
As mudanças climáticas podem levar quase 160 milhões de mulheres e meninas à pobreza extrema até 2050, de acordo com o relatório Gender Snapshot 2025, da ONU, publicado no último dia 15 de setembro. Em outro momento, a ONU também já havia divulgado outro dado alarmante: 80% das pessoas deslocadas por desastres naturais e mudanças climáticas são mulheres e meninas.
Apesar de serem as mais impactadas pela crise do clima, e estarem na linha de frente das ações de cuidado com o território, a despeito de serem as menos responsáveis por esse cenário, as mulheres ainda são minoria nos espaços de decisão globais. Com a proximidade da COP30, vale lembrar que dados do Painel de Gênero da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) mostram que a presença feminina nas delegações nacionais nas Conferências do Clima segue desigual: em média, apenas 30% a 35% dos representantes são mulheres.
“O cenário só não está pior justamente pela defesa das mulheres, que estão protegendo a casa comum, mesmo que muitas vezes ameaçadas e mortas por essa luta, ou exterminadas com a perda de seus direitos”, observa Bárbara Ramos, quilombola, escritora, pedagoga e integrante da coordenação da Articulação Nacional das Pescadoras (ANP).
Ela vive em Graciosa, no município de Taperoá (BA), e ressalta como as mulheres negras e periféricas são ainda mais impactadas por essa realidade. “Mulheres de Axé, que não conseguem livremente mais acessar as águas, que hoje também têm cercas, entre outras perversidades, nossas guardiãs vêm sofrendo nos nossos territórios.”
Em julho, durante o Simpósio Global 2025 sobre Justiça Climática e Populações Impactadas, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Governo do Brasil lançaram um documento conclamando os governos a colocarem a igualdade de gênero e a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos no centro da resposta global à crise climática.
Entre as demandas apresentadas, estão mais financiamento climático direcionado a mulheres e meninas; e investimento em dados e evidências para orientar ações climáticas com enfoque de gênero.
“A crise climática está instalada por conta de muita ganância humana, não é culpa de um fenômeno da ‘natural’. É preciso reconhecer essa responsabilidade para repará-la”, defende Bárbara Ramos. Para ela, o setor privado precisa ter consciência climática desde o primeiro momento em que se instala em um território. “É sobre pensar que agora quem vai sofrer são as mulheres pretas, mas daqui a pouco não vai ser possível nem a quem tem dinheiro ir morar na lua. É preciso pensar no futuro e investir nas mulheres que lutam pelos territórios.”
A ativista lembra que a justiça climática é um eixo central do projeto de sociedade defendido pelo movimento de mulheres negras, fundamentado nos princípios do Bem Viver. Nesse horizonte, a pauta vem sendo discutida no âmbito da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver. Para Bárbara, apoiar a Marcha significa apoiar esse projeto coletivo.
“Temos pouco apoio, estão faltando recursos de alimentação, transporte. O investimento privado deveria contribuir. Muitas de nós estamos sofrendo com o que a gente não causou. Mas, estamos defendendo o território, a vida, e o Bem Viver.”
Fonte: GIFE
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