O mês de junho é especial para a comunidade LGBTQIA+ e para todas as pessoas que apoiam a diversidade e a inclusão. Neste mês, celebramos o Orgulho LGBTQIAP+, um momento para refletir sobre as conquistas, os desafios e, acima de tudo, a força das pessoas que compõem esta comunidade.
Além de ser um período de celebração, junho também é um mês de luta e coragem e no Brasil, é preciso ter muita coragem para ser uma pessoa LGBT. Segundo o Dossiê elaborado pelo Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil, formado pelas organizações a Acontece Arte e Política LGBTI+, ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais e a ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos, a cada 38 horas morre uma pessoa LGBT no Brasil e em 2023 foram registradas 230 mortes, sendo 184 assassinatos.
Sendo assim, esse dado é um chamado urgente para a ação, para podermos promover e cobrar políticas públicas de proteção e ampliação dos direitos da população LGBT, porque o que deveria ser um espaço de proteção muitas vezes se torna a primeira experiência de opressão para muitas pessoas LGBT, que enfrentam preconceito e rejeição em seus próprios lares.
Não basta que a aceitação venha apenas da comunidade LGBT; é preciso que toda a sociedade reconheça que essas pessoas merecem respeito, acolhimento e dignidade, sendo o apoio familiar e comunitário fatores fundamentais para o bem-estar e a saúde mental dessas pessoas.
Lembrando que, para uma sociedade menos preconceituosa, é fundamental haver cada vez mais representatividade em todos os espaços. As pessoas LGBT têm o direito de viver e ser quem são em qualquer lugar.
Dentro deste espírito, a campanha “Orgulho de Ser” surge como uma iniciativa para dar voz e visibilidade às histórias únicas de pessoas LGBTQIAP+, promovendo a aceitação, o respeito e a inclusão em nossa sociedade.
A Campanha “Orgulho de Ser”
A campanha “Orgulho de Ser”, promovida no mês de junho pela Nossa Causa, celebra a diversidade e as experiências pessoais de pessoas LGBTQIAP+. Ao compartilhar suas histórias, reafirmamos que toda pessoa tem o direito de ser quem é, sem medo de discriminação. As narrativas de coragem e resiliência apresentadas são testemunhos de força e autenticidade, mostrando que o orgulho de ser verdadeiro consigo mesmo é a maior força de todas.
Queremos aumentar a visibilidade das histórias e experiências da comunidade LGBTQIAP+. Cada relato compartilhado destaca a diversidade e complexidade das vivências, propagando vozes que merecem ser ouvidas e respeitadas.
Ao declarar nosso “Orgulho de Ser”, inspiramos tanto pessoas dentro quanto fora da comunidade LGBTQIAP+, educando sobre a importância da aceitação e do respeito. Nosso objetivo é inspirar todas as pessoas a abraçar sua verdadeira identidade e a lutar por um mundo mais inclusivo.
Criar um espaço acolhedor e inclusivo foi fundamental para o desenvolvimento da campanha. Ao incentivar a troca de histórias e experiências, promovemos um ambiente onde todos se sintam bem, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual.
Cada história é um lembrete da importância de continuarmos a lutar por um mundo ondepossamos viver livremente e sem medo do ódio e da discriminação.
Conheça quem tem “Orgulho de Ser”
Ao longo de junho, a campanha “Orgulho de Ser” compartilhou diversos depoimentos que capturam a essência da diversidade e da autenticidade. A seguir, confira o relato completo dessas pessoas.
Orgulho de ser Lésbica – Daiany França Saldanha
Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao longo dessa jornada?
Daiany – Primeiramente me aceitar e entender que minha forma de amar não é pecado. Depois, a aceitação da minha mãe, que até hoje é uma questão, tem sido um desafio contínuo.
Pode compartilhar um momento significativo que marcou sua trajetória dentro da comunidade LGBTQIA+?
Daiany – A recente oficialização da minha união estável com a Carolina. Para nós, é um ato de amor e também um ato político.
Quem foram as pessoas ou redes de apoio que mais te ajudaram ao longo do caminho?
Daiany – Meu amigo Fábio, da época da faculdade, minha irmã Manuella, que nunca me julgou e sempre me acolheu, amigas e amigos do arco-íris que foram chegando ao longo do tempo, e, mais recentemente, minha avó, que tem quase 80 anos, e minhas tias. Só de sentir o amor e apoio delas, vê-las vibrando com a minha felicidade, é profundamente significativo e emocionante. E, de forma fundamental, minha psicóloga Marilia. 🙂
O que você gostaria de ver mais nas campanhas de visibilidade e apoio à comunidade LGBTQIA+?
