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Esmeralda Bahia, 48 anos, vive na região metropolitana de Belém. Artesã, pedagoga e defensora da agricultura familiar, ela se dedica há 20 anos à produção de açaí. Bem longe do Pará, no outro extremo do Brasil (no Rio Grande do Sul), Tereza de Jesus, 49 anos, quilombola da cidade gaúcha de Canguçu, lidera um coletivo estadual de mulheres quilombolas. O que elas têm em comum? Atuam, de forma voluntária, em projetos de enfrentamento às mudanças climáticas em suas regiões, a partir do laço da resiliência, que se mantém firme no dia a dia dessas duas líderes.
Mais do que isso, Esmeralda e Tereza trabalham para enfrentar um problema ainda maior, destacado em vários momentos da recente Conferência Mundial do Clima, a COP 30: as mulheres estão entre as mais afetadas pelos desastres causada por eventos extremos, como enchentes, secas e ondas de calor.
Segundo a ONU Mulheres, até 2050, as mudanças climáticas podem levar até 158 milhões de mulheres e meninas à pobreza e 236 milhões à fome, impactando desproporcionalmente países do Sul Global, como o Brasil. Quando se trata desses eventos, 80% das pessoas deslocadas nessas situações são mulheres. Além disso, crianças e mulheres têm 14 vezes mais chances de morrer em desastres agravados pelo clima.
O açaí, em Belém, gera renda para Esmeralda e outras mulheres que buscam na sustentabilidade ambiental sua independência financeira. Ela atua voluntariamente na Associação Natureza e Arte, ao lado dos pais, que lhe ensinaram a importância de preservar a natureza. “Cuidar do nosso território é cuidar para as espécies e gerações futuras”, comenta Esmeralda, destacando o valor de ajudar a preservar a qualidade do ar e a oferecer alimentos sem agrotóxicos para a população local, garantindo a saúde de todos.

Mas o caminho não é fácil. A família de Esmeralda enfrenta perdas de produção de açaí devido a eventos climáticos, falta de infraestrutura e problemas logísticos, como o desaparecimento da rabeta utilizada para transporte. A escassez de água potável e a proliferação de doenças, como a dengue, aumentam os desafios na região.
Ainda assim, a paixão de Esmeralda pela terra e seu compromisso com a sustentabilidade se mantém inabalável. “Enquanto eu viver, desejo cuidar deste planeta com amor. Nosso trabalho é amor pela vida, e quero deixar um legado para a minha família”, afirma.
Por sua vez, Tereza enfrenta as mudanças climáticas e os riscos ambientais no Rio Grande do Sul, onde existem 16 comunidades quilombolas. Ela trabalha articulando preservação de recursos naturais, fortalecimento de redes locais e transmissão de saberes ancestrais (dos quilombos) para as novas gerações.
Com voz firme, mas serena, a líder quilombola narra os desafios enfrentados por sua comunidade diante de inundações na região em maio de 2024, quando o estado enfrentou o pior desastre climático de sua história, deslocando mais de 500.000 pessoas.
Tereza ressalta a importância do diálogo entre comunidade, órgãos de gestão de risco e sociedade civil. “Aprender sobre resiliência climática não é só para me proteger, é para proteger todas as nossas casas, nossos rios, nossos saberes”, diz. Durante as enchentes, ela conseguiu ajuda externa: doação de 18 mil cestas básicas, que distribuiu durante três meses de viagens pelo estado. “Eu via na mídia as capitais, mas não via o meu povo. Da onde eu venho, a ajuda demora a chegar”, desabafa.

Por suas atuações, Esmeralda e Tereza participaram de encontros do programa Mulheres Pela Resiliência Climática, da organização ecofeminista EmpoderaClima.
O programa realizou workshops de capacitação em resiliência climática nas cidades de Belém, Porto Alegre e Recife — locais que, mais do que pontos no mapa, simbolizam a vulnerabilidade diante das crises climáticas.
O Mulheres Pela Resiliência Climática é resultado do Prêmio Beautiful Forces da Vital Voices (da ONG de Hilary Clinton), e encontrou terreno fértil para cultivar liderança feminina, justiça de gênero e fortalecimento comunitário.
A EmpoderaClima foi única organização brasileira premiada e utilizou o recurso da premiação para realizar três workshops de capacitação, com a meta de formar mulheres de diferentes territórios e histórias (indígenas, negras, periféricas, LGBTQIA+ e mães solo), capazes de enfrentar as emergências climáticas a partir da base.
As atividades incluem rodas de conversa, dinâmicas, oficinas práticas e discussões sobre políticas públicas e defesa civil, e contam com participação de autoridades locais, especialistas em clima e gênero, líderes comunitárias e beneficiadas com bolsas-auxílio.
A ideia é que estratégias de enfrentamento às crises climáticas sejam integradas, inclusivas e eficientes. Foram cerca de 100 mulheres capacitadas, abordando gênero, justiça climática, gestão de riscos, resiliência comunitária e autocuidado. Nos próximos meses, o programa vai gerar uma base de dados online.
Iniciativas como essa se mostram ainda mais importantes em ano de COP30, na qual, inclusive, o Ministério das Mulheres anunciou o novo Protocolo de Proteção às mulheres em emergência climática, iniciativa inédita dada a gravidade da questão. As diretrizes têm seis eixos centrais: produção de dados desagregados por gênero, raça, etnia, idade e deficiência; prevenção e eliminação da violência de gênero em contextos de crise; garantia de abrigos seguros, acesso à saúde, direitos sexuais e reprodutivos e apoio psicológico; fortalecimento da liderança feminina nos espaços de governança climática.
O ministério explicou que o protocolo, atualmente em elaboração, vai passar por processo de validação e consulta pública antes de sua publicação final. Segundo a ministra Márcia Lopes, as mulheres “não são apenas as mais afetadas pela crise climática, mas também guardiãs de soluções inovadoras e sustentáveis”.
Em tempos de tantas emergências ambientais e desigualdade social, a mudança pode começar de baixo, mas atingir horizontes cada vez mais amplos — e são as mulheres que carregam o protagonismo dessa transformação.
(Fernanda Lagoeiro para o ONG News)
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