos, a ONG realiza testes para HIV, sífilis e hepatites virais, orienta jovens e adolescentes sobre saúde e sexualidade. Também desenvolve ações educativas em comunidades, serviços de saúde em escolas, capacita gestores públicos e profissionais das áreas de saúde, educação e direito, forma ativistas e defensores de direitos. Promove ainda campanhas e produz conhecimento por meio de publicações e materiais informativos.

Em entrevista ao Nota Social, Juliana César, assessora de programas da Gestos há 14 anos, falou sobre as campanhas da ONG, o estigma em torno do HIV, o papel da organização na promoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e muito mais.

Nota Social: Como o trabalho da Gestos se aproxima dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)?

Juliana César: A Gestos sempre esteve envolvida com a agenda internacional, especialmente, com a Plataforma de Ação do Cairo de 1994, que deu origem aos Objetivos do Milênio e, depois, aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. Quando percebemos que a agenda dos Objetivos do Milênio não seria totalmente alcançada, começamos a lutar pela ampliação dos objetivos e pela inclusão de temas que estavam de fora, como questões ambientais e de gênero. Hoje, participamos ativamente nas negociações sobre os ODS e conseguimos que a HIV/AIDS tivesse uma meta específica. 

NS: A Gestos realiza campanhas regulares no Brasil? Como vocês planejam essas ações?

JC: Sim, temos campanhas relacionadas a datas específicas, como o Dia Internacional da Mulher, o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS e a Parada da Diversidade, aqui em Recife. Nossas ações estão sempre conectadas a temas importantes para a nossa organização, como gênero, direitos sexuais e reprodutivos, e o combate à violência contra as mulheres. Além dessas campanhas, realizamos iniciativas específicas com apoio de parceiros, como a campanha “Mudar o Jogo”, que incentiva as pessoas a buscar candidaturas alinhadas com os ODS durante as eleições.

A Gestos marcou presença na na 23ª edição da Parada da Diversidade de Pernambuco, em 15 de setembro deste ano. Reprodução: Gestos.

NS: Quando vocês decidiram incluir pautas de gênero e direitos sexuais e reprodutivos no trabalho da Gestos, já que a organização nasceu para falar de HIV/AIDS?

JC: Na verdade, essa inclusão sempre esteve presente. Desde o início, nossa abordagem foi baseada nos direitos humanos, e isso envolve questões de gênero e sexualidade. As pessoas vivendo com HIV enfrentam muito estigma. Tratamos essas questões desde cedo, promovendo direitos sexuais e reprodutivos e lutando contra a culpabilização das pessoas vivendo com HIV.

NS: Falando em estigma, ele ainda persiste na atualidade?

JC: O estigma ainda é muito presente. Muitas pessoas vivendo com HIV são demitidas, expulsas de casa ou vivem em silêncio, sem contar a ninguém sobre sua condição. Apesar de algumas mudanças, como a permissão recente de homens que fazem sexo com homens doarem sangue, o preconceito ainda persiste. Estamos sempre atuando para combater esse estigma, seja em questões de trabalho, saúde ou direitos humanos. Até hoje, as pessoas com HIV enfrentam um grande estigma e medo da quebra de sigilo, especialmente nas unidades básicas de saúde, onde todo mundo se conhece. Por isso, a maioria busca atendimento em serviços especializados. Também é difícil garantir que adolescentes tenham acesso a métodos de prevenção, como preservativos, sem que sejam questionados ou tenham que pedir autorização dos pais. Isso ainda é uma barreira para o acesso à saúde.

NS: Em termos de prevenção, o que pode ser feito?

JC: A gente tenta promover a prevenção combinada, que envolve não só o uso de preservativo, mas também o controle de uso de substâncias e a conscientização sobre a medicação pós-exposição, a PEP. Se alguém se expuser ao HIV ou tiver uma relação sexual de risco, por exemplo, nas primeiras 72 horas, pode recorrer à PEP para evitar a infecção. Além disso, existe a PrEP, que é uma medicação preventiva que, se tomada corretamente, impede a infecção.

NS: Quais são os desafios atuais da Gestos?

JC: O grande desafio é o financiamento. Nossa instituição depende de doações, e não há uma cultura forte de doação de indivíduos ou empresas aqui, diferente de outros países. Muitas vezes, conseguimos financiamento para ações políticas, mas é muito difícil garantir recursos para manter o atendimento diário, pagar aluguel, luz, e contratar profissionais. A lógica do financiamento precisa mudar porque, sem essa base, fica difícil manter a estrutura funcionando.

NS: Vocês também enfrentam desafios com a população que atendem?

JC: Sim. A gente lida muito com a população LGBTQIA+, especialmente mulheres trans, que estão envelhecendo. Isso, por si só, já é uma conquista, considerando que a expectativa de vida para elas no Brasil é de cerca de 35 anos. Temos um grupo de mulheres trans com mais de 50 anos que dependem de nosso apoio, tanto com cestas básicas, quanto com suporte psicológico. A realidade delas é muito difícil, e as condições de vida precárias tornam esse suporte essencial para a adesão ao tratamento.

Mulheres trans e travestis atendidas pela Gestos. Reprodução: Gestos.

NS: Como vocês veem o cenário político atual em relação às pautas de gênero e direitos humanos?

JC: A gente vê com muita preocupação o avanço do conservadorismo e do reacionarismo, não só na esfera pública, mas na sociedade como um todo. As eleições municipais mostraram isso, e estamos apreensivos com o que pode acontecer em 2026. A pauta de costumes, que não deveria ser a prioridade, está sendo imposta como se fosse a mais importante, enquanto a gente ainda enfrenta problemas enormes de pobreza, fome, educação e saúde.

Para obter mais informações sobre a atuação da Gestos e para realizar doações à ONG, acesse o site da instituição: https://gestos.org.br/

(Rafaela Eid, do Nota Social)

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