Daiany – Gostaria de ver campanhas de visibilidade e apoio à comunidade LGBTQIA+ o ano todo e não somente em julho. Também gostaria de ver menos campanhas “pinkwashing”, em que as marcas e organizações fazem uso superficial de símbolos LGBTQIA+ sem um compromisso real com a causa. Por fim, seria ótimo ver mais iniciativas que promovam a educação e a conscientização, abordem questões de saúde mental, segurança e diversidade no ambiente de trabalho, especialmente no terceiro setor, e apoiem políticas públicas que protejam os direitos da nossa comunidade.
Orgulho de ser Queer – Fernanda Ogasawara
Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao longo dessa jornada?
Fernanda – O principal desafio foi a ansiedade e a criação de cenários dentro da minha própria cabeça até conseguir “enfrentar o mundo”. Esse turbilhão de pensamentos e de antecipação é exaustivo e tem tantas camadas! Desde o preconceito externo, da sociedade, até o entendimento interno a um nível consciente de tudo que se está pensando e sentindo. A terapia aqui foi uma grande aliada 🙂
Quem foram as pessoas ou redes de apoio que mais te ajudaram ao longo do caminho?
Fernanda – As pessoas e rede de apoio que mais me ajudaram foram justo as pessoas que sempre tive ao meu lado. O que faltou na época foi realmente acreditar nessas redes para trocar ideias e serem aliadas no processo. Hoje vejo muito a sorte que tenho nas pessoas que estão próximas a mim. Toda a movimentação de redes sociais e de redes mesmo (no sentido de comunidade) também foram e são muito importantes porque além de ajudar a nomear sentimentos, conseguem justo refletir o senso de comunidade e que ninguém está sozinho.
Quais recursos ou suportes você acredita que são mais importantes para jovens LGBTQIA+ em processo de aceitação?
Fernanda – As realidades acabam sendo muito diferentes, né – tanto de consciência, quanto de renda e entendo que os mesmos recursos e suportes podem não serem importantes ou úteis para cada contexto. Nesse sentido, acho que fui muito privilegiada de ter tempo para refletir, economias para caso algo acontecesse em termos de eu ter que me sustentar financeiramente e acesso à informação e rede. No geral, acredito que conversar, normalizar e, principalmente, dar (ou criar) espaços para que essas conversas aconteçam quando for o tempo certo para cada pessoa é importante.
O que significa para você ter orgulho de ser quem você é?
Fernanda – No final, acho que significa não se importar muito com o que outras pessoas (aleatórias) pensam hahaha além de ter a autoconsciência de que ninguém é melhor em ser você do que você.
Na sua opinião, qual a importância da visibilidade LGBTQIA+ em campanhas como esta?
Fernanda – Acredito que é realmente dar visibilidade ao assunto. Tanto para pessoas que precisam de apoio quanto para pessoas que se sentem incomodadas com que “tanto se fala agora em dia sobre esse assunto”. Esse incômodo faz parte e é necessário para conquista e rebalanceamento de espaços na sociedade. Acho que também para quem é da comunidade, refletir justo sobre essa pergunta (como estou fazendo agora) também é importante!
Como você vê o futuro da comunidade LGBTQIA+ em termos de direitos e reconhecimento?
Fernanda – Cada vez mais fortalecida e reconhecida 🙂
Orgulho de ser Gay – Kleber Matias de Oliveira
Como foi o seu processo de aceitação e descoberta da sua identidade?
Kleber – Cheio de dúvidas, medos, conflitos internos sobre a minha personalidade. Porém, o medo de não ser aceito e o medo de não ter apoio dos que amamos é o que mais prevalece. Quando eu descobri que era abraçado por minha família ficou mais leve, mais fácil, existe um ombro.
Pode compartilhar um momento significativo que marcou sua trajetória dentro da comunidade LGBTQIAP+?
Kleber – Quando tivemos garantido o direito da união estável. Ter que lutar por um direito básico é humilhante, invasivo, cruel e completamente pré-histórico. Quando a garantia virou lei, deu um sabor de vitória.
Pode nos contar uma história onde sua identidade foi um ponto de força e resiliência?
Kleber – Participando de uma entrevista de emprego ouvi claramente quando o gerente disse “Viadinho Kleber né?”. Levantei, olhei pra ele e disse: “O vidadinho está indo embora.” E só me orgulho mais.
Como você acha que podemos promover melhor a inclusão e aceitação na sociedade?
Kleber – Respeito, empatia, responsabilidade social e afetiva com aquele indivíduo.
Quais são seus sonhos e aspirações para o futuro?
Kleber – Construir uma família. Sempre sonhei em ser pai de um guri. Preparar um adulto não deve ser fácil, mas deve ser um privilégio instruir alguém para ser um adulto mais consciente e responsável.
Que mensagem você gostaria de deixar para outras pessoas que estão passando por um processo semelhante ao seu?
Kleber – Resista ao mundo lá fora e foque no privilégio de ser você. Você é incrível!
Como você vê o futuro da comunidade LGBTQIAP+ em termos de direito e reconhecimento?
Kleber – Com mais direitos, mais representantes políticos, mais respeito e aceitação social, dignidade e liberdade.
O que o mês do orgulho significa para você?
Kleber – Mês de ser viado <3 Liberdade e respeito.
Orgulho de ser Lésbica – Marília Nepomuceno
Como foi o seu processo de aceitação e descoberta da sua identidade?
Marília – Foi de dentro para fora. Desde criança eu já sabia que eu era “diferente”. Mas segui a pré-adolescência e adolescência dentro do “padrão esperado”. Apenas quando entrei na faculdade, com 20 anos, e comecei a ter contato com pessoas de vários lugares do país e com experiências de vida diferentes, é que comecei a observar com mais cuidado a minha sexualidade. Me aceitar foi um alívio. O mais difícil foi lidar com a expectativa não atendida dos meus pais. Ainda hoje, minha relação com o meu pai não é plena e ele não conhece a minha esposa (estamos juntas faz 6 anos).
Quem foram as pessoas ou redes de apoio que mais te ajudaram ao longo do caminho?
Marília – Meus amigos próximos, primos e primas que já tinham passado ou estavam passando pelo processo de descoberta e também meus colegas de treino de Arte Marcial.
Como você lida com a discriminação e o preconceito no dia a dia?
Marília – Num primeiro momento, com um sorriso amarelo. Num segundo momento, após sorrir, com um enfrentamento mais indireto. Seja pelo meu tom de voz ou postura corporal. Antes eu ignorava, hoje faço questão de deixar claro que compreendi o contexto subliminar da situação.
O que você gostaria de ver mais nas campanhas de visibilidade e apoio à comunidade LGBTQIA+?
Marília – Creio que uma explicação mais didática sobre o espectro amplo que envolve a sexualidade do ser humano.
Que mensagem você gostaria de deixar para outras pessoas que estão passando por um processo semelhante ao seu?
Marília – Se juntem aos seus. Procurem redes de apoio LGBTQIA+ (pode ser desde um amigo a uma instituição formalizada). Estar na escuridão do “papel social esperado” é um milhão de vezes mais doloroso do que passar pelos percalços de poder ser quem você é. Olhando para trás, hoje consigo enxergar isto
O que o mês do orgulho significa para você?
Marília – Um mês de resistência. Um mês de disseminar a maior quantidade de informação possível. De se fazer enxergar. De bater o pé e deixar claro que estamos aqui para agregar ao mundo com a nossa essência, assim como qualquer outro ser humano, e não é demérito nenhum esta essência estar impregnada com as cores do arco-íris.
Que mensagem você gostaria de deixar para outras pessoas que estão passando por um processo semelhante ao seu?
Marília – Se juntem aos seus. Procurem redes de apoio LGBTQIA+ (pode ser desde um amigo a uma instituição formalizada). Estar na escuridão do “papel social esperado” é um milhão de vezes mais doloroso do que passar pelos percalços de poder ser quem você é. Olhando para trás, hoje consigo enxergar isto.
Orgulho de ser Trans – Pedro Sampaio
Como você acha que as suas experiências podem inspirar outras pessoas dentro e fora da comunidade LGBTQIA+?
Pedro – Acredito que minha história e minha atuação na TREE, pode mostrar que é possível superar desafios e encontrar um lugar onde você pode ser autêntico e aceito(a). Acredito que, ao compartilhar minhas experiências e conhecimentos sobre a comunidade LGBTI+ outras pessoas se sintam encorajadas a viver suas verdades e, ao mesmo tempo, pessoas que não fazem parte da comunidade LGBTI+, possam se sensibilizar, criando assim um ambiente mais seguro e inclusivo.
O que significa para você ter orgulho de ser quem você é?
Pedro – É celebrar minha jornada e as conquistas ao longo do caminho, e também lutar para que outras pessoas não precisem lutar pra serem quem são!
Como você lida com a discriminação e o preconceito no dia a dia?
Pedro – Como consultor de DE&I, uso minha voz e minha posição na TREE para educar e sensibilizar as pessoas, proporcionando um ambiente mais seguro e inclusivo.
Na sua opinião, qual a importância da visibilidade LGBTQIA+ em campanhas como esta?
Pedro – A visibilidade LGBTQIA+ é crucial para aumentar a conscientização, combater estereótipos e promover ambientes mais seguros e inclusivos. Campanhas como esta ajudam a mostrar a diversidade dentro da comunidade e a necessidade de respeito e inclusão, inspirando mudanças positivas na sociedade.
Como você acha que podemos promover melhor a inclusão e aceitação na sociedade?
Pedro – Promover inclusão e aceitação envolve educação contínua, políticas inclusivas e representatividade nas mídias e nas organizações. É necessário criar espaços seguros onde todas as pessoas possam ser quem são sem medo de discriminação. Além disso, é fundamental pessoas aliadas que se posicionem e apoiem a causa.
Quais são os seus sonhos e aspirações para o futuro?
Pedro – Meu sonho é ver um mundo onde todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual, possam viver autenticamente e sem medo de discriminação. Profissionalmente, quero continuar meu trabalho na TREE Diversidade, expandindo nosso alcance e impacto, e contribuindo para a criação de ambientes verdadeiramente inclusivos.
O que o mês do orgulho significa para você?
Pedro – O mês do orgulho é uma celebração da nossa diversidade, resistência e conquistas. É um momento de refletir sobre o quanto já avançamos e de reafirmar nosso compromisso com a luta por um futuro mais justo e inclusivo para todas as pessoas.
Orgulho de ser Bi – Thaffany Hladczuk
Como foi o seu processo de aceitação e descoberta da sua identidade?
Thaffany – Foi bem confuso, pois comecei a sentir atração por mulheres aos 26 anos, estando em um relacionamento hétero bem longo. Mas dois anos depois disso comecei a me relacionar com mulheres, e entendi que eu realmente era bissexual. A parte “fácil” é que eu já tinha informações, referências e autoconhecimento suficiente para me aceitar e me acolher da melhor forma possível.
Quem foram as pessoas ou redes de apoio que mais te ajudaram ao longo do caminho?
Thaffany – Minha psicóloga, amigas e minha mãe. Sem elas, o caminho teria sido muito mais difícil e lento.
Como você lida com a discriminação e o preconceito no dia a dia?
Thaffany:
Pode nos contar uma história onde sua identidade foi um ponto de força e resiliência?
Thaffany – Sou a única pessoa LGBTQIA+ da minha família (pelo menos até onde sei, rs) e acho que esse fato trouxe muito mais luz para esse assunto, fazendo com que meus familiares refletissem e respeitassem mais as minhas escolhas e vivências. Além disso, todos me acolheram muitíssimo bem desde que me assumi.
Que mensagem você gostaria de deixar para outras pessoas que estão passando por um processo semelhante ao seu?
Thaffany – Tentar não se apegar a idade, religião, crenças ou questões familiares em que foi inserida e focar no próprio autoconhecimento (através de muita terapia e rede de apoio, se possível). Só a pessoa sabe o que sente, o que deseja e o que faz seu coração pulsar. A decisão de como viver é – ou deveria ser – individual e intransferível para qualquer outra pessoa.
Tenha orgulho você também!
A campanha “Orgulho de Ser” é um convite para refletirmos sobre a importância da diversidade e da inclusão. Ao celebrar a autenticidade e a força das histórias de vida das pessoas LGBTQIAP+, promovemos um mundo mais acolhedor e respeitoso.
Que este mês do Orgulho nos inspire a sermos verdadeiras e verdadeiros consigo mesmos e a apoiar a luta por um futuro onde todes possam viver com dignidade e respeito.
Junte-se à campanha e compartilhe sua história com a #OrgulhodeSer. Cada voz é essencial na construção de um futuro que possamos nos orgulhar.